quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vitória contra o preconceito


Abalou, abafou, arrasou ... a fala da personagem Catarina de A Favorita (Rede Globo) contra o preconceito. Não subestimo a força de uma novela. No capítulo do último dia 22, a atriz Lília Cabral deu um show! Fez um discurso em favor de Stela (Paula Burlamaqui), cujo restaurante foi esvaziado por ela ser homossexual. Catarina interrompeu uma reunião da associação de moradores da Prefeitura e soltou o verbo.
Stela seria um mau exemplo porque gosta de mulheres? Isso é um defeito? Um crime? Trair o marido ou a mulher, roubar, vender bebida alcoólica para criança, fazer fofoca, ... isso pode? Amar, se apaixonar por uma pessoa do mesmo sexo, ... isso não pode? Estes foram os questionamentos da personagem. Quem não viu, pode ver em http://br.youtube.com/watch?v=WuM9KmG9PEs.
Uma exposição franca do assunto, às claras, olho no olho. Como precisa ser, com respeito e responsabilidade. Esclarecendo e desmistificando. A própria atriz ressaltou em entrevista recente na Internet que nunca houve em novela uma cena de revelação da opção sexual como a de Stela. Delicada, suave. Contra o estigma da mulher masculinizada. A revelação aconteceu no dia 5 de novembro. O autor, João Emanuel Carneiro, continuou abordando o tema preconceito no decorrer da semana passada com maestria. O público, também segundo Lília Cabral, está atento à discussão, aceitando, respeitando. “Essa novela não está mostrando relacionamentos homossexuais, está discutindo o preconceito, e isso é mais importante”, disse.
A novela tem colocado também em discussão a homossexualidade vista como “doença”. Importantíssimo expor esse conceito que ainda paira na sociedade, devastar essa área pantanosa para que um dia ela possa desaparecer de vez.
O homossexualismo apareceu na CID (Classificação Internacional de Doenças) em 1948. Só em 1975 deixou de ser classificada como doença, porém ainda continua figurando como código com a orientação de ser usado seja ou não a homossexualidade considerada transtorno. A justificativa é de que alguns indivíduos ou seus responsáveis (caso de crianças ou adolescentes) procuram “curar” tal comportamento e isso precisa de uma classificação.
A Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais em 1990, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão". Psicólogos são orientados a não colaborar com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Está na hora de deixar esta idéia de doença para trás de uma vez por todas.

PS: Encontrei dias desses um panfleto abordando o tema Homofobia colado em um poste de Araçatuba. Pena que era anônimo. Mas valeu a iniciativa.

* Foto de banner de campanha do grupo Católicas pelo Direito de Decidir com o slogan “Por que o seu amor pode e o meu não?”.

O direito à religião

A República Federativa do Brasil é laica. O Estado - administração pública - não deve de forma alguma governar por meio de alguma crença religiosa. Ótimo que assim seja, para que nada possa ser imposto a ninguém nesta seara. Mas os cidadãos querem expressar de alguma forma sua espiritualidade através de uma religião.
A princípio, Religião e Homossexualidade parecem não combinar muito. A maioria das religiões se apresenta a favor do homossexual e contra o homossexualismo (termo em desuso por conta do sufixo “ismo”, que pode remeter a doença). E como fica o indivíduo que é homossexual, vive sua sexualidade, mas também quer praticar sua espiritualidade?
É claro que são inúmeras as pessoas que vivem parcialmente os dogmas, ritos e códigos morais da religião que escolheu. Homossexuais, bissexuais ou heterossexuais.
Deixemos de lado o tal Projeto de Lei da Câmara – PLC 122/2006, que define os crimes resultantes de preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero, chamado de Lei da Mordaça Gay por alguns setores religiosos (notadamente católicos e evangélicos), pois estaria instituindo superdireitos aos gays.
Acredito que ninguém em sã consciência defenderia o preconceito atualmente. Mas o que quero defender aqui é o direito de todo indivíduo à religião. Do latim “religio”, religar, ligar novamente, prestar culto a uma divindade. O conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como divino e transcendental bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.
Ninguém é obrigado a seguir esta ou aquela religião. Nem é de se esperar que as religiões mudem ao gosto dos pretensos fiéis.
É que espiritualidade é um estado de consciência. É reconhecer em si a Vida e a mesma Vida em tudo e em todos. Deve haver um jeito de conciliar as coisas: Homossexualidade e Religião. Alguns dirão que há e que tem gente até praticando. Existem casos de igrejas, mesmo evangélicas e católicas – ou dissidências delas –, onde gays expressam sua fé. Uso a palavra gay no sentido mesmo do homossexual assumido, que vive sua homossexualidade.
Conforme diz o Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: "Todos têm o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião”. Pena que algumas pessoas ainda vejam a homossexualidade como perversão e queiram restringir alguns direitos dos homossexuais. Não sou obrigado... (ou seja, tenho algo melhor para fazer).