sábado, 5 de dezembro de 2009

O exemplo argentino


Os argentinos parecem estar um passo à frente na batalha contra o preconceito. Recentemente, uma transexual foi escolhida “Mulher do Ano”. Isso mesmo. Entre 12 concorrentes, a transexual Marcela Romero ficou com o título. Foi escolhida entre mulheres selecionadas por sua luta contra pobreza e em defesa do meio ambiente, entre outras causas.
Em agosto, Marcela obteve documento de identidade com nome feminino depois de dez anos de luta judicial para que sua mudança de sexo fosse reconhecida. A nomeação como “Mulher do Ano”veio da Câmara dos Deputados, mais precisamente da Comissão da Família e da Mulher.
Nem por isso os obstáculos desapareceram. No momento da entrega do título, enquanto alguns aplaudiam, outros presentes se retiravam do local.
E na última semana, o anunciado primeiro casamento civil de homossexuais na América Latina, que aconteceria na terça-feira em Buenos Aires, sofreu um revés. A juíza Marta Gómez Alsina decretou uma medida cautelar até que se decida sobre a ação apresentada contra a decisão de outra magistrada, que julgou "inconstitucionais" dois artigos do Código Civil estabelecendo que para o matrimônio "é necessário o consentimento de duas pessoas de sexos distintos". Alsina garantiu que sua decisão não constitui discriminação e destacou que a lei argentina já confere às pessoas do mesmo sexo a opção de celebrar a união civil.
A juíza Gabriela Seijas tinha autorizado, há aproximadamente duas semanas, o registro civil do casamento de Alejandro Freyre, de 39 anos, com José María Di Bello, 41, em uma decisão inédita na Argentina e na América Latina.
Em Buenos Aires vigora desde 2003 a união civil entre homossexuais, que permite aos cônjuges o acesso aos direitos sociais, como pensão, mas restringe alguns procedimentos, como a adoção.
Um projeto de lei para o casamento gay é debatido na Câmara dos Deputados, mas – como no Brasil – empaca na falta de acordo entre os principais blocos.

Lésbicas e as doenças sexuais


As mulheres que se relacionam com mulheres também correm risco de contrair doenças sexuais. O fato parece óbvio, mas talvez pela visão que se tem de maior e menor risco baseada em sexo penetrativo ou não, fica a imagem de que elas estão “seguras”.
No entanto, é preciso ressaltar que o contágio se dá pelo contato de fluidos, como as secreções vaginal/anal e sangue, com as mucosas bocal, vaginal e anal, que quase sempre apresentam fissuras. O ato sexual, quando praticado sem proteção, facilita a entrada de vírus no organismo humano.
Recomenda-se para sexo seguro entre mulheres, por exemplo, o uso de luvas de látex para penetração (dedo/vagina) e barreiras também de látex (feitas a partir de camisinhas) para sexo oral.
E a saúde sexual das lésbicas não se resume às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). A maior parte delas não tem filhos e não amamentaram. Esse fator vem sendo apontado como de risco para o câncer de mama. Por isso, a necessidade de se incentivar neste grupo a prática do auto-exame mensal para detecção de nódulos.
Os exames de pacientes lésbicas precisam ser completos, incluindo exame de Papanicolau, de toque, além das visitas ginecológicas periódicas. Essas recomendações muitas vezes não são seguidas por parte dos profissionais da área ou das próprias pacientes, em razão de estereótipos arraigados em nossa sociedade.
É preciso transcender os rótulos para trabalhar com as mulheres em toda a sua diversidade. Deixar de lado a ideia de que as lésbicas não são mulheres de verdade.
A livre orientação sexual faz parte dos direitos de todas as mulheres. É preciso lutar pelo fim das restrições à sexualidade.
Grupos e ativistas lésbicas têm se mobilizado de diferentes formas para garantir visibilidade. Seja em eventos nacionais ou internacionais, em debates e na mídia. Isso tem sido bastante positivo. A estratégia, somada a outras, é considerada de extrema importância para informar, refletir e aprofundar questões relacionadas à melhoria da condição de vida das lésbicas.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mundos gay e hétero se aproximam


