A proposta do blog é ser fonte de informação e discussão de temas da comunidade gay. A ideia não é ficar falando apenas para o público gay, mas colocar todo mundo para pensar junto. Afinal, somos G, L, B, T, S e tantos mais. O próprio nome do blog quer provocar um estranhamento: a sigla que se refere à comunidade gay cada hora aparece agregando um novo rótulo. Pra quê?
domingo, 19 de dezembro de 2010
Esperanças
Fim de ano. A tendência é renovar as esperanças. Apesar de agressões irracionais nos surpreenderem a cada esquina, acreditamos ser possível um mundo mais tolerante. Depende de cada um de nós. Não é tão difícil tentar compreender que o outro é diferente da gente e ao mesmo tempo igual. Diferente nas maneiras como se expressa e se manifesta. Igual em essência, ser humano.
Na semana passada o governo federal criou o Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Prefiro fechar o ano de 2010 comentando esta notícia e depositando na iniciativa a expectativa de mudanças, em meio à polêmica dos últimos ataques contra homossexuais em São Paulo.
O conselho, voltado ao movimento gay, terá a função de combater a homofobia e promover os direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Ele substitui uma instância de mesmo nome criada em 2001 para combater a discriminação de forma geral, mas que foi esvaziada pela criação de conselhos específicos (negros, idosos e deficientes). Reformulado, pretende estabelecer contato mais direto entre sociedade civil e governos.
Vai, por exemplo, mobilizar parlamentares em favor do projeto que criminaliza a discriminação contra gays. Outra função é a de acompanhar de perto as ações desenvolvidas por Estados e municípios.
É a primeira vez que um colegiado específico para o movimento LGBT é criado na esfera federal. Integrantes da sociedade civil, ministérios, secretarias vinculadas à Presidência da República, Casa Civil, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, magistratura federal e Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara vão formar o conselho. A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) pedia a sua criação desde 2008 e comemorou a publicação do decreto.
Outro fato que pode reforçar as esperanças é que a deputada Maria do Rosário (PT-RS), escolhida pela presidenta Dilma Roussef para assumir o ministério da Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SNDH), afirma que o Brasil terá um programa de garantia aos direitos dos homossexuais. Ela entende que o país vive contradições nos Direitos Humanos pois trabalha de forma célere a inclusão, mas registra preconceitos muito fortes que precisam ser enfrentados. 2011 está aí para isso.
Ditadura de Gênero
Um dos principais quadrinistas do Brasil, Laerte chocou seus fãs recentemente ao adotar a prática do cross-dressing. Aos 59 anos, ele simplesmente surgiu de roupas femininas, unhas pintadas e maquiagem. Um amigo meu, chargista e fã de Laerte de longa data, afirma que não consegue mais ver o quadrinista com a mesma admiração que antes. O fato ilustra bem o quanto o papel de gênero nos afeta.
Laerte participou de diversas publicações, entre elas de O Pasquim. Colaborou com as revistas Veja e Istoé e os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Criou diversos personagens, como os Piratas do Tietê e Overman. Em conjunto com Angeli e Glauco (e mais tarde Adão Iturrusgarai) desenhou as tiras de Los Três Amigos.
Ele dá uma imensa contribuição na luta contra o preconceito ao expor o que chama de “ditadura dos gêneros”. Fala em tabus que não podem ser quebrados e de liberdade tolhida. De fato, limitamos as possibilidades de expressão na vida quando restringimos socialmente a maneira como as pessoas devem se vestir ou falar.
Cross-dressing é um termo que se refere a pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto. Não está relacionado com a orientação sexual, portanto, um cross-dresser pode ser heterossexual, homossexual, bissexual, transexual ou mesmo assexual. Geralmente não há modificação corporal, seja através da terapia hormonal ou cirurgias.
Laerte diz que se aproximou do cross-dressing em 2004 e que o fato não é um fetiche sexual. Para ele, é uma questão de gênero, não de sexo. É um erro achar que o cara é gay porque se vestiu de mulher ou que é macho porque jogou bola. A divisão do mundo entre mulheres e homens é um dogma muito forte e não se rompe isso facilmente. Bissexual, Laerte exibe atualmente uma namorada. Desafia os códigos estabelecidos e perturba todo o ambiente a seu redor.
A maioria das pessoas até se espantam, mas procuram não demonstrar. Se deixarem isso acontecer, segundo ele, estariam ferindo um código de boa conduta intelectual, demonstrando que não são modernos. A hipocrisia está sempre próxima do preconceito.
Último fato importante: Laerte afirma não concordar com o lema “existimos pelo prazer de ser mulher” do Brazilian Cross-dresser Club, do qual faz parte. Ele diz que nunca será mulher, mas defende o direito de se apresentar ao mundo daquela maneira.
domingo, 7 de novembro de 2010
Bullying homofóbico
Uma campanha antibullying tem ganhado força nos EUA depois da perseguição e morte de jovens gays. O astro pop Justin Bieber teria resolvido apoiar a luta contra a discriminação depois de sofrer na pele um ataque homofóbico.
Bieber estava no Canadá participando de um jogo de laser tag, no qual adversários se enfrentam com armas de mentira. Um garoto de 12 anos passou o jogo inteiro mirando no astro de maneira agressiva e, quando Justin resolveu dar um basta, o menino teria perguntado em tom ameaçador: "O que você vai fazer sobre isso, sua bicha?". Bieber ficou passado com a raiva do oponente, que reafirmou: "Você é uma bicha!".
O astro, que se diz heterossexual, teria dito a amigos que não tinha ideia do quanto doloroso comentários homofóbicos podiam ser.
Ativistas gays dos Estados Unidos denunciam o aumento de crimes contra homossexuais em 2010. O último caso registrado ocorreu no Bronx, em Nova York, onde um homossexual de 17 anos foi sequestrado e torturado pelo bando criminoso Latin King Goones. A polícia afirmou que os criminosos espancaram e abusaram sexualmente do rapaz usando um desentupidor de pia. Outros crimes aconteceram no Stonewall Innm, bar em que nasceu o movimento americano de defesa aos direitos gays.
