sábado, 12 de janeiro de 2013

Arrasou!!!


A expressão “arrasou” é um exemplo do quanto a linha que separa o universo dos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) de outros mundos perde sua nitidez. Muitos heterossexuais usam tal expressão de admiração diante de um ato bem-sucedido de outra pessoa e que surgiu primeiro no dicionário gay.

Quando esta coluna começou a ser escrita, a visibilidade dos LGBTs não era tanta. Desde então, aumentou o número de personagens homossexuais nas telenovelas, passou-se a se discutir mais efetivamente temas polêmicos como o casamento gay.

Com o espaço “G, L e o quê?!”, acredito que cumpri meu papel de jornalista e também de psicólogo. Uma de minhas maiores alegrias foi quando uma psicóloga que eu não conhecia veio me contar que um paciente dela levava as colunas para a sessão de terapia para analisar alguns assuntos.

Outra coisa que ouvi foi sobre minha “coragem” ao falar de um tema tabu em uma cidade supostamente conservadora como Araçatuba. Nunca fui alvo de manifestações negativas. Creio no dever do jornalista de informar e no efeito positivo do conhecimento sobre a intolerância.

Foram mais de 100 textos em mais de quatro anos de publicações nesta Folha da Região. Tentei abordar assuntos variados, englobando universos pouco conhecidos do grande público. Vale destacar as reflexões sobre as questões que envolvem os transgêneros.

As manifestações oficiais de leitores, infelizmente, foram poucas. Não sei se elas expressam o medo de ser reconhecido como alguém que se interessa pelo tema. Para se ter uma ideia, o blog de mesmo nome tem 30 comentários desde que foi criado logo depois do lançamento da coluna no jornal no segundo semestre de 2008.              

Ainda no blog, que permite um acompanhamento estatístico, o texto mais visualizado em todo o período foi “Gogo boy e o desejo”, de janeiro de 2009, com 1.315 visualizações; seguido de “Mais consciência”, de janeiro de 2012, com 1.024; e “Preconceito se ensina e se aprende em casa”, de abril de 2011, com 952.

Agradeço à Folha da Região, representada por sua diretora-geral Ana Eliza Assis Lemos Senche. O jornal fez história ao disponibilizar um espaço específico para os LGBTs, tornando-se um dos poucos entre os veículos regionais a ter esta iniciativa, senão o único entre os diários no interior paulista. Com a publicação, reforça sua imagem de pluralidade de pensamento, valor tão importante para a imprensa livre. Agradeço ao grande incentivador da criação da coluna, o jornalista José Marcos Taveira.

Paro de escrever não porque não seja mais necessário falar sobre o assunto. O preconceito às vezes tem se tornado até mais violento do que sempre foi. Paro por questões pessoais, por ter assumido compromissos que não vão permitir que eu cuide da coluna com a atenção que ela merece. Novos desafios, novos caminhos. Mudança.
 
            Com certeza, eu não disse tudo o que era necessário. Quero continuar contribuindo com este jornal, compartilhando reflexões, sobre o tema e sobre outros assuntos. Fica também o convite para que você leitor se manifeste sempre que possível. Vá em frente! Se joga!

PS: Reprodução da última coluna publicada no jornal Folha da Região, de Araçatuba, em 12.01.13.

Minha intenção é manter este blog e tentar postar pequenas reflexões de maneira a conciliar com meus novos compromissos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Que venha 2013!


Fim de ano. É inevitável que a gente pare para pensar um pouco sobre vitórias e derrotas, perdas e conquistas. Também é o momento no qual a gente tenta projetar um futuro, fazer planos.

Os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) têm motivos para comemorar e fatos com os quais se preocupar. São vários os assuntos, mas vamos nos concentrar nos dois mais polêmicos e, por isso mesmo, mais importantes.

O ano de 2012 termina com a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo autorizando o “casamento gay”. Na prática, tal decisão obriga os cartórios a lavrar escrituras de casamento civil para casais gays, tanto para aqueles que tenham realizado o registro de união estável quanto para quem não tem o registro, mas quer lavrar o documento direto. Um passo à frente.

         São Paulo é o quarto estado brasileiro a adotar a medida, atrás de Alagoas, Bahia e Piauí. Correm processos semelhantes no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul.

         Vale ressaltar que o “casamento” que está se falando nada tem a ver com a cerimônia religiosa. Trata-se de um procedimento relacionado à garantia de direitos.

