segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O grande combate


A maior luta realmente tem sido contra o preconceito. Seja no combate de uma das doenças mais terríveis de nossa época ou na árdua construção de uma sociedade um pouco mais tolerante e inclusiva. O Governo Federal parece ter acertado no foco mais uma vez com a campanha do “Dia Mundial de Luta contra a Aids” de 2011, lançada no último dia 1º de dezembro.

Depois de ter trabalhado com as mulheres heterossexuais e com os idosos, chega a vez dos jovens gays. Boletim epidemiológico recém-lançado sobre a Aids mostra que a epidemia tem crescido entre os jovens gays nos últimos anos. De 1998 a 2010, o percentual de casos na população heterossexual de 15 a 24 anos caiu 20,1%. Entre os gays da mesma faixa etária, no entanto, houve aumento de 10,1%.

O slogan da campanha é “A Aids não tem preconceito. Previna-se”. A proposta é estimular a reflexão sobre uma sociedade menos preconceituosa, mais solidária e tolerante à diversidade sexual e às pessoas vivendo com HIV/Aids. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou muito bem durante o lançamento que “expor cada vez mais as pessoas à diferença é umas melhores formas de acabar com a discriminação”.

O “Dia Mundial de Luta Contra a Aids” foi criado na Assembleia Mundial de Saúde de 1987, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), para reforçar a solidariedade, a tolerância e a compreensão em relação às pessoas infectadas pelo HIV.

Vale relembrar que a coluna “G, L e o quê?!” já refletiu a respeito do fato de as novas gerações não terem sofrido com os efeitos devastadores que a Aids provocou antes dos “coquetéis”. Já no primeiro semestre do ano passado comentava o assunto em “Retorno da ‘Peste Gay’?”. Pesquisa do Ministério da Saúde apontava que entre meninos na faixa etária dos 13 aos 19 anos, há mais casos de Aids por transmissão homossexual (33,5%) do que heterossexual (28,3%).

Volto a falar: estes jovens talvez estejam se descuidando pois tomaram consciência da própria sexualidade em uma época em que a Aids já não assusta com mortes públicas e os medicamentos possibilitam uma vida praticamente normal. No entanto, não se está pensando nas reais consequências. É preciso refletir. Liga o pisca alerta. Volta a si. Acorda!

domingo, 20 de novembro de 2011

Relação aberta


Pense em um relacionamento no qual não há o compromisso de se ter apenas uma pessoa. Que também não haja a necessidade de se rotular como homossexual, heterossexual ou mesmo bissexual. Você já deve ter ouvido falar, mesmo que superficialmente, na “relação aberta”. Há quem defenda que se pode ser feliz, outros falam em dificuldade de envolvimento dos parceiros.

Esse tipo de relacionamento já foi tema de filme (o espanhol “Dieta Mediterrânea”), de quadrinhos que se tornaram minissérie (“Aline”, de Adão Iturrusgarai) e até figurou na novela das oito em rede nacional (o italiano Berilo e suas duas esposas e dona Brígida com o motorista e o jardineiro em “Passione”, da Rede Globo). Isso apenas para citar alguns casos mais recentes. E há um homem com duas mulheres, mas também uma mulher com dois homens, para ninguém reclamar.

Sartre e Simone de Beauvoir são a mais conhecida referência neste tema. A relação dos dois teve início em 1929 e só terminou com a morte do filósofo em 1980. “Entre nós, trata-se de um amor necessário. Convém que conheçamos também amores contingentes”, disse Sartre no começo do relacionamento entre os dois.

Mesmo assim, pode-se falar hoje em mudança de mentalidade. Fala-se em espaço para novas experiências e até mesmo em “relacionamentos personalizados”, de acordo com as necessidades de cada um. Monogamia e poligamia são temas polêmicos, com fortes argumentos “pró” e “contra”, e tem gente bem adaptada a uma ou outra situação.

Relacionamento aberto é uma relação afetiva estável em que os envolvidos concordam que relações extraconjugais não são consideradas traição ou infidelidade. É defendido como uma alternativa ao modelo monogâmico tradicional. Uma alternativa que se diz preocupada em não tolher o desejo no indivíduo e no casal.

O fato é que uniões nas quais os parceiros podem se relacionar com outros são viáveis. Tem gente que não abre mão da liberdade de estar com outras mulheres e homens, juntos ou não com o titular. Mas é necessário que existam regras bem claras para evitar o surgimento de conflitos. Uma relação aberta pode gerar ciúmes assim como uma relação tradicional. Pode também ser um indicativo de superficialidade. Por que não realizar muitas fantasias sexuais com o mesmo parceiro?

É importante ter um acordo. Tem casal que sai com quem quiser, mas desde que o outro saiba. Sempre com o consentimento. Outros, só incluem uma terceira pessoa se estiverem juntos. E ainda: as tais parcerias podem ser estáveis ou ocasionais. Apego, só entre o casal. Tudo depende do que for decidido entre as partes envolvidas.

domingo, 30 de outubro de 2011

Manifestações


Uma espécie de manifesto de homens que transam com outros homens circula pela internet permitindo conhecer melhor como a sexualidade vai encontrando suas diversas maneiras de se manifestar.