Aos poucos torna-se difícil dizer quem é gay, bissexual ou hétero. Ponto para a diversidade. Na medida em que o preconceito perde um pouco sua força, a tolerância ganha espaço. E a aceitação e o respeito têm vindo pelo comportamento.
Há quem comente na comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) que a “cena gay” vem sendo invadida cada vez mais pelos héteros. São homens e mulheres interessados em boa música e gente animada. Ao mesmo tempo, muitos gays e lésbicas preferem as baladas héteros para se divertir. Isso parece ser bastante positivo, pois aproxima as pessoas no que elas têm de igual, mas respeitando suas diferenças. E melhor: pode estar apontando para o fim dos guetos.
A cultura em geral também sinaliza isso, apesar de um interesse econômico poder estar escondido por trás de aparentes iniciativas positivas. De qualquer forma, comemoremos o que há de bom.
Tem crescido o número de personagens homossexuais retratados pela TV norte-americana. Segundo pesquisas da Aliança Gay e Lésbica contra a Difamação (Glaad), 18 personagens LGBT serão retratados em 2010 nos canais abertos dos Estados Unidos. O número representa 3% do total, comparados com 2,6% do último ano.
O fato promissor nem é o aumento na quantidade de personagens gays na TV, mas a oportunidade de divulgar histórias diversas que consigam retratar a realidade dos homossexuais. Só assim a aceitação e o respeito irão aumentar. Através do conhecimento.
O rapper Kanye West afirmou recentemente que, no âmbito da Moda, a palavra “gay” deverá ser usada no futuro como sinônimo de “ter estilo”. Segundo ele, crianças dirão “Cara, essas calças são gay”, como um elogio. Mas West mesmo também disse que a maneira com uma pessoa se veste não tem a ver com a orientação sexual dela. "Há muitos gays que não se vestem nem um pouco bem e eu me visto melhor que muitos deles", ressaltou. Acusações de que o rapper mira os gays para vender mais CDs a parte, o legal é confirmar que – por um interesse ou por outro – os “mundos” se aproximam. E acredito que isso só trás benefícios para todas as diversas partes e suas diferenças.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Teoria Queer

Você já ouviu falar em Teoria Queer? A denominação surgiu quando a feminista Teresa de Laurentis participou de uma conferência em 1990 na Universidade da Califórnia teorizando sobre as sexualidades gays e lésbicas.
Fortemente influenciada pela obra de Michel Foucault, problematiza a noção de gênero e nem sempre tem sido bem aceita dentro e fora da comunidade gay, pois coloca em xeque conceitos como os de "identidade" e "sexo". Incomoda por desconstruir qualquer definição – de homem, de mulher, de hétero, de gay, de bissexual, de trans...
Por que "queer"? Esta palavra, de origem inglesa, significa, literalmente, "estranho" ou "incomum". Foi usada como gíria em meados do século XX para referir-se aos homossexuais, sobretudo os masculinos. Há quem defenda que houve uma sobreposição das palavras "queer" com "queen" (rainha), o que designaria um homossexual afeminado que seria, simultaneamente, rainha e estranho.
É assumida por uma vertente dos movimentos homossexuais para caracterizar oposição e contestação. Para estes, significa colocar-se contra a normalização. Seu alvo mais imediato é a heteronormatividade, no entanto, também não escapa a estabilidade proposta pela política de identidade do movimento homossexual dominante. Refere-se à diferença que não quer ser assimilada ou tolerada.
A Teoria Queer pensa a sexualidade como uma construção histórica. A orientação sexual e a identidade de gênero não estão previstas na genética e nem podem ser consideradas como condição compartilhada por todos. Existe uma sexualidade para cada sujeito, ainda que seja possível encontrar pessoas com gostos e inclinações semelhantes. É essa semelhança que permite, por exemplo, agrupar os gays em "afeminados", "barbies", "ursos", "versáteis" etc. Porém, não se pode confundir a semelhança com a essência. São convenções sociais compartilhadas por determinados grupos, passíveis, portanto, de mudanças.
A proposta é abolir as dualidades do tipo macho/fêmea e masculino/feminino. Seu caráter transgressor afirma um novo tempo, no qual é preciso pensar outras formas de nomear sem classificar. Não é apenas assumir que as posições de gênero e sexuais se multiplicaram, mas admitir que as fronteiras vêm sendo constantemente atravessadas, quando não é exatamente na fronteira que alguns sujeitos vivem – e sem que haja uma patologia.

DSTs e o risco de homens homossexuais


O Ministério da Saúde divulgou recentemente a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira de 15 a 64 anos. Uma informação importante, não sei se tão surpreendente, foi a de que os homens brasileiros têm 31,2% mais riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) do que as mulheres.
Segundo o estudo, manter relações sexuais com parceiros do mesmo sexo mais do que dobra a probabilidade. E se o indivíduo tiver mais de dez parceiros na vida tem 65% mais possibilidade de contrair alguma doença sexualmente transmissível.
Ou seja, o homossexual masculino com vida sexual ativa corre riscos consideráveis se não tomar os devidos cuidados. No mínimo uso de camisinha em todos os contatos (inclusive sexo oral) e, é de se avaliar com carinho, a redução do número de parceiros.
Outras constatações importantes na pesquisa: 18% dos homens não procuram tratamento ao apresentarem sintomas de DST . Entre as mulheres, 11,4% não procuram tratamento. Essas doenças aumentam em 18 vezes o risco de infecção pelo HIV, vírus causador da Aids.
Quando desconfiam que podem estar com alguma DST, 25% dos homens se automedicam. Entre as mulheres, esse número é de 1%. A prática é arriscada, já que pode mascarar a doença ou mesmo piorar o quadro.
O levantamento informa ainda que pacientes com indícios de DST “nem sempre recebem orientações adequadas”. Apenas 30% dos homens e 31,7% das mulheres que procuraram atendimento foram orientados a fazer o teste de HIV. A recomendação para o exame de sífilis foi ainda menor: 24,3% para eles e 22,5% para elas.
Entre homens e mulheres que recorreram aos consultórios, 40% não foram sequer informados sobre a necessidade do uso de preservativo e de comunicar a doença aos parceiros.
Para as pessoas que têm dificuldade de contar para o parceiro que estão infectadas, o Ministério da Saúde criou cartões virtuais, que fazem parte da campanha “Muito prazer, sexo sem DST”. O hotsite da campanha é www.aids.gov.br/muitoprazer, com informações gerais sobre prevenção e tratamento das DSTs. Vale conferir.

