segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Que venha 2013!


Fim de ano. É inevitável que a gente pare para pensar um pouco sobre vitórias e derrotas, perdas e conquistas. Também é o momento no qual a gente tenta projetar um futuro, fazer planos.

Os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) têm motivos para comemorar e fatos com os quais se preocupar. São vários os assuntos, mas vamos nos concentrar nos dois mais polêmicos e, por isso mesmo, mais importantes.

O ano de 2012 termina com a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo autorizando o “casamento gay”. Na prática, tal decisão obriga os cartórios a lavrar escrituras de casamento civil para casais gays, tanto para aqueles que tenham realizado o registro de união estável quanto para quem não tem o registro, mas quer lavrar o documento direto. Um passo à frente.

         São Paulo é o quarto estado brasileiro a adotar a medida, atrás de Alagoas, Bahia e Piauí. Correm processos semelhantes no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul.

         Vale ressaltar que o “casamento” que está se falando nada tem a ver com a cerimônia religiosa. Trata-se de um procedimento relacionado à garantia de direitos.

         O outro tema é a homofobia. O senador Paulo Paim (PT-SP) assumiu a coordenação das negociações para aprovação do PLC 122/06, há mais de dez anos em tramitação. Ele promete buscar o consenso na Comissão de Direitos Humanos (CDH). O senador assume a relatoria no lugar da senadora Marta Suplicy, que comanda o Ministério da Cultura desde setembro. Tudo no mesmo lugar.

O projeto enfrenta duras críticas, principalmente de evangélicos e católicos, para quem o mesmo restringe a liberdade de culto e de expressão ao coibir manifestações contrárias à homossexualidade.

Não será tarefa fácil. Enquanto isso, em São Paulo mais um homossexual foi agredido no sábado passado. Ele saía da boate The Week e foi espancado com barras de ferro. Na mesma, ou talvez um passo para trás.  

         Esta semana também o Governo Federal criou o Comitê de Enfrentamento da Homofobia no estado de São Paulo. Quem sabe um movimento adiante. Vale acompanhar.

Que venha 2013 e, com o novo ano, possamos ver ações concretas contra a intolerância. Atitudes que combatam a violência e o preconceito.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Beleza masculina


Mister Universo 2011, o mineiro Ralph Santos criticou esta semana os concursos de beleza masculinos do Brasil. Afirmou ter participado de muitos onde houve venda de títulos e assédio sexual. Agora, ele passa a ser o responsável pelo Mister Universo Brasil (MUB), o mais importante evento do gênero no País.

Interessante verificar que os concursos de beleza masculinos ganham espaço após o declínio das versões femininas. Bem que tentam voltar com as misses, mas até o momento não conseguiram convencer. Em um mundo que valoriza a imagem, parece coerente a realização de tal evento. No caso masculino, seria a concretização do homem objeto? Ou os concursos também têm outras funções?

O responsável pelo MUB afirma que a competição vai avaliar não só a beleza ou a desenvoltura dos candidatos nas passarelas, mas habilidades como aptidões artísticas, conhecimentos em política e cultura. Eles até terão que apresentar projetos sociais que melhorem a vida de suas comunidades.

Ah! A promessa é que o concurso, com realização prevista em Brasília-DF, será televisionado e se equipare ao Miss Universo. Com cenários e figurinos de luxo, apoio do Senado e direito a data no calendário nacional oficial.

Outra coisa, o organizador diz que homossexuais assumidos e portadores de deficiência terão oportunidade de participar. E por falar em homossexuais, são vários os concursos de beleza gay. O site Mix Brasil, por exemplo, tem um espaço só para notícias sobre esses eventos chamado “Mr. Gay”.

O Mister Brasil 2012 é o cabeleireiro brasiliense de 25 anos Thiago Ximenes. Já o Mr. Gay Mundo 2012 é o neozelandês de 32 anos Andreas Derleth. O Mr. Gay Mundo 2013 será realizado em Antuérpia, na Bélgica, entre 1º e 5 de agosto.  

No concurso mundial deste ano, após as provas conhecidas de apresentação, coletiva de imprensa, viagem e aptidão física, a prova final foi uma entrevista com questões para saber o que o candidato poderia fazer para melhorar a vida de LGBTs em todo o mundo. Os dez melhores colocados responderam questões sobre HIV, bullying, adoção e violência.

Após vencer o concurso, pediram a Andreas Derleth uma primeira mensagem para os LGBTs em todo o mundo. Ele disse: “Tenha orgulho de ser você mesmo”. Algo mais que um rostinho bonito?

 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Superman gay

            O ator Matt Bomer teria perdido o papel de Superman por ser gay assumido. Infelizmente, fatos como este ainda fazem parte da realidade de Hollywood. Comprovação de que o preconceito continua forte mesmo em áreas nas quais ele já poderia estar enfraquecido.

Afinal, o que justificaria tal atitude? Por acaso a qualidade de seu trabalho estaria comprometida pelo fato de ele ser homossexual? Nem precisamos listar os profissionais que realizam excelentes trabalhos nas mais diversas áreas e são gays. Ou o fato estaria em assumir publicamente tal condição? Bomer assumiu ser gay. Durante uma premiação agradeceu seu companheiro, Simon Halls. 