O tal manifesto traz algumas coisas que o sujeito “não precisa fazer” e outras que ele “pode fazer”. Não precisa falar manhoso, por exemplo, requebrar feito mulher, expor sua opção sexual, perguntar qual o tamanho do pênis do outro no MSN. Também não precisa achar que o mundo é gay ou nem achar que o mundo é hetero, entre outras coisas.

Mas pode manter a voz de homem. Manter seu jeito de homem. Manter suas amizades sem precisar expor sua vida sexual. E mais: manter sua família sem ela saber o que ele faz na cama. Jogar futebol. Não ser tão educadinho quanto pedem que seja. Não ter preconceito com os afetados de pai e mãe.

O documento deixa preconceitos explícitos, mas também expõe uma forma de viver a sexualidade que tenta escapar dos rótulos. Nele, os afeminados são crucificados. Eles que são vítimas de preconceito dos próprios homossexuais.

No entanto, o manifesto remete também à denominação “Homens que fazem sexo com homens” (HSH), que é usada na literatura médica e na pesquisa social para descrever esses homens como um grupo, sem considerar questões de auto-identidade sexual. O termo foi criado na década de 1990 por epidemiologistas. No Brasil, também passou a ser usado pelo Ministério da Saúde em campanhas de prevenção a Aids e doenças sexualmente transmissíveis.

A expressão HSH se refere aos homens que se dedicam a uma atividade sexual com outros homens, independentemente da forma como eles identificam a si mesmos. Realmente, muitos optam por não aceitar identidades sociais de homossexuais ou bissexuais.

Entre as mulheres, a experiência não é diferente, mas a denominação “Mulheres que fazem sexo com mulheres” é ainda mais rara de se ver ou ouvir. A sexualidade feminina se traveste da invisibilidade. A ponto de mistificarmos a crença de que lésbicas, bissexuais e MSM não estão vulneráveis às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) ou ao HIV.

No entanto, estudos apontam que homens e mulheres transitam entre experiências homo e heterossexuais ao longo da vida. Principalmente na atualidade. E nesse transitar em algum momento se fixam (ou não) as diversas manifestações da sexualidade.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Wanessa: diva LGBT?


Não é de hoje que Wanessa (Camargo) tem direcionado seu trabalho ao público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). Seja pela real identificação que tem com o público ou pela persistência, o fato é que a cantora parece se consolidar na cena gay como diva brasileira.

Seus trabalhos têm se amadurecido e vêm demonstrando ótima qualidade. Atualmente ela divulga o álbum “DNA” e o single “Sticky Dough”. Há quem a critique de copiar um modelo estrangeiro de cantar e dançar. Acusam de oportunismo a aproximação com os gays. No entanto, ela vem aumentando o número de admiradores. Tem feito shows em boates gays por todo o país. Em agosto, esteve em São José do Rio Preto.

Mas não é só isso, também é uma celebridade que tem se engajado na luta pelo fim da intolerância e é defensora dos direitos dos homossexuais. Já disse que tem comportamento e mente gays pois “gay é alguém que luta todos os dias contra a intolerância e que entende que o mundo é feito de diferenças” e ela se vê também assim.

Melhor ainda, afirma que tem muito respeito pelos gays e que foram eles que a ajudaram a se “liberar” no palco, a criar seu estilo e atingir uma performance “natural, sem pudor”. Vale à pena conferir o clipe de “Sticky Dough” ou mesmo de “Worth it”, anterior e alvo de sátira por ter coreografia que para muitos se assemelha a de “Bad Romance”, de Lady Gaga. Tirem suas próprias conclusões.

Parada em Rio Preto
A realização da 11ª Parada Gay de Rio Preto segue indefinida. O Grupo Gada (Grupo de Amparo ao Doente de Aids e Hepatites Virais), responsável pelas dez edições anteriores, decidiu cancelar a versão 2011 em razão de atraso em repasse de verba do governo estadual, segundo o jornal Bom Dia.

No entanto, grupo liderado pela travesti Abigail Rosseline promete que irá realizar o evento no dia 30 deste mês. O lema definido é “Diga sim à diversidade e não à homofobia” e pretende reunir vozes contra o preconceito de raça, cor, religião e opção sexual. No ano passado, a Parada Gay de Rio Preto atraiu público de 40 mil pessoas e era considerada uma das melhores do estado de São Paulo.

Violência em SP
Infelizmente, na semana passada houve mais um caso de agressão por homofobia na cidade de São Paulo, com repercussão nacional. Realmente os homossexuais não precisam de leis específicas que os ajudem a se proteger? #ficaareflexão

domingo, 18 de setembro de 2011

O exemplo de Bauru


Com o tema “A Educação é a Solução: todos contra o Bullying”, Bauru realizou no final do mês passado sua 4ª Semana da Diversidade. O município desponta como exemplo de organização e dá corpo ao evento, agregando várias atividades à sua Parada Gay, que reuniu 45 mil pessoas este ano.

Reflexão e conscientização celebraram o respeito às diferenças. Primeiro, pessoas, empresas e instituições de Bauru foram homenageadas com o troféu “Eu faço a diferença” por se destacaram no último ano no combate ao preconceito, à discriminação e à desigualdade.