O caso recente mais chocante de violência contra gays talvez seja o do jovem Tyler Clementi, de 18 anos, que estudava na Universidade Rutgers, e cometeu suicídio depois da divulgação de um vídeo em que aparecia em momentos íntimos com outro rapaz. Nesta semana Dharun Ravi e Molly Wei, alunos da mesma instituição, foram detidos acusados de espalhar o material. Eles devem ser indiciados por violação da vida privada.
Tyler Clementi não teria aguentado a humilhação de ter sua intimidade invadida e, três dias depois da publicação do vídeo, se matou pulando da ponte George Washington, que liga Nova York a Nova Jersey. “Vou pular da ponte GW, lamento", publicou em sua página no Facebook.
O fato mostra bem o quanto, apesar da evolução tecnológica, vivemos nos primórdios da convivência e tolerância. Também ilustra o fato de nossos jovens enfrentarem as mesmas dúvidas e angústias das gerações anteriores, apenas emolduradas de forma diferente. Legal que o problema tenha ganhado nome em inglês, mas que isso sirva para que o mundo todo se uma contra ele.
No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)lançou uma cartilha para orientar pais e educadores no combate ao problema.
Para terminar este texto: a Câmara dos Vereadores de Bebedouro, no interior paulista, aprovou lei contra a discriminação aos LGBTs e contra a homofobia. A sugestão do projeto foi do grupo Viva Diversidade, baseado na Lei Estadual nº 10.948, de 2001, que combate o preconceito contra homossexuais. A prefeitura propôs e a Câmara aprovou, fixando uma multa de até R$ 6 mil para pessoas ou empresas que discriminarem homossexuais, dinheiro que será encaminhado ao Fundo de Solidariedade do município.
Bieber estava no Canadá participando de um jogo de laser tag, no qual adversários se enfrentam com armas de mentira. Um garoto de 12 anos passou o jogo inteiro mirando no astro de maneira agressiva e, quando Justin resolveu dar um basta, o menino teria perguntado em tom ameaçador: "O que você vai fazer sobre isso, sua bicha?". Bieber ficou passado com a raiva do oponente, que reafirmou: "Você é uma bicha!".
O astro, que se diz heterossexual, teria dito a amigos que não tinha ideia do quanto doloroso comentários homofóbicos podiam ser.
Ativistas gays dos Estados Unidos denunciam o aumento de crimes contra homossexuais em 2010. O último caso registrado ocorreu no Bronx, em Nova York, onde um homossexual de 17 anos foi sequestrado e torturado pelo bando criminoso Latin King Goones. A polícia afirmou que os criminosos espancaram e abusaram sexualmente do rapaz usando um desentupidor de pia. Outros crimes aconteceram no Stonewall Innm, bar em que nasceu o movimento americano de defesa aos direitos gays.
O caso recente mais chocante de violência contra gays talvez seja o do jovem Tyler Clementi, de 18 anos, que estudava na Universidade Rutgers, e cometeu suicídio depois da divulgação de um vídeo em que aparecia em momentos íntimos com outro rapaz. Nesta semana Dharun Ravi e Molly Wei, alunos da mesma instituição, foram detidos acusados de espalhar o material. Eles devem ser indiciados por violação da vida privada.
Tyler Clementi não teria aguentado a humilhação de ter sua intimidade invadida e, três dias depois da publicação do vídeo, se matou pulando da ponte George Washington, que liga Nova York a Nova Jersey. “Vou pular da ponte GW, lamento", publicou em sua página no Facebook.
O fato mostra bem o quanto, apesar da evolução tecnológica, vivemos nos primórdios da convivência e tolerância. Também ilustra o fato de nossos jovens enfrentarem as mesmas dúvidas e angústias das gerações anteriores, apenas emolduradas de forma diferente. Legal que o problema tenha ganhado nome em inglês, mas que isso sirva para que o mundo todo se uma contra ele.
No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)lançou uma cartilha para orientar pais e educadores no combate ao problema.
Para terminar este texto: a Câmara dos Vereadores de Bebedouro, no interior paulista, aprovou lei contra a discriminação aos LGBTs e contra a homofobia. A sugestão do projeto foi do grupo Viva Diversidade, baseado na Lei Estadual nº 10.948, de 2001, que combate o preconceito contra homossexuais. A prefeitura propôs e a Câmara aprovou, fixando uma multa de até R$ 6 mil para pessoas ou empresas que discriminarem homossexuais, dinheiro que será encaminhado ao Fundo de Solidariedade do município.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
OFICINA DE LEITURA CRÍTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Pessoal, quero fazer um convite especial a todos que acompanham o blog.
No período de 30 de outubro a 11 de dezembro, sempre aos sábados, das 8h às 12h, estarei coordenando a oficina "Leitura Crítica dos Meios de Comunicação" na OC Silvio Russo (Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo).
O projeto pretende iniciar leigos (e iniciados também, por que não?) a fazerem uma leitura crítica das informações transmitidas pelos diversos meios de comunicação (TV, Rádio, Jornal, Internet, etc.) com relação às influências psicológicas e ideológicas. De maneira a unir teoria e prática, a proposta é trabalhar essencialmente material do dia a dia, como propagandas, programas de televisão e sites, entre vários outros.
Vivemos um momento histórico no qual os indivíduos cada vez mais são dependentes de informações. Os sujeitos do mundo contemporâneo necessitam desenvolver habilidades e competências para receber, organizar e utilizar da melhor maneira essas informações.
A comunicação é o veículo de disseminação das informações e apresenta peculiaridades que muitas vezes passam despercebidas pelos receptores.
Tal proposta busca combater o olhar ingênuo diante da comunicação e criar oportunidades de autoconhecimento através da influência dessa comunicação nos indivíduos.
Ficaria muito feliz em contar com vocês.
Outras informações na OC Silvio Russo, rua Conselheiro Oscar Rodrigues Alves 169, centro, Araçatuba. Telefones (18) 3625-5357 e (18) 3441-1488.