Mas por falar em super-heróis, em contrapartida, aumenta o número de gays e lésbicas nas histórias de editoras líderes de venda como a Marvel e a DC. Pesquisadores americanos arriscam em crescimento de aproximadamente 25% nos últimos dez anos.

As chamadas HQs (Histórias em Quadrinhos) são o espaço que mais acompanha as mudanças de comportamento em todo o mundo. Há quem fale em número acima de 200 personagens homossexuais, entre heróis, vilões e coadjuvantes.

Quem saiu do armário recentemente foi o Lanterna Verde original, Alan Scott, criado há 72 anos. Válido explicar que existem vários Lanternas Verdes, entre eles Hal Jordan, que foi levado à telona num filme com Ryan Reynolds também recentemente.

Podemos citar outros heróis gays como Starman, Colossus Ultimate, o casal  Hulking e Asgardiano, as meninas Questão e Batwoman.

Estrela Polar foi o primeiro super-herói importante a se assumir publicamente homossexual já em 1992. Vinte anos depois, o integrante dos X-men protagonizou em junho deste ano um casamento gay. Também conhecido como Northstar, o canadense de olhos azuis e mecha grisalha no cabelo, que voa a velocidade sobre-humana, casou-se com Kyle, seu namorado de longa data.

            No Brasil, até mesmo na Turma da Mônica, de Maurício de Souza, personagens homossexuais ensaiam aparição. Em uma das histórias, Tina insinua que seu amigo é gay.

            Para finalizar, uma curiosidade: Superman, quando exposto a Kriptonita Rosa, muda momentaneamente sua orientação sexual...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

De volta aos Trans


 
A proposta deste espaço, desde o início, sempre foi fugir dos rótulos que aprisionam. No entanto, vivemos em uma sociedade que alivia suas angústias e ansiedades quando as nomeia. Por isso, e por entender que informação combate preconceitos, considero importante voltar às questões do T da sigla LGBT.

Os Transgêneros formam um grupo bastante diverso e, no entanto, figuram juntos, o que para muitos é um erro. Se já é difícil entender a diferença entre um homossexual e um transexual, o que dirá diferenciar transexual de travesti, drag queen de crossdresser.

            Quando falamos em homossexualidade (masculina ou feminina) e em bissexualidade estamos no campo da chamada “orientação sexual”. A pessoa nasceu com determinado sexo (gênero) e tem seu interesse sexual orientado para o mesmo sexo. Ou para ambos, no caso da bissexualidade. No entanto, tal pessoa não quer mudar de sexo, por exemplo. Fato que acontece com os transexuais, que acreditam ter nascido com o sexo errado.

            Este fato muda muita coisa. A transexualidade e a travestilidade referem-se, portanto, à “identidade de gênero”, ou seja, uma questão ligada à identificação com o gênero (sexo). Vivemos em uma cultura que entende as pessoas como homem ou mulher, masculino ou feminino. Por isso, a dificuldade de entender e encaixar quem de algum modo se desvia de tais classificações.

            Para se ter uma ideia, existe a Campanha Internacional Stop Trans Pathologization pela despatologização das identidades trans (travestis, transexuais e transgêneros). Patologia refere-se a doença, portanto, a proposta é que as identidades trans deixem de ser consideradas doenças no DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, e na CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, da Organização Mundial de Saúde.

            A França foi o primeiro país que deixou de considerar a transexualidade um transtorno mental. Isso aconteceu em 2010.

O transexual, então, é a pessoa que identifica-se com o gênero diferente do qual nasceu. Quer viver e ser aceito como alguém do sexo oposto. O travesti veste roupas, algumas vezes usa nome, corte de cabelo, modos e timbre de voz do sexo oposto, bem como gratifica-se sexualmente. 

Drag queens  e Transformistas vestem-se como o sexo oposto para fins artístico-comerciais. Os primeiros de maneira cômica e exagerada. Ambos, sem que isso tenha necessariamente a ver com sua orientação sexual.

Temos ainda os crossdressers. Pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto seja para vivenciá-lo, por motivos profissionais ou ainda para obter gratificação sexual. Bom, é isso. E viva a diversidade!   

 

sábado, 29 de setembro de 2012

‘Sintomas’ homossexuais



Na Malásia, o Ministério da Educação recomenda uma lista de características ou “sintomas” para ajudar os pais a identificarem se seus filhos são homossexuais. A tal lista, segundo o “Global Post”, foi distribuída aos participantes de um seminário com o tema: “Como os pais devem abordar a questão dos LGBTs”, além de publicada no diário chinês “Sin Chew Daily”.

Entre os meninos, os “sintomas” são: ter um corpo musculoso e gostar de exibi-lo usando camisas com gola “V” e sem mangas; preferir roupas justas e de cores claras; sentir atração por homens; e gostar de usar bolsas grandes, parecidas com as usadas por mulheres.
Já entre as meninas: atração por mulheres; distanciar-se de outras mulheres que não sejam suas companhias femininas; gostar de sair, fazer refeições e dormir na companhia de mulheres; e não ter afeto por homens.