         O outro tema é a homofobia. O senador Paulo Paim (PT-SP) assumiu a coordenação das negociações para aprovação do PLC 122/06, há mais de dez anos em tramitação. Ele promete buscar o consenso na Comissão de Direitos Humanos (CDH). O senador assume a relatoria no lugar da senadora Marta Suplicy, que comanda o Ministério da Cultura desde setembro. Tudo no mesmo lugar.

O projeto enfrenta duras críticas, principalmente de evangélicos e católicos, para quem o mesmo restringe a liberdade de culto e de expressão ao coibir manifestações contrárias à homossexualidade.

Não será tarefa fácil. Enquanto isso, em São Paulo mais um homossexual foi agredido no sábado passado. Ele saía da boate The Week e foi espancado com barras de ferro. Na mesma, ou talvez um passo para trás.  

         Esta semana também o Governo Federal criou o Comitê de Enfrentamento da Homofobia no estado de São Paulo. Quem sabe um movimento adiante. Vale acompanhar.

Que venha 2013 e, com o novo ano, possamos ver ações concretas contra a intolerância. Atitudes que combatam a violência e o preconceito.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Beleza masculina


Mister Universo 2011, o mineiro Ralph Santos criticou esta semana os concursos de beleza masculinos do Brasil. Afirmou ter participado de muitos onde houve venda de títulos e assédio sexual. Agora, ele passa a ser o responsável pelo Mister Universo Brasil (MUB), o mais importante evento do gênero no País.

Interessante verificar que os concursos de beleza masculinos ganham espaço após o declínio das versões femininas. Bem que tentam voltar com as misses, mas até o momento não conseguiram convencer. Em um mundo que valoriza a imagem, parece coerente a realização de tal evento. No caso masculino, seria a concretização do homem objeto? Ou os concursos também têm outras funções?

O responsável pelo MUB afirma que a competição vai avaliar não só a beleza ou a desenvoltura dos candidatos nas passarelas, mas habilidades como aptidões artísticas, conhecimentos em política e cultura. Eles até terão que apresentar projetos sociais que melhorem a vida de suas comunidades.

Ah! A promessa é que o concurso, com realização prevista em Brasília-DF, será televisionado e se equipare ao Miss Universo. Com cenários e figurinos de luxo, apoio do Senado e direito a data no calendário nacional oficial.

Outra coisa, o organizador diz que homossexuais assumidos e portadores de deficiência terão oportunidade de participar. E por falar em homossexuais, são vários os concursos de beleza gay. O site Mix Brasil, por exemplo, tem um espaço só para notícias sobre esses eventos chamado “Mr. Gay”.

O Mister Brasil 2012 é o cabeleireiro brasiliense de 25 anos Thiago Ximenes. Já o Mr. Gay Mundo 2012 é o neozelandês de 32 anos Andreas Derleth. O Mr. Gay Mundo 2013 será realizado em Antuérpia, na Bélgica, entre 1º e 5 de agosto.  

No concurso mundial deste ano, após as provas conhecidas de apresentação, coletiva de imprensa, viagem e aptidão física, a prova final foi uma entrevista com questões para saber o que o candidato poderia fazer para melhorar a vida de LGBTs em todo o mundo. Os dez melhores colocados responderam questões sobre HIV, bullying, adoção e violência.

Após vencer o concurso, pediram a Andreas Derleth uma primeira mensagem para os LGBTs em todo o mundo. Ele disse: “Tenha orgulho de ser você mesmo”. Algo mais que um rostinho bonito?

 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Superman gay

            O ator Matt Bomer teria perdido o papel de Superman por ser gay assumido. Infelizmente, fatos como este ainda fazem parte da realidade de Hollywood. Comprovação de que o preconceito continua forte mesmo em áreas nas quais ele já poderia estar enfraquecido.

Afinal, o que justificaria tal atitude? Por acaso a qualidade de seu trabalho estaria comprometida pelo fato de ele ser homossexual? Nem precisamos listar os profissionais que realizam excelentes trabalhos nas mais diversas áreas e são gays. Ou o fato estaria em assumir publicamente tal condição? Bomer assumiu ser gay. Durante uma premiação agradeceu seu companheiro, Simon Halls. 