A oficina é gratuita e será fornecido certificado. São apenas 15 vagas.
Abração
No período de 30 de outubro a 11 de dezembro, sempre aos sábados, das 8h às 12h, estarei coordenando a oficina "Leitura Crítica dos Meios de Comunicação" na OC Silvio Russo (Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo).
O projeto pretende iniciar leigos (e iniciados também, por que não?) a fazerem uma leitura crítica das informações transmitidas pelos diversos meios de comunicação (TV, Rádio, Jornal, Internet, etc.) com relação às influências psicológicas e ideológicas. De maneira a unir teoria e prática, a proposta é trabalhar essencialmente material do dia a dia, como propagandas, programas de televisão e sites, entre vários outros.
Vivemos um momento histórico no qual os indivíduos cada vez mais são dependentes de informações. Os sujeitos do mundo contemporâneo necessitam desenvolver habilidades e competências para receber, organizar e utilizar da melhor maneira essas informações.
A comunicação é o veículo de disseminação das informações e apresenta peculiaridades que muitas vezes passam despercebidas pelos receptores.
Tal proposta busca combater o olhar ingênuo diante da comunicação e criar oportunidades de autoconhecimento através da influência dessa comunicação nos indivíduos.
Ficaria muito feliz em contar com vocês.
Outras informações na OC Silvio Russo, rua Conselheiro Oscar Rodrigues Alves 169, centro, Araçatuba. Telefones (18) 3625-5357 e (18) 3441-1488.
A oficina é gratuita e será fornecido certificado. São apenas 15 vagas.
Abração
domingo, 12 de setembro de 2010
As eleições e os gays
Babado! A campanha eleitoral de 2.010 já teve até beijo gay. E em horário nobre. Há quem considere o primeiro da TV aberta no Brasil.
A verdade é que não falta gente falando em gays e seus direitos nestas eleições. “Diversidade” é palavra fácil no discurso de muitos. Uns ampliam as discussões, outros as restringem. Mas, o mais importante, é que o assunto está “in”. E isso é muito bom, pois de um jeito ou de outro provoca reflexão.
O número de candidatos assumidos é considerável. A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) relaciona dez gays, duas lésbicas, um bissexual, uma travesti e uma drag queen em disputa. Somando os que estão no armário, o número é mesmo significativo.
No balaio tem figurinhas conhecidas. Ex-BBB e até ex-sargento – só não tem ex-gay, já seria outra lista. Direitos a serem defendidos não faltam. De acordo com um dos candidatos, são 87 os direitos dos gays atualmente negados.
Tem candidato que criou “viral” (publicidade que se aproveita de redes sociais) contendo situações metidas a cômicas no motel, que falam em experimentar o “diferente”. Estão apelando para tudo. Outro gravou paródia com o hit gay “I want to break free”, da antiga banda britânica Queen. Não falta “criatividade”.
É importante prestar atenção no que eles dizem e verificar onde realmente há comprometimento com uma sociedade mais tolerante. Vale destacar o que a ABGLT vem reclamando: em 22 anos de vigência da atual Constituição, nenhum projeto de promoção e defesa dos homossexuais foi aprovado no Congresso.
Em prioridade na pauta estão a união entre pessoas do mesmo sexo e a lei contra a homofobia, dois assuntos no topo dos temas polêmicos, que fazem os candidatos escorrerem como líquido. O que os seus candidatos pensam sobre estas e outras questões relacionadas e quais prometem ser as atitudes deles caso sejam eleitos? Já não dá mais para eles continuarem no armário...
A verdade é que não falta gente falando em gays e seus direitos nestas eleições. “Diversidade” é palavra fácil no discurso de muitos. Uns ampliam as discussões, outros as restringem. Mas, o mais importante, é que o assunto está “in”. E isso é muito bom, pois de um jeito ou de outro provoca reflexão.
O número de candidatos assumidos é considerável. A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) relaciona dez gays, duas lésbicas, um bissexual, uma travesti e uma drag queen em disputa. Somando os que estão no armário, o número é mesmo significativo.
No balaio tem figurinhas conhecidas. Ex-BBB e até ex-sargento – só não tem ex-gay, já seria outra lista. Direitos a serem defendidos não faltam. De acordo com um dos candidatos, são 87 os direitos dos gays atualmente negados.
Tem candidato que criou “viral” (publicidade que se aproveita de redes sociais) contendo situações metidas a cômicas no motel, que falam em experimentar o “diferente”. Estão apelando para tudo. Outro gravou paródia com o hit gay “I want to break free”, da antiga banda britânica Queen. Não falta “criatividade”.
É importante prestar atenção no que eles dizem e verificar onde realmente há comprometimento com uma sociedade mais tolerante. Vale destacar o que a ABGLT vem reclamando: em 22 anos de vigência da atual Constituição, nenhum projeto de promoção e defesa dos homossexuais foi aprovado no Congresso.
Em prioridade na pauta estão a união entre pessoas do mesmo sexo e a lei contra a homofobia, dois assuntos no topo dos temas polêmicos, que fazem os candidatos escorrerem como líquido. O que os seus candidatos pensam sobre estas e outras questões relacionadas e quais prometem ser as atitudes deles caso sejam eleitos? Já não dá mais para eles continuarem no armário...
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Argentina e casamento
A lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina proporcionou um momento importante de reflexão sobre o tema, principalmente sob a ótica das pessoas da região de Araçatuba, interior de São Paulo. Foi possível verificar algumas raras manifestações e tomadas de posicionamento.
Enquete realizada pelo jornal Folha da Região conseguiu número considerável de participantes: 272. Mostrou que 62,50% não concordam com o casamento gay contra 37,50% que concordam. Vale lembrar que o resultado não segue critérios de pesquisa científica, tendo intuito apenas de estimular o debate. No entanto, dá uma noção de nosso panorama.
O noticiário gerou a manifestação de leitores. Duas delas espontâneas e contrárias ao casamento. A primeira recorrendo ao argumento da perpetuação da espécie e a segunda ao próprio Deus. Uma terceira manifestação foi de indignação ao preconceito do autor da primeira opinião, que defendeu pena de morte para gays.
