terça-feira, 28 de julho de 2009

Mães lésbicas


Maternidade e homossexualidade são duas práticas incompatíveis? Adriana e Munira tentam provar que não e lutam para ter este direito legalmente reconhecido em nossa sociedade. São duas paulistanas que deram luz a um casal de gêmeos este ano. Adriana recebeu os óvulos de Munira, que se submeteu a uma inseminação artificial.
Elas querem registrar os filhos em seus nomes. Um caso inédito no Brasil que foi parar no programa da Ana Maria Braga. No mundo todo, também é raridade.
Pesquisa apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp aponta que as mulheres que articulam a maternidade com a homossexualidade tornam-se socialmente vulneráveis, visto que a sociedade considera as duas práticas como incompatíveis. Não raro, elas enfrentam uma série de pressões e se vêem forçadas até mesmo a renunciar à sexualidade ou à profissão para poder exercer o direito de educar seus filhos.
O trabalho foi apresentado pela cientista social Érica Renata de Souza. De acordo com ela, os movimentos homossexuais têm demonstrado cada vez mais organização em todo o mundo. Entre as reivindicações mais frequentes aparecem questões relativas à família, ao casamento e à filiação. Dessa forma, novas práticas sociais surgem à medida que ocorre a associação entre a maternidade e a homossexualidade.
Foram identificados dois perfis de família no estudo. O primeiro – mais comum no Brasil – refere-se a mulheres com um passado heterossexual, mas que se envolveram em relações lésbicas e trouxeram seus filhos para essas relações. O segundo diz respeito àquelas que optaram pela maternidade por meio de tecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial.
A pesquisa cita a experiência de uma mulher, Roberta, mãe de dois filhos, que acabara de sair de um casamento heterossexual conflituoso. O marido, usuário de drogas, era muito violento. Posteriormente, ela foi morar com uma mulher. O ex-marido de Roberta tentou obter a guarda das crianças. O juiz concedeu a guarda dos filhos para a mãe, mas condicionou a decisão à saída da sua companheira da casa.
Bastante conservadora, a postura deixa clara que – no entender do magistrado – para exercer o direito de conviver com os filhos, a mãe tinha de renunciar à sua sexualidade e à formação de uma família alternativa. Que meda!

O polêmico “Brüno”

O filme “Brüno”, que retrata um jornalista gay no mundo da moda, liderou a bilheteria dos cinemas norte-americanos no primeiro final de semana de exibição. As críticas e polêmicas em torno dele parecem aguçar a curiosidade do público.
A película arrecadou US$ 30,4 milhões (cerca de R$ 61,24 milhões). O segundo lugar em bilheteria da temporada ficou com “A Era do Gelo 3” ao arrecadar US$ 28,5 milhões (cerca de R$ 57,41 milhões).
O falso documentário satírico ganhou classificação máxima nos EUA. O personagem Brüno é vivido pelo comediante Sacha Baron Cohen e tem desagradado várias pessoas que supostamente aparecem no filme sem seus consentimentos. É aí que a polêmica começa.
O tal personagem homossexual percorre a paisagem norte-americana pegando pessoas que contracenam com ele de surpresa e constrangendo muita gente. Os grupos de defesa dos direitos dos gays se dividem em suas reações.
O filme explora sem piedade a homofobia que nasce do desconforto gerado por uma homossexualidade agressiva. A preocupação é que certos espectadores não percebam a piada e saiam dos cinemas com a ideia de que a homofobia é legítima.
No entanto, “Bruno” também é uma mensagem sobre o que é pertencer a uma minoria na América em 2009.
Centrando-se no personagem Brüno, não há qualquer ambiguidade: trata-se de um gay louco e afeminado. Nos materiais promocionais, surge vestido com cuecas sensuais, roupa íntima de leopardo ou nu montado num unicórnio. Numa cena, aparece num talk-show com uma criança no colo, vestida com uma T-shirt onde se lê "Gayby" (gay por perto). A sequência mostra um flashback com Brüno fazendo sexo numa jacuzzi e o bebê sentado ao lado. Em seguida, ele gaba-se de o bebê ser um ímã para atrair homens.
Em outra cena, determinado a tornar-se heterossexual, recorre a um instrutor de artes marciais para aprender a proteger-se dos homossexuais. O instrutor avisa que os homossexuais são traiçoeiros: “Alguns se vestem da mesma forma que eu ou você."
A Universal Pictures declara que “Bruno” utiliza a comédia provocadora para trazer à tona o absurdo de muitas formas de intolerância e ignorância, incluindo a homofobia. As situações extremas põem as pessoas frente a frente com seus estereótipos e preconceitos.
Defensores dos direitos dos homossexuais, no entanto, querem que Sacha Baron Cohen e a Universal Pictures recordem ao público que a intenção é expor a homofobia. Abafa o caso!