Mas por falar em super-heróis, em contrapartida, aumenta o número de gays e lésbicas nas histórias de editoras líderes de venda como a Marvel e a DC. Pesquisadores americanos arriscam em crescimento de aproximadamente 25% nos últimos dez anos.

As chamadas HQs (Histórias em Quadrinhos) são o espaço que mais acompanha as mudanças de comportamento em todo o mundo. Há quem fale em número acima de 200 personagens homossexuais, entre heróis, vilões e coadjuvantes.

Quem saiu do armário recentemente foi o Lanterna Verde original, Alan Scott, criado há 72 anos. Válido explicar que existem vários Lanternas Verdes, entre eles Hal Jordan, que foi levado à telona num filme com Ryan Reynolds também recentemente.

Podemos citar outros heróis gays como Starman, Colossus Ultimate, o casal  Hulking e Asgardiano, as meninas Questão e Batwoman.

Estrela Polar foi o primeiro super-herói importante a se assumir publicamente homossexual já em 1992. Vinte anos depois, o integrante dos X-men protagonizou em junho deste ano um casamento gay. Também conhecido como Northstar, o canadense de olhos azuis e mecha grisalha no cabelo, que voa a velocidade sobre-humana, casou-se com Kyle, seu namorado de longa data.

            No Brasil, até mesmo na Turma da Mônica, de Maurício de Souza, personagens homossexuais ensaiam aparição. Em uma das histórias, Tina insinua que seu amigo é gay.

            Para finalizar, uma curiosidade: Superman, quando exposto a Kriptonita Rosa, muda momentaneamente sua orientação sexual...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

De volta aos Trans


 
A proposta deste espaço, desde o início, sempre foi fugir dos rótulos que aprisionam. No entanto, vivemos em uma sociedade que alivia suas angústias e ansiedades quando as nomeia. Por isso, e por entender que informação combate preconceitos, considero importante voltar às questões do T da sigla LGBT.

Os Transgêneros formam um grupo bastante diverso e, no entanto, figuram juntos, o que para muitos é um erro. Se já é difícil entender a diferença entre um homossexual e um transexual, o que dirá diferenciar transexual de travesti, drag queen de crossdresser.

            Quando falamos em homossexualidade (masculina ou feminina) e em bissexualidade estamos no campo da chamada “orientação sexual”. A pessoa nasceu com determinado sexo (gênero) e tem seu interesse sexual orientado para o mesmo sexo. Ou para ambos, no caso da bissexualidade. No entanto, tal pessoa não quer mudar de sexo, por exemplo. Fato que acontece com os transexuais, que acreditam ter nascido com o sexo errado.

            Este fato muda muita coisa. A transexualidade e a travestilidade referem-se, portanto, à “identidade de gênero”, ou seja, uma questão ligada à identificação com o gênero (sexo). Vivemos em uma cultura que entende as pessoas como homem ou mulher, masculino ou feminino. Por isso, a dificuldade de entender e encaixar quem de algum modo se desvia de tais classificações.

            Para se ter uma ideia, existe a Campanha Internacional Stop Trans Pathologization pela despatologização das identidades trans (travestis, transexuais e transgêneros). Patologia refere-se a doença, portanto, a proposta é que as identidades trans deixem de ser consideradas doenças no DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, e na CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, da Organização Mundial de Saúde.

            A França foi o primeiro país que deixou de considerar a transexualidade um transtorno mental. Isso aconteceu em 2010.

O transexual, então, é a pessoa que identifica-se com o gênero diferente do qual nasceu. Quer viver e ser aceito como alguém do sexo oposto. O travesti veste roupas, algumas vezes usa nome, corte de cabelo, modos e timbre de voz do sexo oposto, bem como gratifica-se sexualmente. 

Drag queens  e Transformistas vestem-se como o sexo oposto para fins artístico-comerciais. Os primeiros de maneira cômica e exagerada. Ambos, sem que isso tenha necessariamente a ver com sua orientação sexual.

Temos ainda os crossdressers. Pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto seja para vivenciá-lo, por motivos profissionais ou ainda para obter gratificação sexual. Bom, é isso. E viva a diversidade!   

 

sábado, 29 de setembro de 2012

‘Sintomas’ homossexuais



Na Malásia, o Ministério da Educação recomenda uma lista de características ou “sintomas” para ajudar os pais a identificarem se seus filhos são homossexuais. A tal lista, segundo o “Global Post”, foi distribuída aos participantes de um seminário com o tema: “Como os pais devem abordar a questão dos LGBTs”, além de publicada no diário chinês “Sin Chew Daily”.