Com isso, temos o mapa do que nossa gente pensa a respeito do assunto. Claro que bastante incompleto, quero acreditar. Mas são os dados que temos. São as opiniões das pessoas que decidiram se manifestar.
Enquanto isso, o primeiro país a autorizar o casamento gay na América Latina já recebeu inúmeras consultas de estrangeiros que querem se casar no país. São casais do mesmo sexo do Paraguai, da Bolívia, Itália, Inglaterra e também do Brasil. Parece que não há problema para a realização destes casamentos na Argentina, já que a Constituição não impede casamento de estrangeiros.
Muitas dessas pessoas são idosos que querem evitar que companheiros, às vezes da vida inteira, não fiquem sem nada quando eles morrerem.
A lei, aprovada pelo Senado argentino dia 15 de julho e sancionada pela presidente Cristina Kirchner no último dia 20, entrou em vigor dia 30.
Nada melhor do que finalizar este texto com a frase da presidente Argentina ao sancionar a lei: “Hoje somos uma sociedade mais igualitária que na semana passada. Estas questões têm a ver com a condição humana, com a aspiração à igualdade. São coisas que não devem nos dividir, mas, sim, nos unir”.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Retorno da ‘Peste Gay’?
O Ministério da Saúde divulgou recentemente estudo revelando que jovens gays usam menos preservativo que os heterossexuais. A pesquisa ajuda a explicar recentes dados epidemiológicos divulgados pelo governo. Entre meninos na faixa etária dos 13 aos 19 anos, há mais casos de Aids por transmissão homossexual (33,5%) do que heterossexual (28,3%).
Quando começou a ser conhecida, a Aids foi chamada de “Peste Gay” em razão de o maior número de casos registrados na época estar entre os homossexuais. Prato cheio para preconceituosos. A sociedade assistiu à morte de muitos. Houve esclarecimento da população e, ao longo do tempo, os homossexuais deixaram de ser “grupo de risco”.
No entanto, hoje os fatos parecem reverter a situação. Jovens gays que tomaram consciência da própria sexualidade em uma época em que a Aids já não assusta com mortes públicas e os medicamentos possibilitam uma vida praticamente normal, ao que tudo indica estão se descuidando.
O estudo feito pelo Ministério da Saúde, com jovens de 10 capitais, mostra que 53,9% dos homossexuais entre 13 a 24 anos usaram camisinha na primeira relação sexual, índice abaixo dos 62,3% registrados entre jovens homens em geral, na mesma faixa etária.
Nas relações com parceiros fixos, os porcentuais também são mais baixos entre jovens gays: 29,3% usam camisinha, enquanto entre jovens em geral a média é de 34,6%.
Os únicos índices semelhantes entre as duas populações são o de uso de camisinha com parceiros casuais. Nesses casos, 54,3% dos gays entre 13 e 24 anos dizem usar preservativo. Entre jovens do sexo masculino em geral, o porcentual é de 57%.
O comportamento de risco revelado entre jovens gays destoa de outros dados apontados no trabalho. O estudo indica que a população gay em geral é mais bem informada, procura mais centros públicos de saúde para fazer testes de HIV e ter acesso a preservativos. Dos gays ouvidos na pesquisa, 23,5% disseram ter feito teste de HIV nos últimos 12 meses, o dobro do que foi constatado entre homens em geral: 11,2%.
A pesquisa mostra que 10,5% dos entrevistados são soropositivos. Na população masculina em geral, o índice é de 0,8%.
Os jovens gays definitivamente estão correndo mais riscos. Eles começam a vida sexual cada vez mais cedo e não estão se protegendo como deveriam. Está na hora de repensar comportamentos.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Visibilidade dos Trans
Alguns fatos demonstram que os Trans têm conseguido visibilidade positiva em nossa sociedade. E isso é muito bom. Principalmente se queremos ter uma sociedade mais justa e igualitária.
Os Trans, principalmente os travestis, sempre foram e ainda são vítimas de forte preconceito, inclusive por parte dos próprios gays. Menos estigmatizadas, as drags talvez estejam desempenhando a função de conquistadoras de respeito. A visibilidade parece indicar isso.
Recentemente, o quadro “O Curioso” do programa global “Fantástico” trouxe a história de Luma Andrade, de Russas (CE), que segundo eles é o primeiro travesti com doutorado no Brasil. Formada em Ciências, ela é doutoranda em Educação e tem planos de fazer pós na Sorbonne. Caso raro. Como a mesma contou, desde criança sofreu muito com o preconceito e a marginalização. Na escola, sempre gostava de brincar com as meninas, por isso, alimentava o ódio dos meninos, que batiam nela. Um belo dia, uma professora disse que era bem feito ela ter apanhado: “quem mandou ser assim...”. Para Luma, a escola muitas vezes se torna abominável para o diferente.
Realmente, a incompreensão à sua condição, marginaliza o travesti. Com baixa escolaridade, que pode ser explicada pela desistência por causa das chacotas e/ou violências das quais são vítimas, têm dificuldade de ingresso no emprego formal. Daí para a prática do sexo comercial muitas vezes é um passo.
Luma é uma exceção. E não parece ter sido fácil. Mesmo depois de formada e tendo passado em concurso público, teve dificuldade de assumir o cargo por ser travesti. Diziam que ela não conseguiria. Mas conseguiu.
O mesmo programa mostrou a primeira escola jovem LGBT, criada em Campinas (SP), que nasceu com a proposta de divulgar a cultura gay. Oferece cursos de Revista, Fanzine, Dança, Teatro, Cinema e TV Web. O mais procurado é o de Drag Queen.
E por falar em drags, Dimmy Kieer, o Dicesar do BBB, também protagonizou fato histórico. Tornou-se a primeira a ser capa de revista tradicional de nu masculino. Figurou ao lado dos gêmeos Diego e Dirceu Duarte, em ensaio especial da edição 150 da “G Magazine”.
