segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ex-gay existe?


A pergunta deve estar na mente de muita gente: ex-gay existe? E ela surgiu depois que a psicóloga carioca Rozângela Alves Justino apareceu defendendo a terapia para curar o “homossexualismo”. No último dia 31, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) decidiu, por unanimidade, aplicar uma censura pública contra a profissional. Rozângela já havia sido condenada à censura pública no Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro em 2007.
Acontece que resolução do CFP de 1999 proíbe os psicólogos de tratar a homossexualidade como doença, distúrbio ou perversão e de oferecer qualquer tipo de tratamento. A resolução segue normas da Organização Mundial de Saúde. Portanto, não havendo doença, não há o que curar.
Lideranças da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) defendem a cassação do registro de Rozângela, inclusive porque outros profissionais também estariam atuando da mesma forma, principalmente ligados a religiões.
Rozângela é evangélica e se diz perseguida pelo Conselho Federal de Psicologia, no que ela chama de "Ditadura Gay". Para a psicóloga, as pessoas não são homossexuais, mas "estão". Respeitando a motivação individual, o estado homossexual é passível de mudança. Para a militância, tal opinião contribui para o preconceito e a negação da homossexualidade tanto pela pessoa quanto pela família.
"Ex-gay" é o termo usado para indicar pessoas que alegam ter abandonado comportamentos homossexuais. É bastante discutível, pois a orientação sexual tem sido entendida como inata e fixa. Há quem defenda que ela é definida por questões genéticas. Deste modo, não pode ser modificada. Mas também há quem diga que a orientação sexual se desenvolve durante toda a vida.O fato é que a orientação sexual não-heterossexual foi removida da lista de doenças mentais nos EUA em 1973 e do CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) editado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1993. Os transtornos de identidade de gênero, que englobam travestis e transexuais permanecem classificados na CID-10. Nestes casos, terapias hormonais e/ou cirurgia de sexo são, algumas vezes, indicadas pela medicina. E aí, ex gay existe?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Maria Purpurina


A televisão – mais especificamente a Rede Globo – tem colocado em cena a figura da chamada “Maria Purpurina”. A mulher que sente atração por gays.
O caso mais recente e notório é o da personagem Léa, vivida pela atriz Maria Zilda na novela “Caras & Bocas”. Ela é apaixonada pelo gay Cássio, vivido por Marco Pigossi.
No entanto, o caso não é único. Eu diria que tem crescido vertiginosamente. E assusta desconhecer os motivos e os efeitos dessa recorrência. Já em “A Favorita”, outra novela da Globo e em horário nobre, as personagens Céu (Deborah Secco) e Sharon (Giovanna Ewbank), uma das meninas da casa de Cilene (Elisângela), chegaram a brigar por Orlandinho (Iran Malfitano).
O que preocupa não são as tais Marias Purpurinas, mas os gays em dúvida de sua própria sexualidade. A série (outra vez Globo) “Som & Fúria” trouxe o ator Leonardo Miggiorin na pele de um gay que se encantou por uma mulher (Débora Falabella) e confundiu seus sentimentos.
Não que gays em dúvida de sua sexualidade não existam. É justamente isso o que a coerência defende: mostrar a diversidade de manifestações do sexo – em definições e graus. Deixar os rótulos de lado e olhar as pessoas em sua individualidade e subjetividade.
Só que parece cedo esse passo quando outros ainda não foram dados. Parece querer correr antes de aprender a andar. Na cabeça da maioria das pessoas, a homossexualidade ainda é uma condição confusa, que se mistura facilmente com a bissexualidade e a transexualidade. Mais que isso: ainda não temos uma resposta convincente (se é que ela um dia existirá) de como a orientação sexual se define.
Atualmente, quase todas as novelas têm um personagem homossexual. Uns assumidos, outros nem tanto. Sem falar em papéis secundários como o cabeleireiro da madame. Mas esses personagens quase nunca namoram outro homossexual. O tal “Beijo Gay” virou mito. Se não estamos preparados para assistir as manifestações homoafetivas, será que é interessante confundir nossa percepção com personagens que justamente vão em sentido contrário ao que a princípio desejam sexualmente, seja por um momento de incerteza ou característica pessoal? Me erra! Me deixa!