domingo, 27 de maio de 2012

Deficiências




Sexualidade é um assunto que pode gerar muita polêmica. Aspecto extremamente pessoal de um indivíduo, pode-se dizer que é o traço mais íntimo de alguém. Portanto, muitas vezes incompreendido e desrespeitado pelo outro em sua expressão.

Agora imagine este tema aliado a outro assunto polêmico: deficiência. Temos um terreno fértil para preconceitos.

É incrível o quanto não nos colocamos minimamente no lugar das outras pessoas para conhecer suas capacidades e limitações. Por acaso sabemos como alguém com deficiência visual acessa a internet? Toda pessoa com deficiência auditiva aprende a ler? Não sabemos quase nada.

Principalmente no caso das pessoas com deficiência intelectual, a tendência é enxergá-las como seres assexuados. Anjos. Mas é claro que elas têm uma sexualidade, que em algum momento de suas vidas vai se manifestar com menos ou mais intensidade. Muitos pais não conseguem encarar esta realidade e isso pode gerar situações desagradáveis, como uma gravidez indesejada ou um caso de abuso sexual. Por falta de informação, ausência de diálogo.

São muitas as implicações, mas gostaria de abordar a questão do direito dessas pessoas também poderem viver sua orientação sexual além da heterossexualidade e da própria assexualidade. Sim, elas podem ser lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Precisamos respeitar seus desejos.

Ser deficiente não é fácil, imagine entre os gays, muitas vezes vulneráveis a este mundo que supervaloriza a aparência e a perfeição. Ser gay é difícil, imagine entre as pessoas com deficiência, muitas vezes vivendo a discriminação em dobro.

As pessoas com deficiência são exatamente iguais às outras, assim como os gays são exatamente iguais às outras pessoas. Sonham, sentem angústia, choram, riem.

Há um mundo de diferenças por aí e tanta coisa para fazer. Assegurar informação para tanta gente. Garantir seus direitos. Integrar e incluir. Por que todos temos nossas forças e fraquezas. São tantas variantes que em algum momento de nossas vidas estaremos enquadrados como “diferentes”.

De fato, nenhum de nós é igual, mas fazemos questão de apontar aquilo que de alguma forma nos é “estranho”. Não só apontar, mas colocar de lado, excluir. É mais fácil do que procurar saber, compreender ou respeitar. Somos incapazes muitas vezes até de tolerar. Nossa deficiência está em não se preocupar com o outro até nós mesmos enfrentarmos as mesmas dificuldades.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Beijo gay e estereótipos


Uma cena durante um teatro de rua me fez questionar se o tal do beijo gay já não está passando da hora na teledramaturgia brasileira.

A peça “Domdeandar”, da Cia. Teatral Manicômios (MG), foi encenada em algumas cidades da região de Araçatuba pelo Circuito Sesc de Artes na semana passada. No ápice, o personagem principal, que buscava “um amor para toda a vida”, finalmente encontra. Formam-se algumas duplas de atores, representando casais enamorados. E eis que surge um casal inusitado: dois homens caminham um para o encontro. Um misto de tensão e humor se espalha na plateia, um certo riso nervoso misturado a um apostar para ver. Alguns chegam a pedir pelo beijo. Ele acontece. Um pouco mais que um selinho. Aplaudido.

Tive oportunidade de presenciar a cena em Araçatuba e Birigui. A reação foi exatamente igual nas duas cidades. Sei que o público interessado em arte tem suas especificidades. Geralmente, é formado por pessoas mais tolerantes. Mas acho que podemos considerar também que a peça foi concebida como teatro de rua e a partir de pesquisas sobre a diversidade cultural de cidades do interior de Minas Gerais.

Assunto polêmico na Rede Globo, surgem matérias afirmando que agora o beijo sai. A orientação sexual do personagem Roni (Daniel Rocha) da novela das nove aos poucos é revelada. No entanto, personagens gays não são novidade na dramaturgia da telinha. Tornou-se meio que regra tê-los no enredo.

Na comunidade LGBT há quem reclame que os tipos retratados nas histórias geralmente são estereotipados. É o típico homossexual afeminado, caricato. Isso reforçaria uma ideia errada de que todos os gays masculinos se comportam assim.

Em “Avenida Brasil”, há a possibilidade de mostrar uma outra faceta: a homossexualidade no futebol. Um cenário machista, que realmente pode estimular reflexões importantes. Gays existem nas mais diversas profissões, com as mais diversas índoles. São bons, são maus. Bem sucedidos ou malsucedidos. Promíscuos ou celibatários. 

Já um beijo, sempre é um beijo. Manifestação de um sentimento. Expressão de uma  emoção.