Tudo bem que aos olhos de pessimistas, as histórias acima ainda figuram em um quadro televisivo que trata o assunto como “curioso” e o tal ensaio especial da drag do BBB com os tais gêmeos se resumiu a praticamente uma foto. Mesmo assim, um luxo!
Os Trans, principalmente os travestis, sempre foram e ainda são vítimas de forte preconceito, inclusive por parte dos próprios gays. Menos estigmatizadas, as drags talvez estejam desempenhando a função de conquistadoras de respeito. A visibilidade parece indicar isso.
Recentemente, o quadro “O Curioso” do programa global “Fantástico” trouxe a história de Luma Andrade, de Russas (CE), que segundo eles é o primeiro travesti com doutorado no Brasil. Formada em Ciências, ela é doutoranda em Educação e tem planos de fazer pós na Sorbonne. Caso raro. Como a mesma contou, desde criança sofreu muito com o preconceito e a marginalização. Na escola, sempre gostava de brincar com as meninas, por isso, alimentava o ódio dos meninos, que batiam nela. Um belo dia, uma professora disse que era bem feito ela ter apanhado: “quem mandou ser assim...”. Para Luma, a escola muitas vezes se torna abominável para o diferente.
Realmente, a incompreensão à sua condição, marginaliza o travesti. Com baixa escolaridade, que pode ser explicada pela desistência por causa das chacotas e/ou violências das quais são vítimas, têm dificuldade de ingresso no emprego formal. Daí para a prática do sexo comercial muitas vezes é um passo.
Luma é uma exceção. E não parece ter sido fácil. Mesmo depois de formada e tendo passado em concurso público, teve dificuldade de assumir o cargo por ser travesti. Diziam que ela não conseguiria. Mas conseguiu.
O mesmo programa mostrou a primeira escola jovem LGBT, criada em Campinas (SP), que nasceu com a proposta de divulgar a cultura gay. Oferece cursos de Revista, Fanzine, Dança, Teatro, Cinema e TV Web. O mais procurado é o de Drag Queen.
E por falar em drags, Dimmy Kieer, o Dicesar do BBB, também protagonizou fato histórico. Tornou-se a primeira a ser capa de revista tradicional de nu masculino. Figurou ao lado dos gêmeos Diego e Dirceu Duarte, em ensaio especial da edição 150 da “G Magazine”.
Tudo bem que aos olhos de pessimistas, as histórias acima ainda figuram em um quadro televisivo que trata o assunto como “curioso” e o tal ensaio especial da drag do BBB com os tais gêmeos se resumiu a praticamente uma foto. Mesmo assim, um luxo!
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Gays e pedofilia
A polêmica em torno dos casos de pedofilia na Igreja Católica e a declaração do secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcisio Bertone, de que haveria uma relação entre o desvio sexual e a homossexualidade, levanta uma questão bastante interessante e que requer esclarecimentos.
Não vou comentar a declaração em si e suas implicações (penso que o tema já foi bastante debatido), mas quero provocar uma reflexão sobre o fato de muitas pessoas fazerem a mesma relação que o cardeal.
Isso ocorre em razão de se entender a homossexualidade como uma disfunção, uma doença, e também pelo fato de os casos de pedofilia que se tornam públicos envolverem, com maior frequência, homens adultos e crianças e adolescentes do mesmo sexo.
O importante é deixar claro que, cientificamente, não há maior predisposição para o abuso sexual infantil conforme determinada sexualidade (hetero, homo ou bi). A pedofilia é resultado de uma condição psíquica.
Curioso que o cardeal fez suas afirmações em entrevista coletiva no Chile ao comentar casos entre os quais o mais notável envolveu um sacerdote que mantinha relações sexuais com jovens do sexo feminino. Mas não vamos desviar do assunto... Não existe estudo comprovado que respalde as declarações do cardeal compartilhadas por muitos.
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), define a pedofilia como: “Preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes”.
Há até quem defenda ser a pedofilia um tipo de “orientação sexual”, indo contra o entendimento vigente. Assim, seria uma atração sexual da mesma forma que a heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade.
O fato é que uma pessoa pode ser considerada clinicamente como pedófila apenas pela presença de fantasias ou desejos sexuais. E as fronteiras entre infância e adolescência podem variar muito. A OMS, por exemplo, considera adolescência como o período entre 10 e 20 anos de idade.
As causas da pedofilia são indefinidas. Passam por características biológicas e psicológicas (alterações neurológicas desde o nascimento, deficiências hormonais, histórico de abuso sexual na infância ou aspectos comportamentais). Os tratamentos também são imprecisos. Terapias medicinais para controle do desejo sexual mostram alguns resultados, mas são alvo de muitas críticas médicas. A pedofilia também é vista como altamente resistente contra interferência psicológica.
Sobre a incidência de pedófilos na sociedade, pesquisas chegaram a apontar que até 25% dos adultos podem apresentar algum excitamento sexual em relação a crianças. As inúmeras redes de pedofilia com conexões internacionais que vêm sendo descobertas e envolvem os mais variados tipos de indivíduos, denunciam que a polêmica é bem maior do que parece. Assunto “uó” (ruim, desagradável), mas necessário.
Não vou comentar a declaração em si e suas implicações (penso que o tema já foi bastante debatido), mas quero provocar uma reflexão sobre o fato de muitas pessoas fazerem a mesma relação que o cardeal.
Isso ocorre em razão de se entender a homossexualidade como uma disfunção, uma doença, e também pelo fato de os casos de pedofilia que se tornam públicos envolverem, com maior frequência, homens adultos e crianças e adolescentes do mesmo sexo.
O importante é deixar claro que, cientificamente, não há maior predisposição para o abuso sexual infantil conforme determinada sexualidade (hetero, homo ou bi). A pedofilia é resultado de uma condição psíquica.
Curioso que o cardeal fez suas afirmações em entrevista coletiva no Chile ao comentar casos entre os quais o mais notável envolveu um sacerdote que mantinha relações sexuais com jovens do sexo feminino. Mas não vamos desviar do assunto... Não existe estudo comprovado que respalde as declarações do cardeal compartilhadas por muitos.