Teve a exposição fotográfica “Voz Travestida”. Ocorreram a posse do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade (Cads) e um debate abordando o assédio moral que envolveu os professores das redes de ensino público municipal e estadual e agentes sociais da rede de assistência social. Também aconteceu a 1ª Conferência Municipal do Cads. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu o Seminário da Diversidade enquanto o Sesc SP em Bauru promoveu um ciclo de filmes. Sindicatos, empresas e outras instituições foram estimulados a atuarem junto aos seus colaboradores e associados com a temática da Semana.

As atividades tiveram ainda caráter de promoção da solidariedade, com a organização solicitando aos participantes a doação de uma lata de leite em pó, com arrecadação destinada a instituições da cidade. No dia da Parada foi instalada uma minipraça de alimentação com renda destinada a outra instituição. O evento terminou com show de Preta Gil no Parque Vitória Régia.

Gays, heteros e simpatizantes, além de inúmeras famílias pediram pelo fim do preconceito tomando a Avenida Nações Unidas na Parada de Bauru, organizada pela Associação Bauru pela Diversidade (ABD).

Segundo pesquisa realizada pelo Departamento Municipal de Turismo, o evento reuniu participantes de outras 42 cidades, distantes até 500 quilômetros. O gasto médio estimado por pessoa foi de R$ 160,00.

Em Rio Preto, não há notícias da Parada Gay que vinha acontecendo no mês de setembro. Recentemente, liderança LGBT afirmava que o evento não seria realizado este ano. Tá meu bem?!

sábado, 27 de agosto de 2011

Sensata posição


O primeiro beijo hetero da TV brasileira em 1951 foi considerado escandaloso. A novela “Insensato Coração”, da Rede Globo, não emplacou o tão polêmico beijo gay. O mérito ficou para “Amor e Revolução”, do SBT, apesar de se tratar de um beijo entre mulheres, o que para muitos parece menos agressivo.

Nem por isso a novela deixou de ter seu mérito. Interessante que há pouco tempo apontávamos como conquista a presença de um ou dois personagens gays na televisão tratados com seriedade. Em “Insensato Coração”, criou-se um verdadeiro núcleo, com seis personagens espalhados pela trama. Entendo que isso demonstra a naturalidade com que a homossexualidade passa a ser encarada. Com todas as suas idiossincrasias.

Idioquê? Sim, as características comportamentais próprias de um indivíduo ou grupo. A maneira peculiar de ser, sentir e reagir. A novela conseguiu mostrar muito do universo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), com suas alegrias e tristezas.

A diversidade deste universo foi representada por Rony Fragonard (Leonardo Miggiorin), Eduardo Aboim (Rodrigo Andrade), Hugo Abrantes (Marcos Damigo), Xicão Madureira (Wendell Bandelack), Araci (Cristiana Oliveira) e Gilvan (Miguel Roncato).

Foram mostrados alguns comportamentos e gírias específicos, o cotidiano do gay assumido, a saída do armário, a reação dos pais diante da realidade de seus filhos LGBTs (progressistas ou preconceituosos) , o gay afeminado e o não-afeminado, o pink money, a marginalidade, o preconceito, os ataques homofóbicos e a união homoafetiva.

O maior mérito foi colocar os personagens gays no centro do enredo e não deixá-los à margem em histórias secundárias. Conseguiu criar algo mais próximo da realidade.

Mesmo sob acusações de censura ao esfriar e cortar cenas do casal Hugo e Edu, “Insensato Coração” teve a sensata posição da naturalidade. Foi bafo, bee!

Legenda: Casal Hugo e Eduardo da novela "Insensato Coração"

No próxima quarta-feira, dia 31 de agosto, a “Coluna G, L e o quê?!” completa três anos. Neste período, muitas coisas mudaram. O mundo se transforma vertiginosamente. Percebo que a visibilidade conquistada pouco a pouco pelos LGBTs possibilita o entendimento e a tolerância de muitos, mas provoca a agressividade e a incompreensão de alguns outros. Que a convivência realmente passe a ser valorizada...




segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Retrocesso em Rio Preto


São José do Rio Preto-SP está entre as poucas cidades no país com lei municipal que combate a homofobia. Em âmbito nacional, há leis estaduais em São Paulo e Rio de Janeiro. Outros municípios, alguns poucos como Juiz de Fora e Cataguases (ambas em MG) e Londrina (Paraná).

No entanto, esta lei que existe desde 2002 está sob ameaça. O presidente da Câmara de Rio Preto, Oscarzinho Pimentel (PPS), apresentou projeto para revogá-la que deve ser votado este mês. A lei municipal, de número 8.642 e autoria do ex-vereador Márcio Ladeia (PT), pune “toda e qualquer forma de discriminação por orientação sexual”.

Ela considera discriminação qualquer ação ou omissão que, motivada pela orientação sexual do indivíduo, lhe cause constrangimento, exposição a situação vexatória, tratamento diferenciado, cobrança de valores adicionais ou preterição no atendimento, bem como impedir ou dificultar acesso de homossexuais e estabelecimentos ou locais de circulação pública. Prevê ainda multa entre R$ 1 mil e R$ 3 mil para os infratores, além de cassação de alvará de funcionamento quando a discriminação ocorrer em local público.