sábado, 18 de julho de 2009

As barbies e a fragilidade


Nos últimos dias muito se ouviu falar de “Neverland” por causa de Michael Jackson. A tal “Terra do Nunca”, promessa de juventude eterna, seduz nossa sociedade atual muito mais do que em qualquer outra época. Recusamo-nos a crescer e envelhecer.
Entre os gays, muitos são suscetíveis a esta cultura. Há uma busca incessante pelo belo. Uma turma bem definida neste aspecto é o das chamadas “barbies”, que levam o culto ao corpo ao extremo da perfeição. São os musculosos, sarados e bronzeados.
Mas – como sempre – tem muito mais coisa envolvida nisso. Os descamisados formam um grupo e fazer parte dele ou ser rejeitado e ficar de fora é a questão. É um mundo de grife e de festas.
O imaginário gay é povoado por homens fortes e másculos há muito tempo. Os meios de comunicação alimentam este ideal de beleza. Sentir-se desejado é bom para mulheres, homens e gays enquanto jovens, adultos ou idosos. O perigo é sacrificar-se por isso, algumas vezes arriscando a própria vida com excessos.
Por trás desta busca, são possíveis algumas leituras interessantes. Fazer parte do grupo é uma maneira de se inserir na sociedade. Adotar determinado modelo de corpo pode ser uma forma de mostrar para a sociedade o quanto se é bom e bonito, apesar de toda a perseguição e preconceito? Os músculos podem querer substituir uma magreza exposta na história recente marcada pelo estigma de que homossexualidade e Aids eram sinônimos. Masculinidade no lugar da fragilidade? Um cuidado próprio que quase dói. Como se tantos músculos pudessem proteger.
Não se iluda, todos nós estamos de certa forma cultuando o mesmo deus. Nossa sociedade adora a imagem. É o lugar do momento, a roupa da moda ... Todos queremos nos mostrar dignos de admiração. No fundo é como se estivéssemos dizendo: "Veja eu tenho um belo peitoral, um belo carro, ... você pode me amar, eu mereço!". O engodo é tornar o meio um fim em si mesmo, fazer de um traço de valor a coisa mais importante de nossas vidas. Cultivar o traço menos por prazer e mais por uma necessidade desesperada e inconsciente de ter que atingir a perfeição. Me erra! Me deixa!

sábado, 11 de julho de 2009

Gaytilha

Conheci recentemente através da indicação de um amigo uma espécie de cartilha (gaytilha) em forma de blog sobre como agir para ajudar a causa LGBT. Trata-se do 30ideias.blogspot.com, que é escrito por um grupo de amigos blogueiros, entre jornalistas, advogados, arquiteto, escritor, cientista social e antropóloga.
O blog se dirige a “pessoas que nunca se interessaram pelo movimento LGBT, não pretendem se aproximar dele, mas têm boas intenções e até gostariam de fazer algo – só não sabem por onde começar”. Contém 30 ideias divididas em cinco grupos de assunto. Destaco aqui alguns itens que considerei mais interessantes.
O primeiro grupo é o “Assuma-se (autoestima, orgulho e aceitação)”. Destaco a ideia de número 6: Não semeie o preconceito interno. Você pode preferir alguns estilos, tribos ou grupos, com quem tem mais afinidade. Mas isso não lhe torna melhor do que os “afeminados” (ou as “masculinizadas”), pobres, nordestinos, negros ou gordos, nem lhe dá o direito de desprezá-los ou humilhá-los. Não faz sentido gays falarem mal de travestis, travestis falarem mal de lésbicas, lésbicas falarem mal de gays...
Em “Defenda-se (consumo, preconceito e justiça)”, o número 7 diz: Exerça seu poder de consumidor. Boicote produtos e serviços oferecidos por empresas com posturas homofóbicas ou propagandas preconceituosas. O mesmo vale para programas de TV que ridicularizam homossexuais. Por outro lado, prestigie estabelecimentos que simpatizem com a causa – mas tente diferenciar os que são genuinamente friendly daqueles que não passam de oportunistas de plantão.
O número 12, em “Oriente-se (informação e política), recomenda: Leia jornais e/ou assista ao noticiário na TV. Mantenha-se informado sobre o que acontece na sua cidade, no seu país, no mundo - e não apenas no meio gay.
No grupo “Engaje-se (participação social e voluntariado)”, vale ressaltar o número 17: Manifeste suas convicções para o mundo. Pode ser abrindo um blog, com temas de interesse político de LGBT, ou mesmo escrevendo uma carta a uma revista de grande circulação ou ao jornal da sua cidade. Opiniões favoráveis aos nossos direitos precisam ser ouvidas pela sociedade.
Por último, no grupo “Cuide-se (sexo, drogas e outras travessuras)”, o destaque fica para o número 26: Sexo seguro é uma opção pessoal, cuja responsabilidade é de cada um. Não se baseie em aparências ou presunções – elas enganam. A decisão de abrir mão do preservativo em um relacionamento precisa ser muito bem pensada pelos dois parceiros, e nenhum deles deve pressionar o outro na negociação. Se você fez esse pacto e depois se expôs a uma situação de risco, não deixe tudo como está: reintroduza o sexo seguro na relação, faça os exames e repita-os após 3 meses e 6 meses. Não exponha o parceiro que confiou a saúde a você. Tá meu bem!