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), define a pedofilia como: “Preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes”.
Há até quem defenda ser a pedofilia um tipo de “orientação sexual”, indo contra o entendimento vigente. Assim, seria uma atração sexual da mesma forma que a heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade.
O fato é que uma pessoa pode ser considerada clinicamente como pedófila apenas pela presença de fantasias ou desejos sexuais. E as fronteiras entre infância e adolescência podem variar muito. A OMS, por exemplo, considera adolescência como o período entre 10 e 20 anos de idade.
As causas da pedofilia são indefinidas. Passam por características biológicas e psicológicas (alterações neurológicas desde o nascimento, deficiências hormonais, histórico de abuso sexual na infância ou aspectos comportamentais). Os tratamentos também são imprecisos. Terapias medicinais para controle do desejo sexual mostram alguns resultados, mas são alvo de muitas críticas médicas. A pedofilia também é vista como altamente resistente contra interferência psicológica.
Sobre a incidência de pedófilos na sociedade, pesquisas chegaram a apontar que até 25% dos adultos podem apresentar algum excitamento sexual em relação a crianças. As inúmeras redes de pedofilia com conexões internacionais que vêm sendo descobertas e envolvem os mais variados tipos de indivíduos, denunciam que a polêmica é bem maior do que parece. Assunto “uó” (ruim, desagradável), mas necessário.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Preconceito no futebol
Um dos ambientes mais preconceituosos no Brasil também é um dos espaços mais queridos dos brasileiros: o mundo do futebol. E o assunto preconceito no mundo do futebol tem ganhado a mídia com certa frequência. Recentemente foi o ex-jogador Raí quem comentou o respeito. Ele disse conhecer casos de jogadores vítimas de discriminação por saírem do armário. Chamou de “hipocrisia” a homofobia nos gramados e afirmou torcer para que sociedade, dirigentes de clubes e torcidas mudem de postura.
No entanto, esta mudança não deverá ser fácil. O preconceito domina o planeta. Da Alemanha vem o caso do empresário de jogadores e ex-técnico Rudi Assauer, que deixou clara sua aversão a homossexuais no futebol. Ele disse: "Talvez os gays tenham lugar em outros esportes. No futebol, não". Assauer foi além em sua intolerância afirmando que demitiria um jogador caso ele saísse do armário. "Eu diria: 'você foi corajoso', mas o despediria em seguida". Na verdade, o ex-técnico já expulsou de sua equipe um colaborador gay. Foi quando ele dirigia o Werder Bremen e um dos massagistas revelou sua homossexualidade. "Fui falar com ele e disse: 'Filho, me faça um favor e arrume outro emprego'". Na Itália, o técnico da seleção Marcelo Lippi também expôs seu preconceito ao falar o que pensa sobre homossexualidade e futebol. "Acredito que entre os jogadores não há gays. Em 40 anos de carreira nunca conheci um e nunca ouvi falar. Pode existir alguém que tenha tendências (homossexuais), mas não manifesta publicamente", disse.
No Brasil, Richarlyson tem sofrido a maior perseguição homofóbica do futebol nacional. Nem importa se ele é ou não homossexual. O jogador foi ameaçado de morte e, mesmo ouvindo milhares de vozes gritando ofensas no campo, tem entrado de cabeça erguida e feito seu trabalho.
Os dirigentes do clube, o São Paulo, estão dando aula de profissionalismo: "Não há situação nenhuma envolvendo o Richarlyson. O clube é dirigido de dentro para fora, a gente não resolve nada porque disseram algo na internet", afirmou Marco Aurélio Cunha, dirigente de futebol do clube. "Não temos de pedir nada. O Richarlyson e os demais têm de cumprir seus deveres de atleta, só isso." Disse ainda que "o São Paulo o respeita e o considera". Tá meu bem!
(Curiosidade: esta interjeição de espanto que encerra o artigo foi popularizada no mundo gay pela drag Dimmy Kieer, o Dicesar do BBB10).
Os dirigentes do clube, o São Paulo, estão dando aula de profissionalismo: "Não há situação nenhuma envolvendo o Richarlyson. O clube é dirigido de dentro para fora, a gente não resolve nada porque disseram algo na internet", afirmou Marco Aurélio Cunha, dirigente de futebol do clube. "Não temos de pedir nada. O Richarlyson e os demais têm de cumprir seus deveres de atleta, só isso." Disse ainda que "o São Paulo o respeita e o considera". Tá meu bem!
(Curiosidade: esta interjeição de espanto que encerra o artigo foi popularizada no mundo gay pela drag Dimmy Kieer, o Dicesar do BBB10).
Na foto, Richarlyson.
quarta-feira, 3 de março de 2010
O BBB da diversidade?
A atual edição do BBB (Big Brother Brasil, Rede Globo) começou sendo chamada por alguns como o “BBB da diversidade”. Afinal, trouxe a novidade de incluir três homossexuais assumidos: dois masculinos e um feminino.
Sem dúvida, o fato contribui para tornar o tema homossexualidade mais próximo do público em geral e para desmistificar algumas coisas. Apesar das aparências, no entanto, muito ainda tem que mudar até que o preconceito seja realmente extirpado e a diversidade aceita.
Senão, vejamos. A casa incluiu uma drag queen (Dimmy Kieer) e um gay extremamente efeminado. No primeiro caso, ponto positivo para a oportunidade de mostrar que a drag queen não é nenhum ser de outro mundo, mas alguém que pode ganhar a simpatia de muita gente e concorrer com igualdade ao prêmio de R$ 1,5 milhão. Tem até um nome: Dicésar.
No caso do Serginho, o gay extremamente feminino, a coisa muda um pouco de figura. São no mínimo curiosas manifestações, de pessoas que se denominam heterossexuais, de que o rapaz merece levar uns tapas porque “pensa que é mulher”. É mais difícil aceitá-lo. Ele subverte a ordem. Sai de seu lugar de homem e exalta os trejeitos femininos. Muitas vezes, é mais delicado que as próprias mulheres.