O Ministério da Educação da Malásia recomenda ainda que, uma vez identificado o “sintoma”, os pais devem dar “atenção imediata”. Segundo o órgão, jovens são facilmente influenciados por sites e blogs ligados aos grupos LGBTs e a preocupação é que a homossexualidade se espalhe entre os escolares.

Interessante como os “sintomas” dos meninos são descritos de maneira mais abrangente, destacando características da vestimenta enquanto os das meninas giram exclusivamente em torno das relações.

País predominantemente muçulmano conservador, a Malásia tem leis que criminalizam a homossexualidade e permitem ao Estado punir gays com até 20 anos de prisão. No mundo, 78 países consideram a prática de sexo entre pessoas do mesmo gênero um ato ilegal. Em cinco países implica em pena de morte. São eles: Irã, Arábia Saudita, Iêmen, Mauritânia e Sudão, além das regiões norte da Nigéria e sul da Somália. Os dados são da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ILGA).

Dez nações, no entanto, permitem o casamento homossexual, entre elas a Argentina, e em 12 a adoção de crianças por casais homossexuais é admitida, entre estas o Brasil. Um total de 18 países possuem legislação específica para as pessoas que passaram por um processo de mudança de gênero.
Voltando à Malásia, este ano, o governo disse que personagens gays podem ser representados em filmes e na televisão. Mas com uma condição: ao final da história, o personagem deve se arrepender de sua homossexualidade e virar heterossexual.


domingo, 9 de setembro de 2012

Pai de saia




A notícia de que um pai estaria usando saia porque seu filho de cinco anos gosta de usar vestidos provocou reações as mais diversas recentemente. O caso aconteceu em um vilarejo no sul da Alemanha e a notícia rodou o mundo. O alemão teria percebido que seu filho gosta de usar vestidos e era ridicularizado por isso no jardim da infância. A saída que ele encontrou para oferecer apoio ao menino e diminuir seu sofrimento foi começar a usar saias.

O garoto também teria resolvido pintar as unhas e o pai permitido que o filho pintasse as dele. E mais: o menino teria indagado se poderia continuar se vestindo diferente. Foi quando o pai, não querendo dizer ao filho que não podia usar vestidos, resolveu ele mesmo usar saias. Segundo o pai, desta maneira o garoto se sente mais confiante.

O fato abre discussões que enveredam pela Psicologia e pela Sociologia. A atitude do pai pode ser encarada como prova de amor e apoio ao filho, mas também como irresponsabilidade. Há quem defenda que ele pode estar ignorando algum conflito psicológico, não necessariamente sexual, e o mais recomendável seria recorrer à avaliação de um profissional.

Diferenciar sexo e gênero também pode ajudar a entender o assunto.  Ao falarmos de sexo, nos referimos aos aspectos físicos dos indivíduos, às características biológicas de macho e de fêmea. Literalmente, mulheres têm vagina e homens têm pênis. Só as mulheres podem engravidar.

A partir do conhecimento dessas diferenças sexuais, a sociedade estabelece o que é ser homem e o que é ser mulher, define o masculino e o feminino. O gênero então é uma construção social e, por isso, muda de uma época para outra e de um lugar para outro. Depende dos costumes, da experiência das pessoas. Varia a partir da política e da religião, entre vários outros fatores históricos. O gênero diz respeito ao papel social de uma pessoa baseado em seu sexo aparente, mas também em outros fatores, como culturais e interpessoais. O sentimento de pertencer a um gênero diferente do biológico, por exemplo, é o caso dos transexuais. Portanto, o fato de um pai usar saia envolve bem mais coisas que o simples poder de chocar. Fica a reflexão de como encarar e reagir a ele.  

domingo, 19 de agosto de 2012

Guia de etiqueta para héteros


Com a frequência cada vez mais comum de heterossexuais em baladas gays, foi divulgado recentemente pela revista “Vice” um inusitado guia de etiqueta. Prático e engraçado. Agressivo e, por vezes, cruel.

O “Guia de Etiqueta para Héteros em Bares Gays”, de Brian Moylan, dá dicas de como se comportar em lugares LGBT. Ele começa lembrando que os homossexuais tiveram que aprender o certos e o errado em ambientes majoritariamente héteros, mas que o contrário nem sempre pode ser dito.

Fala primeiro com as moças. Afirma que mulheres, mesmo sendo divertidas e muito simpáticas, num bar ou festa gay são geralmente invisíveis. E recomenda: nada de dar chiliques, tente lidar com isso. Terão que ficar na fila do banheiro menor e o barman (provavelmente sem camisa) vai atender ao pedido delas por último.

Outra dica é ir a um bar gay sempre com um grupo. E explica: assim, se alguns dos rapazes se derem bem, você tem outras pessoas pra conversar. Fala ainda de moças que decidem fazer sua festa num bar gay. Diz: pra você pode ser só uma noite de loucura, mas essa é a nossa vida. E completa: por favor, respeite isso. Não vá aparecer num gogo bar gritando e empurrando os outros frequentadores.

O guia beira o preconceito e reforça estereótipos. Cria guetos. No entanto, também nos fala de comportamentos de certa forma típicos e provoca certa reflexão. Na sequência, alguns toques para os rapazes.

