sábado, 24 de março de 2012

A cura gay e os psicólogos



Polêmica envolve a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), os psicólogos, os religiosos e o Legislativo. O deputado João Campos (PSDB-GO), representante da bancada evangélica no Congresso Nacional, quer suspender artigos da Resolução 01/99 do CFP (Conselho Federal de Psicologia) que regulamenta a ação de psicólogos nas questões de orientação sexual.

Na prática, o parlamentar pretende que psicólogos possam agir na “cura gay”. E é aí que o caldo entorna.

O Conselho Federal de Psicologia extrapolou seu poder regulamentar, restringindo o trabalho dos psicólogos e o direito da pessoa de receber orientação profissional? Os pais têm o direito de mandar seus filhos para redirecionamento sexual?
 
O presidente do CFP, Humberto Verona, e a presidenta do CRP SP (Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo), Carla Biancha Angelucci, reafirmaram a laicidade (divisão bem definida entre sociedade civil e religiões) da psicologia. Em artigo publicado no início do mês no jornal Folha de S. Paulo, dizem: “ao associar o atendimento à pretensa cura de algo que não é doença, entende-se que o psicólogo contribui para o fomento de preconceitos e para a exclusão de uma parcela significativa de nossa população”.

É justo deixar alguém em conflito sem ajuda psicológica? O que leva um gay a procurar tratamento? Um hétero busca transformação porque quer curar-se da heterossexualidade? Quanto sofre um garoto que é mandado ao psicólogo porque precisa “tomar jeito” para não “virar gay”, porque fala com “voz de veado” ou vive na companhia das meninas?

Os representantes dos psicólogos questionam se o projeto do deputado pode interferir na autonomia do conselho da categoria. Na Resolução 01/99 estão normas éticas de combate à intolerância. Vale terminar este texto de hoje reproduzindo os artigos que tratam do assunto:

"Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.
Art. 3° - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".

domingo, 4 de março de 2012

Woof! A vez dos ursos


“Woof” é a saudação usada pelos chamados ursos: homens gays ou bissexuais com  barba ou cavanhaque, peludos e corpulentos. Sim, a referência ao animal não é à toa.  O urso é grande e poderoso.

Mais um rótulo entre os rótulos, se por um lado este grupo emergente entre os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) liberta seus integrantes da ditadura dos corpos magros e definidos, por outro reforça preconceito contra os afeminados.

É que os ursos “surgiram” na década de 1980 em São Francisco a partir da vivência de  gays que não se identificavam com o estereótipo “twink” (jovem e sem pelos). De subgrupos como o de motociclistas, de adeptos do couro, de comunidades de obesos, e, por outro lado, de trabalhadores rurais, os lenhadores do imaginário homossexual.

Eles se espalharam pelo mundo através de clubes, espécie de redes sociais e sexuais que incluiam coroas e gordinhos. Ou seja, quebraram o preconceito contra pessoas de idade mais avançada e com quilos a mais.  

No entanto, alguns ursos dão tanta importância para a aparência forte e masculina que desdenham de homens menos másculos.

Os ursos seguem códigos e identidade bastante específicos. Tatuagens e piercing são comuns nos grupos ursinos. Suas características físicas e preferências, definem alguns “tipos”:   Polar Bear é o urso mais velho que tem cabelo e pelo corporal branco ou grisalho; Muscle Bear, o musculoso; Big Bear, um urso forte e alto; Black Bear, de pele negra; o jovem é chamado de Filhote ou Cub. Há também o Chaser ou Admirador, aquele que não é urso, mas se sente atraído por eles. E ainda o Pocket Bear, urso de pequena estatura;  e o Hirsute, com quantidade exagerada de pelo corporal. Os encontros de ursos são chamados de Bearcontro e o local é a Cave ou Den (carverna/gruta).

O ideal urso chegou ao Brasil no final da década de 1990. Só em São Paulo, hoje existem quatro grandes baladas dedicadas aos ursos. Além de inúmeros produtos e serviços exclusivos em todo o País.

Em termos musicais, geralmente são ecléticos, deixando um pouco de lado o famoso bate-estaca. Também não se preocupam tanto com roupas de marca. É claro que nada disso é regra. Apenas demonstra e comprova a diversidade. 

Em uma sociedade cada vez mais anabolizada ou obesa, os ursos ganham adeptos e não se encontram tão segregados quanto no início. Woof! Espera-se que eles não segreguem também.