Na justificativa de sua proposta, Oscarzinho diz que a lei é inconstitucional por vício de iniciativa e fere o artigo 5º da Constituição Federal, que prevê igualdade entre todos os brasileiros.

Lideranças da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) em Rio Preto acreditam que a iniciativa de Oscarzinho tem fundo religioso. Evangélico, o presidente da Câmara participou de caravana evangélica a Brasília para protesto contra o projeto de lei 122. Assim como a lei municipal, tal projeto prevê punição para atos de discriminação sexual. Além da proposta de revogar a lei municipal, segundo o jornal Diário da Região, de Rio Preto, Oscarzinho apresentou requerimento ao Senado pedindo arquivamento do PL 122. De Rio Preto, também participaram do protesto na capital federal os outros vereadores evangélicos Carlão dos Santos (PTB) e Tadeu de Lima (PSDB).

sexta-feira, 22 de julho de 2011


Publicado ontem (21.07.11)no jornal Folha da Região em "Edital de Proclamas" o que deve ser a primeira união homoafetiva (ou casamento gay) da região de Araçatuba-SP. Abafa!!!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ousadia de menos


Manchete do jornal Folha da Região (Araçatuba/SP) no dia 26 de junho (“Lazer gay injeta R$ 780 mil por ano na economia de Araçatuba e Birigui”) trouxe alguns números para enriquecer a discussão sobre o poder do chamado “Pink Money” (Dinheiro Cor de Rosa) na região.

Claro que os R$ 780 mil injetados por ano em duas casas noturnas é uma amostra do poder econômico de nossa comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), que gasta com tantas outras coisas além de lazer.

Vale ressaltar que as empresas despertam muito lentamente ainda para agradar a este público com pouca ousadia e muitas falhas de comunicação. No entanto, esta não é uma dificuldade só dos empresários regionais.

Matéria do Meio & Mensagem do dia 22 de junho (“O Pink Money vale menos que o Real?”) afirmou que o preconceito custa a recuar entre o empresariado brasileiro. E apontou a estimativa de que os LGBT têm renda anual de R$ 150 bilhões — 7,1% do PIB, indicador econômico que representa o conjunto de bens e serviços produzidos pela economia brasileira em 2010.

Para ilustrar a representatividade da comunidade, é importante também citar que a última edição da Parada do Orgulho LGBT em São Paulo, no dia 26 de junho, reuniu cerca de 4 milhões de pessoas, segundo estimativas da organização.

Moralismo e questões religiosas têm sido apontados como motivo de as empresas brasileiras não valorizarem este público. Nações mais industrializadas tratam a questão com maior normalidade.

O jornalista André Fischer, diretor do Grupo Mix Brasil, que reúne site, revista, rádio e TV paga voltados para o público LGBT, acusa o mercado publicitário de careta e afirma que cabe às agências fazer o meio de campo com o anunciante.

As marcas que “saírem do armário” antes vão se dar bem. Surgem iniciativas para auxiliar o mercado. No próximo dia 23 de julho acontece em São Paulo o Expo Business LGBT Mercosul, que pretende esclarecer o que é ser uma empresa “gay-friendly”.

Em abril de 2012, a Associação Internacional de Turismo para Gays e Lésbicas (IGLTA) realizará sua convenção anual em Florianópolis, com palestrantes do mundo todo, inclusive do Brasil, falando sobre dados de mercado e táticas de comunicação.
Oportunidades não faltam, sejam lá ou aqui. Os empresários precisam acordar para isso, preparar-se muito e ousar mais ainda. Fica a dica.

Legenda: Versão Drag Queen de campanha de veículo realizada na Espanha
Crédito: Divulgação

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Há do que se orgulhar?


A Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Trânsgêneros) de São Paulo chegou à sua 15ª edição. Muitos relacionam sua realização às conquistas de espaço da comunidade gay na atual sociedade brasileira. De fato, a visibilidade tem ajudado a colocar temas relacionados em discussão.

Na semana que precedeu ao evento, no entanto, um fato apontou o quanto ainda são frágeis as conquistas dos GLBTs. Um juiz de Goiânia decidiu anular a união civil de um casal gay, um direito assegurado no mês passado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Atitude homofóbica? Retrocesso moralista? O juiz Jeronymo Pedro Villas Boas, da 1ª Vara da Fazenda Pública Municipal, não só determinou o cancelamento da “Escritura Pública de Declaração de União Estável” do casal Léo Mendes e Odílio Torres como recomendou que “todos os cartórios de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de Goiânia e do Registro Civil abstenham-se de proceder a qualquer escrituração de declaração de união estável entre pessoas do mesmo sexo”. Ninguém propôs a ação. Foi iniciativa do próprio juiz. Ele alega que a Constituição Federal só reconhece como família a união entre homem e mulher.

Léo Mendes é presidente da Articulação Brasileira de Gays e iria recorrer. A OAB Ordem dos Advogados do Brasil) em Goiânia também entraria com representação para derrubar a medida pois o juiz não pode interferir em decisão de instância superior.