Começa concordando: não é porque um homem hétero está num bar gay que ele é gay. Então, pode parar de segurar sua namorada como se ela fosse um salva-vidas. Diz: você não precisa ficar apertando a mão dela ou beijando ela. A gente já sabe que você é hétero. E destila o veneno: os sapatos que você está usando já nos disseram isso. Se a gente quisesse assistir casais héteros, ia pra qualquer outro lugar do universo.

E a melhor: não é porque os gays do bar sabem que o cara é hétero que ele não vai levar cantadas. Na verdade, isso provavelmente vai aumentar as chances dos caras quererem papear com ele (Menos se você for feio. Aí está salvo).   E aconselha: é só deixar essas almas iludidas darem em cima de você, declinando, mas sem ser grosso. Você pode até conseguir uns drinks grátis. Por último: esquece o martini de maçã e pede uma cerveja ou uma tônica com vodca como todo mundo.

sábado, 28 de julho de 2012

Banheiro para gays


A cada dia vemos brotar na sociedade discussões que há bem pouco tempo nem se imaginava. Isso é bom!Comprova que as pessoas estão se permitindo mais.

Procuro sempre reforçar a ideia de tolerância e nada melhor do que se por no lugar do outro, ou pelo menos tentar, para colocá-la em prática. O exercício não é fácil, mas vale a pena. Em algum momento de nossas vidas, com certeza seremos de alguma maneira alvo da intolerância se não conseguirmos erradicá-la.

Um fato curioso ocorrido no Acre provoca uma reflexão interessante. O governo daquele estado pensou em criar banheiros exclusivos para gays durante uma feira agropecuária. Iniciativa louvável? Os organizadores do evento pensaram que sim. Afinal, resolveriam no mínimo dois problemas: tirariam homossexuais do banheiro masculino e travestis/transexuais do feminino. Simples assim.

Nem tanto. A Ahac (Associação de Homossexuais do Acre) manifestou-se contra. Entendeu que a criação de banheiros para gays seria uma forma de excluí-los em um gueto. Homofobia internalizada? Ridicularização da diversidade? Para a associação, a medida só serviria para estigmatizar. Transexuais e travestis se entendem como mulheres e têm o direito de usar o banheiro feminino. Heteros e homos podem frequentar o mesmo espaço. Sem falar na situação inusitada de se identificar quem é quem.             

Fico pensando se daqui a alguns anos, veremos estas discussões com espanto por estarem bem resolvidas. Principalmente, em razão das mudanças rápidas pelas quais passamos com a evolução tecnológica. Ou continuaremos engatinhando nas questões comportamentais? Creio que não.

Acredito que a informação, tão acessível hoje em dia, vá promovendo mudanças. Interessante que a situação descrita aconteceu no Acre. Em todos os cantos, os mais variados temas ganham espaço.

Vem do Pará outro fato que gostaria de destacar hoje. O governo lançou campanha este mês pela inclusão do “nome social” de estudantes travestis e transexuais nas escolas públicas estaduais.

A restrição do uso do nome social para transgêneros nas escolas é apontada como o principal motivo da evasão escolar. Estudos da Unesco apontam que 90% dos jovens nesta condição não enxergam a escola como espaço no qual eles possam conviver.

domingo, 8 de julho de 2012

Violência aqui

“A gente vê esse tipo de coisa em vários lugares, mas nunca imagina que vai acontecer com a gente.” A fala de uma mãe em Araçatuba (SP) cujo filho foi vítima de socos, chutes e uma garrafada na cabeça por causa de seus trejeitos ilustra bem que a intolerância tem terreno fértil em todos os lugares. Não está longe de ninguém.

O caso aconteceu recentemente com um estudante de 16 anos. Cinco rapazes agrediram o adolescente no bairro Dona Amélia por ele ser homossexual.

O que leva alguém a usar de violência contra outra pessoa? Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, foram registradas 1.259 denúncias de violência contra gays em 2011. Isso dá uma média de 3,4 casos por dia. O estado de São Paulo liderou a lista com 210 queixas, seguido por Piauí, com 113, Bahia e Minas Gerais, 105 cada, e Rio de Janeiro, 96. A maioria dos agressores (61,9%) é conhecida da vítima. Do total de vítimas, 34% são do gênero masculino, 34,5% do gênero feminino, 10,6% travestis, 2,1% de transexuais e 18,9% não informaram. A maioria das denúncias (41,9%) foi feita ao Disque 100 pela própria vítima.


O médico Dráuzio Varella fala sobre o tema violência contra homossexuais em seu site. Ele começa dizendo que “A homossexualidade é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados.” Sempre achei que informação e conhecimento evitam as atitudes intolerantes. Não é necessário aprovar, mas respeitar.

Alguns fatos importantes são destacados por Varella, que valem a pena reproduzir. Primeiro a existência de mulheres e homens homossexuais em todas as civilizações e em qualquer época. Depois a questão do que é ou não antinatural. “Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?”

Passa ainda pela grande variedade de espécies animais que vivenciam a homossexualidade, o que coloca por terra a teoria de perversão humana. E explica que a sexualidade não é opção. Que não podemos controlar nosso desejo.

