terça-feira, 15 de março de 2011

A força de um estereótipo


Uma voz fina que não combina com seus 105 quilos, 1,89 m de altura e o cinturão de campeão mundial do UFC, principal torneio de MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas, o antigo vale-tudo).

Com seu jeito de ser, o lutador Anderson Silva tem contribuído para quebrar estereótipos. Além da voz fina, ele cumprimenta todo mundo com a expressão “meu gato”, mantém no banheiro um estoque de cosméticos e frequenta clínica de estética.

O feito que o colocou em destaque na mídia foi ter vencido, em menos de três minutos, o rival Vitor Belfort com um chute de esquerda no queixo. O combate, anunciado como “luta do século”, aconteceu no dia 5 do mês passado, em Las Vegas (EUA).

A força de um estereótipo é tão grande que não atingimos sua total consciência. Recentemente me vi caindo em suas armadilhas. Em uma aula de inglês, eu tinha que identificar na fala de um jovem se ele lutava boxe por ter um temperamento agressivo. Um exercício de ouvir. A voz do rapaz me pareceu titubeante e eu saí com essa: “ele não tem voz de lutador”, sentenciei meio na brincadeira. E o risco mora justamente no humor que traveste o “pré” conceito. Uma amiga de sala me corrigiu lembrando que a voz fina de Anderson Silva não indicava o grande lutador que ele é. Meus planos de falar sobre ele em uma coluna se fortificaram.

A palavra estereótipo vem do grego: “stereos” e “typos”, que compõem “impressão sólida”. Trata-se de uma imagem preconcebida de uma pessoa, coisa ou situação. Essa impressão acaba limitando as infinitas possibilidades de expressão de tal situação, coisa ou pessoa. Sua aceitação, no entanto, é ampla e geralmente provoca discriminação. O que complica ainda mais é que o estereótipo é muito difundido através do humor, as famosas piadinhas “inocentes” que manifestam racismo, homofobia, xenofobia, machismo e intolerância religiosa.

O preconceito e a discriminação podem ser praticados particularmente pelos indivíduos, mas acabam por alcançar o status de uma norma social e ganham uma prática institucionalizada. Tais atitudes associam crenças e sentimentos e, por isso, constituem uma força psicológica de enorme potencial. São vivências históricas e socioculturais que geram afetividades e ações em nosso dia a dia. No entanto, muitas vezes não percebemos que contribuímos para fortalecê-la ainda mais com comportamentos que a princípio são inofensivos. Vamos dar um chute no queixo do estereótipo. Avoa preconceito!