sábado, 18 de julho de 2009

As barbies e a fragilidade


Nos últimos dias muito se ouviu falar de “Neverland” por causa de Michael Jackson. A tal “Terra do Nunca”, promessa de juventude eterna, seduz nossa sociedade atual muito mais do que em qualquer outra época. Recusamo-nos a crescer e envelhecer.
Entre os gays, muitos são suscetíveis a esta cultura. Há uma busca incessante pelo belo. Uma turma bem definida neste aspecto é o das chamadas “barbies”, que levam o culto ao corpo ao extremo da perfeição. São os musculosos, sarados e bronzeados.
Mas – como sempre – tem muito mais coisa envolvida nisso. Os descamisados formam um grupo e fazer parte dele ou ser rejeitado e ficar de fora é a questão. É um mundo de grife e de festas.
O imaginário gay é povoado por homens fortes e másculos há muito tempo. Os meios de comunicação alimentam este ideal de beleza. Sentir-se desejado é bom para mulheres, homens e gays enquanto jovens, adultos ou idosos. O perigo é sacrificar-se por isso, algumas vezes arriscando a própria vida com excessos.
Por trás desta busca, são possíveis algumas leituras interessantes. Fazer parte do grupo é uma maneira de se inserir na sociedade. Adotar determinado modelo de corpo pode ser uma forma de mostrar para a sociedade o quanto se é bom e bonito, apesar de toda a perseguição e preconceito? Os músculos podem querer substituir uma magreza exposta na história recente marcada pelo estigma de que homossexualidade e Aids eram sinônimos. Masculinidade no lugar da fragilidade? Um cuidado próprio que quase dói. Como se tantos músculos pudessem proteger.
Não se iluda, todos nós estamos de certa forma cultuando o mesmo deus. Nossa sociedade adora a imagem. É o lugar do momento, a roupa da moda ... Todos queremos nos mostrar dignos de admiração. No fundo é como se estivéssemos dizendo: "Veja eu tenho um belo peitoral, um belo carro, ... você pode me amar, eu mereço!". O engodo é tornar o meio um fim em si mesmo, fazer de um traço de valor a coisa mais importante de nossas vidas. Cultivar o traço menos por prazer e mais por uma necessidade desesperada e inconsciente de ter que atingir a perfeição. Me erra! Me deixa!

Um comentário:

£an disse...

Muito bem exposta a idéia central do texto. Eu sempre pensei que esse culto exagerado à imagem trazia mais dor e sofrimento que alegrias... Mesmo nós, querendo ou não, acabamos vez por outra caindo nas redes que pregam seguir a última moda, ser sempre o mais bonito, o mais sarado, entre outros. A imagem tem poder muito mais que os atos e as palavras... É uma coisa de fato lamentável. Eu tenho amigas e amigos gays que só se sentem plenos quando saem de uma loja Calvin Klein com inúmeras sacolas de compra, fato que me indigna profundamente... Mas, enfim... Beleza, imagem, consumo, são três lados de um mesmo dado, e as essas coisas apenas se alternam no topo, já que mudanças de fato não acontecem.