Finalizo com um trecho bastante provocativo do texto do médico: “Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais na vizinhança, que procurem dentro das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal costumam aceitar a alheia com respeito e naturalidade.”

sábado, 16 de junho de 2012

O peso das palavras


O termo “casamento” carrega um peso considerável que vale a pena certa reflexão. Associado à palavra “gay”, adquire contornos extremamente provocantes. Senão vejamos: o dicionário (Aurélio, pelo menos) define como “união solene entre pessoas de sexos diferentes, com legitimação religiosa e/ou civil”. É aí que as coisas se complicam.

(Só para registrar, o dicionário Priberam on-line tem outra definição: “contrato de união ou vínculo entre duas pessoas que institui deveres conjugais”.)

Mas as coisas se complicam pois o termo casamento mistura leis e crenças. Envolve, por exemplo, o conceito de família, bastante questionado hoje em dia e que se encontra em verdadeira mutação. Um casal de lésbicas que concebe um filho por reprodução assistida não é uma família?

Nos últimos dias, o tema ganhou espaço nesta Folha da Região. O primeiro casamento entre dois homens em Araçatuba gerou assunto até para editorial.

O casamento também é uma celebração que segue regras de uma determinada religião. Não depende da lei civil ou dos homens. Entre católicos, é um dos sete sacramentos. Uma união santa e indissolúvel.   

Ao redor do mundo, entre as religiões, até existem congregações religiosas que abençoam uniões entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, a maioria esmagadora das denominações cristãs são oficialmente contra o casamento gay.

Para a lei dos homens, no Brasil e no estado de São Paulo, o casamento é formalizado por meio de uma celebração realizada por um juiz de paz. Os noivos recebem uma certidão de casamento. Ao contrário da união estável, que se estabelece a partir do momento que duas pessoas decidem viver juntas.

O casamento tem implicações em possível separação e efeitos em caso de morte. Se o casal possui filhos menores, ele só pode ser extinto perante o Poder Judiciário. Na dissolução em vida, existe o direito de pensão alimentícia. Em caso de morte, o outro cônjuge pode receber herança de acordo com o regime de comunhão ou separação de bens. Mesmo o estado civil, só muda a partir do casamento. Se o casal está em uma relação de união estável, eles mantêm suas condições anteriores, seja de solteiro, divorciado, separado ou viúvo.

Enquanto LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) se envolvem com tal discussão, o número de divórcios supera o de casamentos, segundo as estatísticas. Termino relembrando a frase de Luis Fernando Veríssimo: “Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha”.


domingo, 27 de maio de 2012

Deficiências




Sexualidade é um assunto que pode gerar muita polêmica. Aspecto extremamente pessoal de um indivíduo, pode-se dizer que é o traço mais íntimo de alguém. Portanto, muitas vezes incompreendido e desrespeitado pelo outro em sua expressão.

Agora imagine este tema aliado a outro assunto polêmico: deficiência. Temos um terreno fértil para preconceitos.

É incrível o quanto não nos colocamos minimamente no lugar das outras pessoas para conhecer suas capacidades e limitações. Por acaso sabemos como alguém com deficiência visual acessa a internet? Toda pessoa com deficiência auditiva aprende a ler? Não sabemos quase nada.

Principalmente no caso das pessoas com deficiência intelectual, a tendência é enxergá-las como seres assexuados. Anjos. Mas é claro que elas têm uma sexualidade, que em algum momento de suas vidas vai se manifestar com menos ou mais intensidade. Muitos pais não conseguem encarar esta realidade e isso pode gerar situações desagradáveis, como uma gravidez indesejada ou um caso de abuso sexual. Por falta de informação, ausência de diálogo.

São muitas as implicações, mas gostaria de abordar a questão do direito dessas pessoas também poderem viver sua orientação sexual além da heterossexualidade e da própria assexualidade. Sim, elas podem ser lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Precisamos respeitar seus desejos.

Ser deficiente não é fácil, imagine entre os gays, muitas vezes vulneráveis a este mundo que supervaloriza a aparência e a perfeição. Ser gay é difícil, imagine entre as pessoas com deficiência, muitas vezes vivendo a discriminação em dobro.

As pessoas com deficiência são exatamente iguais às outras, assim como os gays são exatamente iguais às outras pessoas. Sonham, sentem angústia, choram, riem.

Há um mundo de diferenças por aí e tanta coisa para fazer. Assegurar informação para tanta gente. Garantir seus direitos. Integrar e incluir. Por que todos temos nossas forças e fraquezas. São tantas variantes que em algum momento de nossas vidas estaremos enquadrados como “diferentes”.

De fato, nenhum de nós é igual, mas fazemos questão de apontar aquilo que de alguma forma nos é “estranho”. Não só apontar, mas colocar de lado, excluir. É mais fácil do que procurar saber, compreender ou respeitar. Somos incapazes muitas vezes até de tolerar. Nossa deficiência está em não se preocupar com o outro até nós mesmos enfrentarmos as mesmas dificuldades.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Beijo gay e estereótipos


Uma cena durante um teatro de rua me fez questionar se o tal do beijo gay já não está passando da hora na teledramaturgia brasileira.

