segunda-feira, 29 de março de 2010

Preconceito no futebol




Um dos ambientes mais preconceituosos no Brasil também é um dos espaços mais queridos dos brasileiros: o mundo do futebol. E o assunto preconceito no mundo do futebol tem ganhado a mídia com certa frequência. Recentemente foi o ex-jogador Raí quem comentou o respeito. Ele disse conhecer casos de jogadores vítimas de discriminação por saírem do armário. Chamou de “hipocrisia” a homofobia nos gramados e afirmou torcer para que sociedade, dirigentes de clubes e torcidas mudem de postura.
No entanto, esta mudança não deverá ser fácil. O preconceito domina o planeta. Da Alemanha vem o caso do empresário de jogadores e ex-técnico Rudi Assauer, que deixou clara sua aversão a homossexuais no futebol. Ele disse: "Talvez os gays tenham lugar em outros esportes. No futebol, não". Assauer foi além em sua intolerância afirmando que demitiria um jogador caso ele saísse do armário. "Eu diria: 'você foi corajoso', mas o despediria em seguida". Na verdade, o ex-técnico já expulsou de sua equipe um colaborador gay. Foi quando ele dirigia o Werder Bremen e um dos massagistas revelou sua homossexualidade. "Fui falar com ele e disse: 'Filho, me faça um favor e arrume outro emprego'". Na Itália, o técnico da seleção Marcelo Lippi também expôs seu preconceito ao falar o que pensa sobre homossexualidade e futebol. "Acredito que entre os jogadores não há gays. Em 40 anos de carreira nunca conheci um e nunca ouvi falar. Pode existir alguém que tenha tendências (homossexuais), mas não manifesta publicamente", disse.
No Brasil, Richarlyson tem sofrido a maior perseguição homofóbica do futebol nacional. Nem importa se ele é ou não homossexual. O jogador foi ameaçado de morte e, mesmo ouvindo milhares de vozes gritando ofensas no campo, tem entrado de cabeça erguida e feito seu trabalho.
Os dirigentes do clube, o São Paulo, estão dando aula de profissionalismo: "Não há situação nenhuma envolvendo o Richarlyson. O clube é dirigido de dentro para fora, a gente não resolve nada porque disseram algo na internet", afirmou Marco Aurélio Cunha, dirigente de futebol do clube. "Não temos de pedir nada. O Richarlyson e os demais têm de cumprir seus deveres de atleta, só isso." Disse ainda que "o São Paulo o respeita e o considera". Tá meu bem!

(Curiosidade: esta interjeição de espanto que encerra o artigo foi popularizada no mundo gay pela drag Dimmy Kieer, o Dicesar do BBB10).


Na foto, Richarlyson.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O BBB da diversidade?

A atual edição do BBB (Big Brother Brasil, Rede Globo) começou sendo chamada por alguns como o “BBB da diversidade”. Afinal, trouxe a novidade de incluir três homossexuais assumidos: dois masculinos e um feminino.
Sem dúvida, o fato contribui para tornar o tema homossexualidade mais próximo do público em geral e para desmistificar algumas coisas. Apesar das aparências, no entanto, muito ainda tem que mudar até que o preconceito seja realmente extirpado e a diversidade aceita.
Senão, vejamos. A casa incluiu uma drag queen (Dimmy Kieer) e um gay extremamente efeminado. No primeiro caso, ponto positivo para a oportunidade de mostrar que a drag queen não é nenhum ser de outro mundo, mas alguém que pode ganhar a simpatia de muita gente e concorrer com igualdade ao prêmio de R$ 1,5 milhão. Tem até um nome: Dicésar.
No caso do Serginho, o gay extremamente feminino, a coisa muda um pouco de figura. São no mínimo curiosas manifestações, de pessoas que se denominam heterossexuais, de que o rapaz merece levar uns tapas porque “pensa que é mulher”. É mais difícil aceitá-lo. Ele subverte a ordem. Sai de seu lugar de homem e exalta os trejeitos femininos. Muitas vezes, é mais delicado que as próprias mulheres.
O gay efeminado e a drag queen compõem o imaginário do público em geral do que é ser gay. Muita gente acha ainda que todo homossexual gosta de se vestir de mulher. Outras tantas relacionam a fragilidade à homossexualidade. Ambos são tratados como ridículo e levam ao escracho. Mesmo escracho do selinho dado entre Dicésar e Serginho. Volto a ressaltar a importância de expor estas nuances, mas parece que a sociedade está longe de realmente ver com naturalidade o amor entre dois homens e/ou duas mulheres. Algo fora do caricato. Os dois gays masculinos não vão protagonizar um beijo gay romântico, por exemplo. Nem entre eles, nem com qualquer outro brother. Ainda falta um gay fora do estereótipo. O ex-BBB Jean Wyllys era o gay intelectual e estava sozinho na casa. Cumpriu seu papel sendo o primeiro homossexual a se assumir em rede nacional. O médico Marcelo se autodenominava bissexual e preferiu ficar no lado cômodo e aceito de sua sexualidade, dizendo-se interessado por uma sister.
Recaiam sobre a lésbica Angélica as chances de protagonizar uma mudança mais profunda. No entanto, ela acabou sendo eliminada. Morango foge do estereótipo de “sapatão” e isso foi muito bom para mostrar que existem outras cores entre os coloridos. O ideal mesmo é que não houvesse divisão em tribos. Quem sabe numa próxima edição...