Acontece que o reconhecimento da união estável para casais de mesmo sexo pelo STF pode ser derrubado pelo Congresso Nacional. É o que pede, por exemplo, o Projeto de Decreto Legislativo 224/11 de autoria do deputado federal João Campos (PSDB-GO), apresentado pela Frente Parlamentar Evangélica.

O tema da 15ª Parada do Orgulho GLBT foi “Amai-vos uns aos outros: Basta de Homofobia! – 10 anos da lei 10.948/01 e Rumo ao PLC 122/06”. Muito ainda há que se fazer. A lei 10.948/01 é uma lei paulista que pune a discriminação e o PLC 122/06 é o polêmico projeto que criminaliza a homofobia no Brasil. Recentemente a senadora Marta Suplicy (PT-SP), atual relatora do projeto participou de debates para alterações no texto que tramita no Senado Federal. A lei não se aplicará a templos religiosos, pregações ou quaisquer outros itens ligados a fé, desde que não incitem a violência.

Em Carta Aberta, a APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo) aponta que mais de 260 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram assassinados no Brasil em crimes de ódio no ano passado. E diz: “Incluir e amparar indiscriminadamente todas as pessoas não seria o princípio básico da religião? Respeitosamente, nos apropriamos da frase “Amai-vos uns aos outros” para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos.”

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Para quem não teve oportunidade de ver

Matéria sobre Homofobia repercutindo o caso de preconceito contra o jogador Michael do Vôlei Futuro. Traz informações importantes da violência contra homossexuais e comentários de especialistas. A reportagem, feita pelo jornalista Flávio Zani e veiculada na TVi (Sbt), na região de Araçatuba-SP, também fala do blog "G, L e o quê?!".

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O polêmico kit gay


A suspensão do chamado kit gay pelo governo federal gerou polêmica. Houve acusações de que a decisão estaria relacionada a pressão das bancadas religiosas (evangélicos e católicos), que ameaçavam apoiar investigações sobre o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

Por outro lado, a presidente Dilma Roussef disse não ter gostado do conteúdo de um dos vídeos que compunham o tal kit. "Não aceito propaganda de opções sexuais", teria dito.

O vídeo citado por Dilma trata da bissexualidade. Algo incompreensível para muitos e terreno fértil de fantasias para outros tantos. Os bissexuais acabam sendo alvo de preconceito tanto de heteros quanto homossexuais, caracterizando uma bifobia.

Para muitos heteros, as pessoas bissexuais foram a ponte que trouxe a Aids dos homossexuais para os heteros. Enquanto certos homossexuais consideram a bissexualidade um meio-termo confortável entre a heterossexualidade e a homossexualidade.

As fantasias também não ficam atrás. Entre vários heteros, é a de ver duas mulheres juntas. Para homos, sair com um cara que também se relaciona com mulheres. Diria que há até uma tendência em enaltecer a bissexualidade no mundo atual.

A tendência é rotularmos as sexualidades. É preciso encaixar as pessoas e a maneira como elas se manifestam em um molde seguro. Neste contexto, a homossexualidade, por exemplo, é relativamente compreensível. A pessoa se interessa por outra do mesmo sexo e ponto. Já na bissexualidade, o interesse é igual para os dois sexos. Isso complica a situação. Desestabiliza. Torna as coisas mais inseguras, mais difíceis de rotular, controlar.

E é justamente neste ponto que talvez o vídeo peque. Tudo é conduzido de forma natural. A personagem apresenta suas dúvidas e angústias. Todas tão comuns entre os adolescentes. Até o momento no qual constata ter atração tanto por homens quanto mulheres. O fato acaba sendo encarado com tranquilidade pelo rapaz, mas ele faz uma relação questionável. Fala que a probabilidade de ele encontrar alguém para se relacionar é 50% maior a partir do momento em que se interessa pelos dois sexos.

Realmente desnecessária a constatação, que soa como apologia, principalmente por dar nome ao vídeo (“Probabilidade”). Parece uma vantagem, quando é apenas resultado de uma característica.

Independente de haver razões políticas na suspensão do kit, acredito que uma alteração no sentido apontado possa contribuir na luta contra a homofobia (ou bifobia). Afinal, a ideia não é defender nenhuma sexualidade específica como mais vantajosa que outras.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Vitória da força de consumo colorido


A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo está diretamente ligada ao poder de consumo dos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Tal parcela da sociedade tem sido vista com atenção por muitas empresas.

Pesquisa realizada pela Insearch Tendências e Estudos de Mercado e divulgada no último dia 6 pela Rede Globo, no Jornal Nacional, aponta para o reconhecimento definitivo da força de mercado colorido.

São consumidores sem culpa, que frequentam bons restaurantes, vão às principais baladas e compram roupas de grife. O levantamento foi realizado em 10 estados brasileiros (PA, CE, PE, BA, GO, MG, SP, RJ, SC e RS).

Bancos e empresas de cartões de crédito perceberam que este público tem enorme potencial de compra a ser explorado. Segundo a pesquisa, 40% dos entrevistados se encaixam nas classes A e B. Um total de 64% têm pelo menos um cartão e 84% navegam e fazem compras pela internet.