A peça “Domdeandar”, da Cia. Teatral Manicômios (MG), foi encenada em algumas cidades da região de Araçatuba pelo Circuito Sesc de Artes na semana passada. No ápice, o personagem principal, que buscava “um amor para toda a vida”, finalmente encontra. Formam-se algumas duplas de atores, representando casais enamorados. E eis que surge um casal inusitado: dois homens caminham um para o encontro. Um misto de tensão e humor se espalha na plateia, um certo riso nervoso misturado a um apostar para ver. Alguns chegam a pedir pelo beijo. Ele acontece. Um pouco mais que um selinho. Aplaudido.

Tive oportunidade de presenciar a cena em Araçatuba e Birigui. A reação foi exatamente igual nas duas cidades. Sei que o público interessado em arte tem suas especificidades. Geralmente, é formado por pessoas mais tolerantes. Mas acho que podemos considerar também que a peça foi concebida como teatro de rua e a partir de pesquisas sobre a diversidade cultural de cidades do interior de Minas Gerais.

Assunto polêmico na Rede Globo, surgem matérias afirmando que agora o beijo sai. A orientação sexual do personagem Roni (Daniel Rocha) da novela das nove aos poucos é revelada. No entanto, personagens gays não são novidade na dramaturgia da telinha. Tornou-se meio que regra tê-los no enredo.

Na comunidade LGBT há quem reclame que os tipos retratados nas histórias geralmente são estereotipados. É o típico homossexual afeminado, caricato. Isso reforçaria uma ideia errada de que todos os gays masculinos se comportam assim.

Em “Avenida Brasil”, há a possibilidade de mostrar uma outra faceta: a homossexualidade no futebol. Um cenário machista, que realmente pode estimular reflexões importantes. Gays existem nas mais diversas profissões, com as mais diversas índoles. São bons, são maus. Bem sucedidos ou malsucedidos. Promíscuos ou celibatários. 

Já um beijo, sempre é um beijo. Manifestação de um sentimento. Expressão de uma  emoção.         

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Repulsa x Atração


Notícias do início deste mês lançam luz sobre a questão da violência contra os LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Ou pelo menos provocam algumas reflexões importantes.


Segundo o GGB (Grupo Gay da Bahia), pelo sexto ano consecutivo, houve crescimento nos casos de assassinatos de homossexuais. Em 2011, foi contabilizado o número recorde de 266 casos. A entidade acompanha os casos desde a década de 1970 e, em 2012, já foram registrados 106 assassinatos. Os números começaram a subir em 2006, com 112 mortos. No ano de 2010, foram 260 casos. No entanto, o levantamento é feito somente com base em notícias veiculadas em jornais e na internet e os números devem ser bem maiores.

Do total de casos em 2011, 60% se referem a assassinatos de gays, 37% de travestis e 3% de lésbicas. Os três Estados com mais mortes foram Bahia (28), Pernambuco (25) e São Paulo (24).

            Lideranças dos LGBTs entendem que os homicídios têm relação com a homofobia e que a maior visibilidade dos homossexuais provoca a agressividade.

            Por outro lado, um estudo norte-americano indica que pessoas homofóbicas se comportam agressivamente contra os homossexuais porque sentem atração por pessoas do mesmo sexo. O estudo foi realizado pelas universidades de Rochester, Essex e Califórnia. A explicação é que a violência seria a maneira de reprimir o desejo sentido e considerado pelo sujeito como algo errado.

            A pesquisa foi publicada este mês no Journal of Personality and Social Psychology e envolveu mais de 600 estudantes universitários norte-americanos e também alemães. Quatro experimentos distintos investigaram a atração sexual tanto explícita quanto implícita dos participantes. A proposta foi medir as discrepâncias entre o que os indivíduos afirmavam sobre sua orientação sexual e como eles verdadeiramente reagiam a determinados estímulos.

            Os resultados fornecem evidências de apoio à teoria de que a repulsa por homossexuais pode ser uma reação de pessoas que se identificam com eles, mas, com medo do julgamento dos outros, reprimem sua atração.

sábado, 24 de março de 2012

A cura gay e os psicólogos



Polêmica envolve a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), os psicólogos, os religiosos e o Legislativo. O deputado João Campos (PSDB-GO), representante da bancada evangélica no Congresso Nacional, quer suspender artigos da Resolução 01/99 do CFP (Conselho Federal de Psicologia) que regulamenta a ação de psicólogos nas questões de orientação sexual.

Na prática, o parlamentar pretende que psicólogos possam agir na “cura gay”. E é aí que o caldo entorna.

O Conselho Federal de Psicologia extrapolou seu poder regulamentar, restringindo o trabalho dos psicólogos e o direito da pessoa de receber orientação profissional? Os pais têm o direito de mandar seus filhos para redirecionamento sexual?
 
O presidente do CFP, Humberto Verona, e a presidenta do CRP SP (Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo), Carla Biancha Angelucci, reafirmaram a laicidade (divisão bem definida entre sociedade civil e religiões) da psicologia. Em artigo publicado no início do mês no jornal Folha de S. Paulo, dizem: “ao associar o atendimento à pretensa cura de algo que não é doença, entende-se que o psicólogo contribui para o fomento de preconceitos e para a exclusão de uma parcela significativa de nossa população”.