Entre os meninos, os “sintomas” são: ter um corpo musculoso e gostar de exibi-lo usando camisas com gola “V” e sem mangas; preferir roupas justas e de cores claras; sentir atração por homens; e gostar de usar bolsas grandes, parecidas com as usadas por mulheres.
Já entre as meninas: atração por mulheres; distanciar-se de outras mulheres que não sejam suas companhias femininas; gostar de sair, fazer refeições e dormir na companhia de mulheres; e não ter afeto por homens.

O Ministério da Educação da Malásia recomenda ainda que, uma vez identificado o “sintoma”, os pais devem dar “atenção imediata”. Segundo o órgão, jovens são facilmente influenciados por sites e blogs ligados aos grupos LGBTs e a preocupação é que a homossexualidade se espalhe entre os escolares.

Interessante como os “sintomas” dos meninos são descritos de maneira mais abrangente, destacando características da vestimenta enquanto os das meninas giram exclusivamente em torno das relações.

País predominantemente muçulmano conservador, a Malásia tem leis que criminalizam a homossexualidade e permitem ao Estado punir gays com até 20 anos de prisão. No mundo, 78 países consideram a prática de sexo entre pessoas do mesmo gênero um ato ilegal. Em cinco países implica em pena de morte. São eles: Irã, Arábia Saudita, Iêmen, Mauritânia e Sudão, além das regiões norte da Nigéria e sul da Somália. Os dados são da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ILGA).

Dez nações, no entanto, permitem o casamento homossexual, entre elas a Argentina, e em 12 a adoção de crianças por casais homossexuais é admitida, entre estas o Brasil. Um total de 18 países possuem legislação específica para as pessoas que passaram por um processo de mudança de gênero.
Voltando à Malásia, este ano, o governo disse que personagens gays podem ser representados em filmes e na televisão. Mas com uma condição: ao final da história, o personagem deve se arrepender de sua homossexualidade e virar heterossexual.


domingo, 9 de setembro de 2012

Pai de saia




A notícia de que um pai estaria usando saia porque seu filho de cinco anos gosta de usar vestidos provocou reações as mais diversas recentemente. O caso aconteceu em um vilarejo no sul da Alemanha e a notícia rodou o mundo. O alemão teria percebido que seu filho gosta de usar vestidos e era ridicularizado por isso no jardim da infância. A saída que ele encontrou para oferecer apoio ao menino e diminuir seu sofrimento foi começar a usar saias.

O garoto também teria resolvido pintar as unhas e o pai permitido que o filho pintasse as dele. E mais: o menino teria indagado se poderia continuar se vestindo diferente. Foi quando o pai, não querendo dizer ao filho que não podia usar vestidos, resolveu ele mesmo usar saias. Segundo o pai, desta maneira o garoto se sente mais confiante.

O fato abre discussões que enveredam pela Psicologia e pela Sociologia. A atitude do pai pode ser encarada como prova de amor e apoio ao filho, mas também como irresponsabilidade. Há quem defenda que ele pode estar ignorando algum conflito psicológico, não necessariamente sexual, e o mais recomendável seria recorrer à avaliação de um profissional.

Diferenciar sexo e gênero também pode ajudar a entender o assunto.  Ao falarmos de sexo, nos referimos aos aspectos físicos dos indivíduos, às características biológicas de macho e de fêmea. Literalmente, mulheres têm vagina e homens têm pênis. Só as mulheres podem engravidar.

A partir do conhecimento dessas diferenças sexuais, a sociedade estabelece o que é ser homem e o que é ser mulher, define o masculino e o feminino. O gênero então é uma construção social e, por isso, muda de uma época para outra e de um lugar para outro. Depende dos costumes, da experiência das pessoas. Varia a partir da política e da religião, entre vários outros fatores históricos. O gênero diz respeito ao papel social de uma pessoa baseado em seu sexo aparente, mas também em outros fatores, como culturais e interpessoais. O sentimento de pertencer a um gênero diferente do biológico, por exemplo, é o caso dos transexuais. Portanto, o fato de um pai usar saia envolve bem mais coisas que o simples poder de chocar. Fica a reflexão de como encarar e reagir a ele.