Também gastam 64% mais com produtos de beleza e 57% compram livros (8 por ano em média). O setor imobiliário prepara lançamentos especiais para estes consumidores que gastam 25% mais na compra de imóveis.

Tudo isso é muito bom para o mercado. Os LGBT compram independente do preço, mas desejam algo a mais, são extremamente exigentes.

As empresas deixam de lado os preconceitos e estereótipos para encarar com respeito e seriedade este público. O atendimento especializado aos clientes gays já se consolidou em grandes companhias espalhadas pelo mundo e vem ganhando cada vez mais novos adeptos. Por causa do chamado “pink-money”, elas têm se tornado “gay friendly”.

Mesmo que nem todos os LGBT tenham alto poder aquisitivo e sejam consumistas, o potencial de compra comumente é maior, uma vez que é um público formado por pessoas em geral mais sociáveis. Não ficam em casa vendo TV. Acabam gastando mais em viagens, restaurantes, bares, casas noturnas, cinema e teatro. E, consequentemente, quanto mais saem, mais roupa precisam comprar.

É inquestionável a importância da decisão do STF na luta por direitos e deveres iguais entre héteros e homossexuais, mas não precisamos mascarar importantes fatores que estão envolvidos neste processo. Válido destacar também a coragem de 60 mil casais do mesmo sexo de se declararem como tais ao Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

segunda-feira, 25 de abril de 2011

As coisas vão melhorar. Levante-se!

No último dia 12, foi lançado um trailer do curta “Não gosto dos meninos”, de André Matarazzo e Gustavo Ferri. O filme tem como slogan “Histórias que gostaríamos de ter visto antes” e está no YouTube.

Foi inspirado no Projeto “It Gets Better” (As coisas vão melhorar), campanha nos EUA iniciada após onda de suicídios, ocorrida em setembro do ano passado, entre adolescentes que sofreram bullying por serem ou parecerem gays. A estreia da versão brasileira é prometida para o próximo mês.

A exemplo da versão norte-americana, a película nacional deverá mostrar histórias comuns aos gays, que falam do fato de se sentir “diferente”, não estar interessado nas coisas “certas”, ter que esconder sentimentos. Depoimentos abordando o medo de não ser amado pelas pessoas mais queridas, os ataques físicos e xingamentos, o isolamento e o medo. Histórias de tentativas de suicídio.

No entanto, os depoimentos dos mais variados tipos de pessoas, atingem um ponto em que começam as falas otimistas. A mensagem principal é que, por pior que a situação possa parecer, principalmente para um adolescente que começa a se conhecer e descobrir o mundo, “as coisas vão melhorar”. Os depoimentos então giram em torno do fato de que ninguém merece o bullying, que é possível se ter uma vida autêntica e desfrutar de prazeres como fazer amigos, ser bem sucedido em uma carreira profissional, encontrar alguém para viver junto, ter filhos...

Nos EUA, a campanha conseguiu a adesão de celebridades e até mesmo do presidente, Barack Obama, que ressalta o fato de que a luta contra o preconceito e a discriminação não é só dos LGBT. Vale a pena assistir este depoimento e também o de funcionários de empresas como Facebook, Google, Apple e Pixar.

Para finalizar, cito outro exemplo muito legal. A propaganda irlandesa contra o bullying homofóbico “Stand Up – Don’t stand for homophobic bullying”, que convida a todos: Levante-se por seus amigos lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. A comovente atitude de um indivíduo contagiando outros contra a opressão do preconceito e da discriminação.

São maneiras muito positivas de abordar o tema. É possível ver os vídeos citados no Youtube, inclusive legendados. As coisas vão melhorar. Levante-se!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Preconceito se ensina e se aprende em casa


Polêmica na publicidade! Sites estrangeiros divulgaram recentemente uma propaganda produzida no Brasil carregada de homofobia. Ela sugere o consumo de cachaça aos pais como forma de aceitar a homossexualidade do filho.

A peça publicitária, em inglês, mostra a planta de uma casa. No sofá, quadrados coloridos identificam o lugar do filho e, ao lado, o do seu parceiro. Uma legenda indica que os dois estão vendo "O Segredo de Brokeback Mountain", filme sobre o amor entre dois caubóis gays. Abaixo, uma pequena foto da cachaça e a frase: "If you gotta be strong, we gotta be strong" (Se você tem de ser forte, nós temos de ser fortes).

A propaganda, sem dúvida, promove o preconceito. E me fez lembrar de uma frase do representante do movimento antiapartheid na África do Sul Nelson Mandela: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar".

O ódio é aprendido na propaganda, na sociedade. Mas também é em casa e na escola (a segunda casa) que muitas vezes ele é ensinado. Homossexuais enfrentam a discriminação de seus familiares, dos colegas de escola, dos professores que não os aceitam. Enfrentam insultos, espancamentos, xingamentos e chegam a ser expulsos de casa, numa omissão afetiva total por parte de sua família. Uma postura de rejeição, de medo.