É justo deixar alguém em conflito sem ajuda psicológica? O que leva um gay a procurar tratamento? Um hétero busca transformação porque quer curar-se da heterossexualidade? Quanto sofre um garoto que é mandado ao psicólogo porque precisa “tomar jeito” para não “virar gay”, porque fala com “voz de veado” ou vive na companhia das meninas?

Os representantes dos psicólogos questionam se o projeto do deputado pode interferir na autonomia do conselho da categoria. Na Resolução 01/99 estão normas éticas de combate à intolerância. Vale terminar este texto de hoje reproduzindo os artigos que tratam do assunto:

"Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.
Art. 3° - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".

domingo, 4 de março de 2012

Woof! A vez dos ursos


“Woof” é a saudação usada pelos chamados ursos: homens gays ou bissexuais com  barba ou cavanhaque, peludos e corpulentos. Sim, a referência ao animal não é à toa.  O urso é grande e poderoso.

Mais um rótulo entre os rótulos, se por um lado este grupo emergente entre os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) liberta seus integrantes da ditadura dos corpos magros e definidos, por outro reforça preconceito contra os afeminados.

É que os ursos “surgiram” na década de 1980 em São Francisco a partir da vivência de  gays que não se identificavam com o estereótipo “twink” (jovem e sem pelos). De subgrupos como o de motociclistas, de adeptos do couro, de comunidades de obesos, e, por outro lado, de trabalhadores rurais, os lenhadores do imaginário homossexual.

Eles se espalharam pelo mundo através de clubes, espécie de redes sociais e sexuais que incluiam coroas e gordinhos. Ou seja, quebraram o preconceito contra pessoas de idade mais avançada e com quilos a mais.  

No entanto, alguns ursos dão tanta importância para a aparência forte e masculina que desdenham de homens menos másculos.

Os ursos seguem códigos e identidade bastante específicos. Tatuagens e piercing são comuns nos grupos ursinos. Suas características físicas e preferências, definem alguns “tipos”:   Polar Bear é o urso mais velho que tem cabelo e pelo corporal branco ou grisalho; Muscle Bear, o musculoso; Big Bear, um urso forte e alto; Black Bear, de pele negra; o jovem é chamado de Filhote ou Cub. Há também o Chaser ou Admirador, aquele que não é urso, mas se sente atraído por eles. E ainda o Pocket Bear, urso de pequena estatura;  e o Hirsute, com quantidade exagerada de pelo corporal. Os encontros de ursos são chamados de Bearcontro e o local é a Cave ou Den (carverna/gruta).

O ideal urso chegou ao Brasil no final da década de 1990. Só em São Paulo, hoje existem quatro grandes baladas dedicadas aos ursos. Além de inúmeros produtos e serviços exclusivos em todo o País.

Em termos musicais, geralmente são ecléticos, deixando um pouco de lado o famoso bate-estaca. Também não se preocupam tanto com roupas de marca. É claro que nada disso é regra. Apenas demonstra e comprova a diversidade. 

Em uma sociedade cada vez mais anabolizada ou obesa, os ursos ganham adeptos e não se encontram tão segregados quanto no início. Woof! Espera-se que eles não segreguem também.  

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O problema do HPV

Entre as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), o HPV (Papilomavírus Humano) ganhou destaque nos últimos tempos e merece atenção diante da complexidade que o envolve. Para início de conversa, ele não tem preconceito: atinge homens e mulheres, sejam heteros, bi, gays, lésbicas ou transgêneros. De qualquer raça e em qualquer idade. Estudo feito publicado na revista científica The Lancet indicou que metade dos homens brasileiros estão infectados pelo HPV. O país é um dos líderes em incidência no mundo: quase 700 mil pessoas são portadoras do vírus. Trata-se da quarta DST mais comum no Brasil, com mais casos do que a aids. No entanto, a doença é conhecida há muito tempo. Você pode ter ouvido falar dela como “Crista de Galo”. A partir da década de 80, se identificou sua relação com o câncer de colo uterino. Mais de 150 tipos já foram identificados e ela pode se instalar em qualquer parte do corpo. Basta um microtrauma. Calma! Nem todos são cancerígenos e somente certos tipos infectam a região anogenital. Muitos são inofensivos, simples verrugas, e outras tantos assintomáticos – você pode ter e nem se dar conta. A questão provoca reflexão e requer cuidados. É que a principal forma de prevenção é evitar múltiplos parceiros. O preservativo, por exemplo, só protege a área que ele cobre. A vacinação tem eficácia de 95%, mas é cara e não está disponível na rede pública. Além de ser indicada para meninos e meninas de 9 a 26 anos. Ressaltando: o risco de contaminação é o mesmo em qualquer tipo de relação. O que aumenta o risco é o número de parceiros. E não só para o HPV, mas para inúmeras outras DSTs. A contaminação anal é maior em razão de lesões internas ocorrerem com mais frequência. Entre lésbicas, o risco é menor. A não ser no uso de objetos sexuais sem os cuidados adequados de higiene. Com abraço, aperto de mão e beijo não se pega. O beijo na boca, no entanto, pode transmitir o HPV, mas não é tão frequente pois existem substâncias protetoras na saliva. Vale ficar atento e rever comportamentos.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Mais consciência