O gay efeminado e a drag queen compõem o imaginário do público em geral do que é ser gay. Muita gente acha ainda que todo homossexual gosta de se vestir de mulher. Outras tantas relacionam a fragilidade à homossexualidade. Ambos são tratados como ridículo e levam ao escracho. Mesmo escracho do selinho dado entre Dicésar e Serginho. Volto a ressaltar a importância de expor estas nuances, mas parece que a sociedade está longe de realmente ver com naturalidade o amor entre dois homens e/ou duas mulheres. Algo fora do caricato. Os dois gays masculinos não vão protagonizar um beijo gay romântico, por exemplo. Nem entre eles, nem com qualquer outro brother. Ainda falta um gay fora do estereótipo. O ex-BBB Jean Wyllys era o gay intelectual e estava sozinho na casa. Cumpriu seu papel sendo o primeiro homossexual a se assumir em rede nacional. O médico Marcelo se autodenominava bissexual e preferiu ficar no lado cômodo e aceito de sua sexualidade, dizendo-se interessado por uma sister.
Recaiam sobre a lésbica Angélica as chances de protagonizar uma mudança mais profunda. No entanto, ela acabou sendo eliminada. Morango foge do estereótipo de “sapatão” e isso foi muito bom para mostrar que existem outras cores entre os coloridos. O ideal mesmo é que não houvesse divisão em tribos. Quem sabe numa próxima edição...
Sem dúvida, o fato contribui para tornar o tema homossexualidade mais próximo do público em geral e para desmistificar algumas coisas. Apesar das aparências, no entanto, muito ainda tem que mudar até que o preconceito seja realmente extirpado e a diversidade aceita.
Senão, vejamos. A casa incluiu uma drag queen (Dimmy Kieer) e um gay extremamente efeminado. No primeiro caso, ponto positivo para a oportunidade de mostrar que a drag queen não é nenhum ser de outro mundo, mas alguém que pode ganhar a simpatia de muita gente e concorrer com igualdade ao prêmio de R$ 1,5 milhão. Tem até um nome: Dicésar.
No caso do Serginho, o gay extremamente feminino, a coisa muda um pouco de figura. São no mínimo curiosas manifestações, de pessoas que se denominam heterossexuais, de que o rapaz merece levar uns tapas porque “pensa que é mulher”. É mais difícil aceitá-lo. Ele subverte a ordem. Sai de seu lugar de homem e exalta os trejeitos femininos. Muitas vezes, é mais delicado que as próprias mulheres.
O gay efeminado e a drag queen compõem o imaginário do público em geral do que é ser gay. Muita gente acha ainda que todo homossexual gosta de se vestir de mulher. Outras tantas relacionam a fragilidade à homossexualidade. Ambos são tratados como ridículo e levam ao escracho. Mesmo escracho do selinho dado entre Dicésar e Serginho. Volto a ressaltar a importância de expor estas nuances, mas parece que a sociedade está longe de realmente ver com naturalidade o amor entre dois homens e/ou duas mulheres. Algo fora do caricato. Os dois gays masculinos não vão protagonizar um beijo gay romântico, por exemplo. Nem entre eles, nem com qualquer outro brother. Ainda falta um gay fora do estereótipo. O ex-BBB Jean Wyllys era o gay intelectual e estava sozinho na casa. Cumpriu seu papel sendo o primeiro homossexual a se assumir em rede nacional. O médico Marcelo se autodenominava bissexual e preferiu ficar no lado cômodo e aceito de sua sexualidade, dizendo-se interessado por uma sister.
Recaiam sobre a lésbica Angélica as chances de protagonizar uma mudança mais profunda. No entanto, ela acabou sendo eliminada. Morango foge do estereótipo de “sapatão” e isso foi muito bom para mostrar que existem outras cores entre os coloridos. O ideal mesmo é que não houvesse divisão em tribos. Quem sabe numa próxima edição...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Assumindo antes dos 15
A Secretaria de Estado da Saúde divulgou pesquisa realizada em São Paulo durante a última Parada LGBT apontando que um em cada três gays assume sua sexualidade diferente da hetero antes dos 15 anos de idade.
A pesquisa ouviu 211 pessoas que participaram do evento. Do total, 31,3% disseram ter assumido entre 10 e 14 anos. A maioria assume entre 15 e 19 anos: 62,8%; apenas 5,9% após os 20 anos.
Os gays têm mais facilidade de falar sobre sua sexualidade para a mãe do que para o pai. Dos entrevistados, 71,1% tinham assumido para a mãe.
O estudo também investigou comportamentos de risco e hábitos de prevenção a doenças. Entre as pessoas do sexo masculino, 42% responderam que haviam se relacionado sexualmente com mais de 10 parceiros, e 19,4%, com cinco a nove parceiros. Já entre as mulheres, 35% informaram terem tido relacionamento com mais de 10 parceiros e 30%, com cinco a nove parceiros. Elas vão mais preventivamente ao médico: 61,6%, contra 52,2% deles.
Metade das pessoas ouvidas relatou ser vítima de preconceito, discriminação ou falta de respeito nos serviços de saúde, e 9,95% alegaram falta de atenção, descaso ou desinteresse no atendimento.
A pesquisa confirma tendência na sociedade atual do despertar das pessoas para a sexualidade em idade cada vez mais jovem. Também sugere fragilidade no preparo de profissionais da saúde no atendimento dessas pessoas. Mudanças urgentes são necessárias para evitar problemas de saúde.
A própria secretaria que divulgou o estudo afirma estar desenvolvendo programa específico para atendimento de adolescentes LGBT em todo o estado. Em novembro realizou a capacitação de 800 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e dentistas dos serviços de saúde voltados a jovens.
O objetivo é preparar a rede para abordar o adolescente de forma que ele não se sinta discriminado, para que fique à vontade para falar sobre sua conduta sexual ou afetiva, deixando de lado medos e vulnerabilidades que possam levá-lo a comportamentos de riscos à saúde, como o sexo sem preservativo ou abuso de drogas e álcool, por exemplo.