No entanto, todo mundo pode fazer alguma coisa para ajudar a combater o preconceito. Se uma criança presencia um ato de discriminação na escola, na rua ou na tevê, e não tem espaço em casa para debatê-lo e entendê-lo, tem tudo para adotar o comportamento preconceituoso como certo. Mas se, ao contrário, ela tiver oportunidade de debate e entendimento, quem sabe, poderemos ver o mal eliminado em duas ou três gerações...

O preconceito é uma característica cultural. Se aprendemos com a família e com a convivência em sociedade, é algo adquirido e tudo que é adquirido pode ser desaprendido, retirado, desconstruído. Eis aí a questão. Não é fácil desaprender o preconceito, mas vale a pena começar. E já!

terça-feira, 15 de março de 2011

A força de um estereótipo


Uma voz fina que não combina com seus 105 quilos, 1,89 m de altura e o cinturão de campeão mundial do UFC, principal torneio de MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas, o antigo vale-tudo).

Com seu jeito de ser, o lutador Anderson Silva tem contribuído para quebrar estereótipos. Além da voz fina, ele cumprimenta todo mundo com a expressão “meu gato”, mantém no banheiro um estoque de cosméticos e frequenta clínica de estética.

O feito que o colocou em destaque na mídia foi ter vencido, em menos de três minutos, o rival Vitor Belfort com um chute de esquerda no queixo. O combate, anunciado como “luta do século”, aconteceu no dia 5 do mês passado, em Las Vegas (EUA).

A força de um estereótipo é tão grande que não atingimos sua total consciência. Recentemente me vi caindo em suas armadilhas. Em uma aula de inglês, eu tinha que identificar na fala de um jovem se ele lutava boxe por ter um temperamento agressivo. Um exercício de ouvir. A voz do rapaz me pareceu titubeante e eu saí com essa: “ele não tem voz de lutador”, sentenciei meio na brincadeira. E o risco mora justamente no humor que traveste o “pré” conceito. Uma amiga de sala me corrigiu lembrando que a voz fina de Anderson Silva não indicava o grande lutador que ele é. Meus planos de falar sobre ele em uma coluna se fortificaram.

A palavra estereótipo vem do grego: “stereos” e “typos”, que compõem “impressão sólida”. Trata-se de uma imagem preconcebida de uma pessoa, coisa ou situação. Essa impressão acaba limitando as infinitas possibilidades de expressão de tal situação, coisa ou pessoa. Sua aceitação, no entanto, é ampla e geralmente provoca discriminação. O que complica ainda mais é que o estereótipo é muito difundido através do humor, as famosas piadinhas “inocentes” que manifestam racismo, homofobia, xenofobia, machismo e intolerância religiosa.

O preconceito e a discriminação podem ser praticados particularmente pelos indivíduos, mas acabam por alcançar o status de uma norma social e ganham uma prática institucionalizada. Tais atitudes associam crenças e sentimentos e, por isso, constituem uma força psicológica de enorme potencial. São vivências históricas e socioculturais que geram afetividades e ações em nosso dia a dia. No entanto, muitas vezes não percebemos que contribuímos para fortalecê-la ainda mais com comportamentos que a princípio são inofensivos. Vamos dar um chute no queixo do estereótipo. Avoa preconceito!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

“Nasci Assim”


Lady Gaga lançou há uma semana seu novo single: “Born This Way” (Nasci Assim). A letra da música diz muito sobre autoestima. Fala sobre agradecer pelo seu jeito, amar quem você é e que Deus não comete erros. Também aproveita para dizer que não se deve nutrir culpas ou arrependimentos. E apela: “Não resista, seja simplesmente uma rainha”. Rico ou pobre; preto, branco, pardo ou albino; libanês ou oriental.

Pede para que você exalte sua verdade. Cita também que “um amor diferente não é pecado”. E vai além: não importa se você é gay, hetero ou bi, lésbica ou transexual. Se a vida trouxe dificuldades, te deixaram afastado ou assediado, ame-se hoje! Não há outro jeito, eu nasci assim, repete insistentemente.

É importante falarmos de autoestima principalmente entre os LGBT, acostumados a serem considerados por muitos, na melhor das hipóteses, como diferentes (no mau sentido) ou até mesmo aberrações. Não é fácil conviver com este peso geralmente desde muito cedo. Sua autoestima pode ficar em frangalhos.

A música também sugere outro assunto delicado. A questão da escolha ou opção sexual. Historicamente a homossexualidade foi definida como “preferência” para rebater a psiquiatria tradicional que a considerava perversão ou desvio. Militantes homossexuais passaram a falar em “orientação” sexual. Preferência sugere uma escolha e hoje se reconhece que a homossexualidade não é opção, mas uma orientação sexual normal e definida na infância e, conforme alguns estudos, até mesmo genética.

A sexualidade humana é um fenômeno complexo. Há homens que desejam outros homens e isso é uma constante em suas vidas. Há outros que são curiosos e experimentam um ou mais contatos ao longo de suas vidas. Outros ainda se sentem atraídos por homens e mulheres. Há aqueles cujo prazer é apenas admirar os corpos de outros homens sem contato algum. Enfim... E mulheres são exatamente iguais neste sentido.