Ousado, o homem que já escandalizou o Brasil defende que os gays precisam ter “mais consciência”. Ney Matogrosso (foto) fez questão de ressaltar ao final do programa “Marília Gabriela Entrevista” (GNT) de 15.01.12 que “quatro milhões se juntando podem eleger o presidente da República”. Homossexual assumido e por natureza polêmico, provoca: "Eu acho que os gays no Brasil tinham que ter um pouquinho mais de consciência do seu significado como grupo e não ficar subindo em caminhões nas paradas gays e ficar se beijando”. Eis que a reflexão está posta e exposta. Há muito se questiona, mesmo entre os LGBTs, a finalidade das paradas gays. A visibilidade é importante. Os comportamentos em exposição nestes eventos existem. Não há porque negá-los. Seria uma nova hipocrisia. Mas, sem dúvida, é importante deixar claro que eles representam uma pequena nuance do imenso arco-íris. E talvez não sejam os comportamentos que muitos LGBTs gostariam de estar relacionados. Vale a provocação. É preciso ter mais consciência e isso me faz resgatar um questionamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB): “O que você fez hoje para ter orgulho de ser gay?”. O objetivo foi estimular gays, lésbicas e travestis a desenvolverem sua cidadania principalmente através do combate à homofobia, inclusive a internalizada nos próprios LGBTs. Uma série de perguntas tenta ajudar na resposta. Algumas podem parecer radicais ou ser extremamente ativistas, mas julgo interessante para afrontar o pensamento: Você procurou conhecer os seus direitos de cidadão? Você se informou e se agendou para participar dos próximos protestos, marchas e Paradas do Orgulho LGBT na sua cidade e região? Você acessou algum site/blog gay ou postou em alguma rede social algum conteúdo combatendo a homofobia? Você procurou se informar sobre as formas de registrar e denunciar alguma violência homofóbica ou alguma discriminação contra trans, lésbicas e gays? Você revelou hoje para alguém que é gay ou lésbica? Você falou para algum membro mais próximo de sua família que é gay e tem orgulho disso? Você beijou seu namorado em local público para demonstrar seu afeto? Você andou de mãos dadas ou abraçados com seu namorado ou namorada publicamente hoje? Você disse no seu lugar de trabalho que é gay e deseja ser respeitado por isso? Você deixou de fingir ser namorado de sua amiga lésbica ou bissexual frente a seus amigos heterossexuais e familiares ou nas baladas? Você deixou de criticar os gays mais afeminados só porque eles são diferentes de você? Você se dirigiu de forma cordial a uma colega trans ou travesti, evitando chamar de nomes que não são socialmente aceitos por elas? Você postou em seus sites de relacionamentos informação sobre sua verdadeira orientação sexual? Você fez uma doação financeira ou trabalho voluntário a uma ONG gay de sua cidade ou região? Você deixou de apresentar mulheres bissexuais aos bofes homofóbicos que frequentam boates GLS porque acham que é mais fácil “catar minas” que nas boates heteros? Você retirou a palavra “descarto afeminados” do seu perfil anônimo em sites de relacionamentos gay?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

2012: um ano para treinar a tolerância


Começa um novo ano e com ele a oportunidade de alterar rumos estabelecidos anteriormente, a chance de rever olhares acostumados. Mais que isso: um ano inteiro para exercitar a tolerância. Que em 2012 possamos aprender a conviver com as diferenças, tomar consciência de que somos diversos uns dos outros, mas no fundo essencialmente iguais, com toda a contradição e estranhamento que isso possa provocar.

O ano de 2011 foi marcado por avanços e retrocessos em vários âmbitos e para a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) não foi diferente. No entanto, não há como negar que a visibilidade avança rapidamente. Entendo que isso tem provocado a reação de segmentos da sociedade, em alguns casos de maneira violenta.

Podemos lembrar os diferentes ataques a homossexuais ocorridos no decorrer deste ano na região da Avenida Paulista, em São Paulo-SP. Grupos de jovens agrediram covardemente homens sozinhos ou em dupla.

O projeto de lei que pune a homofobia completou dez anos no Congresso sem ser votado. Nos últimos dias, a deputada Marta Suplicy pediu reexame da proposta.
Mas não foram só fatos negativos. Houve a decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a união estável. Estendeu aos casais gays tal conceito, atendendo quatro condições necessárias: que a relação seja duradoura, pública, contínua e tenha o objetivo de constituir família. Passo importantíssimo na luta por direitos.

Para nos atermos aos fatos de grande repercussão, vale lembrar a contribuição da teledramaturgia para a discussão e reflexão de temas referentes aos LGBTs. O SBT exibiu o beijo entre duas mulheres na novela “Amor e Revolução”. O primeiro em uma novela diária no Brasil. Enquanto isso, a Globo criou um núcleo inédito, com seis personagens, expondo diversas situações, em “Insensato Coração”.

Que em 2012 o preconceito seja combatido de modo efetivo em cada um de nós. Que todos tenham em mente a ideia de diversidade. Afinal, o mundo é formado da variedade. Somos plurais, somos múltiplos. A vida permite diferentes ângulos de visão. Caminhos que se encontram, seguem lado a lado ou vão em direções totalmente contrárias. E nisso está sua beleza!