Por causa desse programa, a Opas (Organização Panamericana de Saúde) convidou a secretaria para colaborar na elaboração de diretrizes que irão nortear o atendimento em saúde de adolescentes e jovens em toda a América Latina. Abalou!
A pesquisa ouviu 211 pessoas que participaram do evento. Do total, 31,3% disseram ter assumido entre 10 e 14 anos. A maioria assume entre 15 e 19 anos: 62,8%; apenas 5,9% após os 20 anos.
Os gays têm mais facilidade de falar sobre sua sexualidade para a mãe do que para o pai. Dos entrevistados, 71,1% tinham assumido para a mãe.
O estudo também investigou comportamentos de risco e hábitos de prevenção a doenças. Entre as pessoas do sexo masculino, 42% responderam que haviam se relacionado sexualmente com mais de 10 parceiros, e 19,4%, com cinco a nove parceiros. Já entre as mulheres, 35% informaram terem tido relacionamento com mais de 10 parceiros e 30%, com cinco a nove parceiros. Elas vão mais preventivamente ao médico: 61,6%, contra 52,2% deles.
Metade das pessoas ouvidas relatou ser vítima de preconceito, discriminação ou falta de respeito nos serviços de saúde, e 9,95% alegaram falta de atenção, descaso ou desinteresse no atendimento.
A pesquisa confirma tendência na sociedade atual do despertar das pessoas para a sexualidade em idade cada vez mais jovem. Também sugere fragilidade no preparo de profissionais da saúde no atendimento dessas pessoas. Mudanças urgentes são necessárias para evitar problemas de saúde.
A própria secretaria que divulgou o estudo afirma estar desenvolvendo programa específico para atendimento de adolescentes LGBT em todo o estado. Em novembro realizou a capacitação de 800 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e dentistas dos serviços de saúde voltados a jovens.
O objetivo é preparar a rede para abordar o adolescente de forma que ele não se sinta discriminado, para que fique à vontade para falar sobre sua conduta sexual ou afetiva, deixando de lado medos e vulnerabilidades que possam levá-lo a comportamentos de riscos à saúde, como o sexo sem preservativo ou abuso de drogas e álcool, por exemplo.
Por causa desse programa, a Opas (Organização Panamericana de Saúde) convidou a secretaria para colaborar na elaboração de diretrizes que irão nortear o atendimento em saúde de adolescentes e jovens em toda a América Latina. Abalou!
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
‘Prefiro filho ladrão a gay’
Com certeza você já deve ter ouvido a frase: "Prefiro ter filho ladrão a ter filho gay". Recebi um e-mail com um texto que começava com esta frase e falava um pouco da origem dela.
Trabalho de pesquisa publicado pela PUC Minas mostra que o pensamento é mais antigo do que parece. Segundo a pesquisadora Érika Pretes, vem do Brasil Colônia, quando havia o crime de sodomia. Na época, enquanto o ladrão respondia sozinho por seu crime, os familiares do sodomita também eram punidos e perdiam todos os seus pertences.
O estudo “História da Criminalização da Homossexualidade no Brasil: da Sodomia ao Homossexualismo” mostra a participação de instituições como o Estado e a Igreja na criação e perpetuação de discursos e práticas homofóbicas.
A relação sexual entre pessoas do mesmo sexo inicialmente era tida como pecado-delito. Quando a homossexualidade deixou de ser crime, houve apenas a substituição de uma forma de preconceito por outra e o preconceito em forma de lei passou a vir sob forma de falsa análise médico-científica.
Segundo a pesquisa, a partir de então as relações foram encaradas como um desvio biológico da sexualidade humana. A ciência buscou se distanciar da imagem criminalizada e pecadora produzindo denominações, daí surge o termo homossexualismo. A mudança foi falsamente progressista, não mudando em nada o preconceito. Os homossexuais continuaram sendo discriminados e passaram a ser tratados à força.
O estudo rendeu uma bolsa CNPQ para a pesquisadora Érika Pretes desenvolver nova pesquisa, desta vez sobre a criminalização da homofobia, atualmente em análise no Senado.
Por falar no PLC 122, a enquete sobre o tema promovida no site da Casa foi encerrada com resultado apertado, mas desfavorável à comunidade LGBT. A resposta contrária à aprovação do projeto venceu com 51,54% contra 48,46%. Foram contabilizadas mais de 400 mil participações.
Trabalho de pesquisa publicado pela PUC Minas mostra que o pensamento é mais antigo do que parece. Segundo a pesquisadora Érika Pretes, vem do Brasil Colônia, quando havia o crime de sodomia. Na época, enquanto o ladrão respondia sozinho por seu crime, os familiares do sodomita também eram punidos e perdiam todos os seus pertences.
O estudo “História da Criminalização da Homossexualidade no Brasil: da Sodomia ao Homossexualismo” mostra a participação de instituições como o Estado e a Igreja na criação e perpetuação de discursos e práticas homofóbicas.
A relação sexual entre pessoas do mesmo sexo inicialmente era tida como pecado-delito. Quando a homossexualidade deixou de ser crime, houve apenas a substituição de uma forma de preconceito por outra e o preconceito em forma de lei passou a vir sob forma de falsa análise médico-científica.
Segundo a pesquisa, a partir de então as relações foram encaradas como um desvio biológico da sexualidade humana. A ciência buscou se distanciar da imagem criminalizada e pecadora produzindo denominações, daí surge o termo homossexualismo. A mudança foi falsamente progressista, não mudando em nada o preconceito. Os homossexuais continuaram sendo discriminados e passaram a ser tratados à força.
O estudo rendeu uma bolsa CNPQ para a pesquisadora Érika Pretes desenvolver nova pesquisa, desta vez sobre a criminalização da homofobia, atualmente em análise no Senado.
Por falar no PLC 122, a enquete sobre o tema promovida no site da Casa foi encerrada com resultado apertado, mas desfavorável à comunidade LGBT. A resposta contrária à aprovação do projeto venceu com 51,54% contra 48,46%. Foram contabilizadas mais de 400 mil participações.
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