Ser homossexual é uma questão que diz respeito ao próprio indivíduo e não aos outros. A partir do momento em que o sujeito se aceita, muitos de seus sofrimentos evaporam. O que pode permanecer é a dor da rejeição de outras pessoas, mas este já é um problema externo.

Se a homossexualidade fosse uma questão de escolha pessoal, os indivíduos dentro desta orientação poderiam ser considerados masoquistas. Ninguém opta por ser discriminado e tratado com desprezo. Por isso, “não há outro jeito, eu nasci assim”.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Aprovação do casamento gay?


Novamente o casamento gay. Notícias na internet (a partir de matéria do site Mix Brasil) dão conta de que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), o órgão máximo do poder judiciário brasileiro, um processo movido pelo governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, que pede mudanças na lei do casamento para que homossexuais também possam se unir judicialmente.

O pedido do governador foi feito em 2008 para que funcionários homossexuais do Estado do Rio possam se casar e ter equiparados direitos dados a casais heterossexuais, como pensão, previdência, auxílio moradia e financiamentos especiais, entre outros.

Caso o STF aprove o pedido, automaticamente todos os brasileiros passam a gozar da decisão, já que deliberações do Supremo são válidas para todo território nacional sem possibilidade de recurso. O pedido está em fase de conclusão e deve ser votado em plenário ainda este mês.

O relator do processo é o ministro Carlos Ayres Britto. Ele está finalizando sua justificativa durante as férias da Corte e as informações são de que ela será favorável. É o voto de cada um dos outros ministros, no entanto, que decidirá se o casamento passará a ser permitido ou não no país. O voto do ministro Carlos Ayres Britto vale tanto quanto o dos outros votantes.

Alguns dos outros dez ministros do STF já se posicionaram a favor da matéria em outras ocasiões, como a ministra Ellen Grace. Decisões recentes e isoladas de dezenas de tribunais regionais de primeira e segunda instância espalhados pelo país permitiram que homossexuais se casassem, também sinalizando a favor. Há decisões do tipo em praticamente todos os estados do Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Essas decisões todas são levadas em conta pelos ministros do Supremo. A aposta é que a maioria siga esse entendimento.

O Palácio do Planalto mostra-se favorável: a Advocacia Geral da União (AGU), que é montada pela presidência, encaminhou parecer ao STF defendendo a posição do governo a favor do reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo. O texto oficial enviado aos ministros lembra que a Constituição Federal protege a dignidade da pessoa humana e proíbe qualquer forma de discriminação. Ele foi enviado em 2009, com Lula presidente, mas não foi recolhido pela nova direção da AGU, agora sob comando de Dilma.

Vale lembrar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal não cede à pressão de nenhuma corrente pública - nem de evangélicos, nem de católicos e nem de grupos gays. As decisões da Corte são técnicas e constitucionais.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Não precisa mais contar


Não precisa mais contar porque não importa. A proibição de militares assumidamente homossexuais nas Forças Armadas norte-americanas fundamentava-se em estereótipo e preconceito.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sancionou no último mês (22/12) a extinção da lei que proibia gays nos serviços militares daquele país. Ele avalizou decisão do Congresso de anular tal lei, criada em 1993 e conhecida como "Don't Ask, Don't Tell" ("Não Pergunte, Não Conte").

O fato foi bem noticiado, mas talvez não tão refletido pois aconteceu numa época na qual as atenções estavam voltadas para as festas de fim de ano.

Vale a pena destacar o importante passo dado. Que diferença faz o fato de ser ou não gay para o exercício das atividades militares? Por acaso todos os heterossexuais são aptos? Claro que não. Da mesma forma, só os gays com condições de desempenhá-las é que o farão. E só irão comandar tropas se tiverem envergadura para isso. A não ser que o preconceito barre o processo.

Digo que a proibição era fundamentada em estereótipo pois só era explicada através de uma imagem preconcebida do homossexual masculino de que ele é afeminado. Isso limita muito o entendimento da homossexualidade, que se refere à atração de um ser por outro do mesmo sexo. E ponto. Qualquer outra característica associada é mera coincidência. Há gays com mais força física ou atitude que muitos heteros. Isso não diz nada a respeito do que eles preferem sexualmente.

É essa limitação, essa falta de conhecimento, que acaba gerando preconceito e discriminação. Não que o fato de saber isso ou aquilo vá necessariamente mudar convicções. O legal é poder compreender e passar a respeitar as diferenças.
O estereótipo é um conceito infundado. Atribui a todos os seres de um grupo uma característica, frequentemente depreciativa. E aí surgem o racismo, o machismo, a xenofobia, a homofobia e a intolerância religiosa.

Simbólico o fato de o presidente a sancionar o fim da proibição ser negro. Ele se declarou orgulhoso. Relatório da Defesa dos EUA divulgado no semestre passado revelou que a maioria dos militares aceita colegas gays. Cerca de 70% dos entrevistados disseram que o fim da lei “Não Pergunte, Não Conte” teria impacto positivo ou não faria qualquer diferença no funcionamento das Forças Armadas. As entrevistas foram realizadas com 115 mil militares e 44 mil cônjuges.

São indícios de mudanças positivas. A decisão foi, sem dúvida, uma vitória contra a intolerância!