Lesbian chic, andróginos e a moda


Diversas campanhas publicitárias de moda têm explorado situações que remetem às lesbian chic e aos andróginos numa recorrência curiosa. No Brasil, as atrizes Juliana Paes e Cléo Pires, em alta por causa da novela “Caminho das Índias”, aparecem na campanha de verão 2010 da Arezzo. Vestidas de nadadoras, em clima insinuante dentro da piscina.
As marcas internacionais abusam do recurso, que nem é tão novo. A onda atual foi iniciada por Versace na campanha de inverno de 2008, com as modelos Isabeli Fontana e Natalia Vodianova. O uso de modelos em looks andróginos também tem sido bastante recorrente.
“Lesbian chic” é a expressão utilizada no meio gay para denominar as lésbicas “finas”, geralmente femininas, muitas vezes executivas e mais ligadas ao consumo em geral e de moda em particular. “Andróginos” são as pessoas que misturam características femininas e masculinas.
Desde a década de 30 que as mulheres usam alguma peça do guarda-roupa masculino. Já a homossexualidade feminina é explorada desde que inventaram as fotos. Este último tema é um verdadeiro fetiche do público masculino: duas belas mulheres em poses sensuais.
Os exemplos continuam. A campanha de inverno 2009 da Chanel sugere um clima entre as modelos Freja Beha Erichsen e Heidi Mount. A campanha do italiano Cesare Paciotti é mais explícita, com Constance Jablonski e Eniko Mihalik entrelaçando braços e pernas.
No campo da androginia, a modelo britânica Agyness Deyn foi fotografada para a campanha da Uniqlo ao lado do modelo Luke Worral. As roupas até são diferentes, mas a pose e os cabelos são indiferenciados.
A top brasileira Raquel Zimmermann aparece representando as linhas feminina e masculina da grife de Gaultier. Ela que já declarou gostar da mistura de elementos masculinos em seu visual. Gaultier, por sua vez, é conhecido por brincar com os gêneros feminino e masculino.
A tendência não parece estar perdendo força e promete continuar pelo menos mais uma estação. O fato parece positivo. Com isso, é possível que se ajude a quebrar padrões visuais (e comportamentais) rígidos que ainda persistem nas sociedades em geral. E fugir de “rótulos”, termo usado pela própria atriz Juliana Paes em entrevista sobre a campanha publicitária que protagoniza. Ela disse que não se prende a eles. Intrigante é que na sequência, ao ser questionada sobre uma possível experiência homossexual, saiu com: “sobre isso não vou falar”. Claro que se trata de algo pessoal, íntimo, mas... por que não falar já que não se prende a eles?

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ex-gay existe?


A pergunta deve estar na mente de muita gente: ex-gay existe? E ela surgiu depois que a psicóloga carioca Rozângela Alves Justino apareceu defendendo a terapia para curar o “homossexualismo”. No último dia 31, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) decidiu, por unanimidade, aplicar uma censura pública contra a profissional. Rozângela já havia sido condenada à censura pública no Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro em 2007.
Acontece que resolução do CFP de 1999 proíbe os psicólogos de tratar a homossexualidade como doença, distúrbio ou perversão e de oferecer qualquer tipo de tratamento. A resolução segue normas da Organização Mundial de Saúde. Portanto, não havendo doença, não há o que curar.
Lideranças da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) defendem a cassação do registro de Rozângela, inclusive porque outros profissionais também estariam atuando da mesma forma, principalmente ligados a religiões.
Rozângela é evangélica e se diz perseguida pelo Conselho Federal de Psicologia, no que ela chama de "Ditadura Gay". Para a psicóloga, as pessoas não são homossexuais, mas "estão". Respeitando a motivação individual, o estado homossexual é passível de mudança. Para a militância, tal opinião contribui para o preconceito e a negação da homossexualidade tanto pela pessoa quanto pela família.
"Ex-gay" é o termo usado para indicar pessoas que alegam ter abandonado comportamentos homossexuais. É bastante discutível, pois a orientação sexual tem sido entendida como inata e fixa. Há quem defenda que ela é definida por questões genéticas. Deste modo, não pode ser modificada. Mas também há quem diga que a orientação sexual se desenvolve durante toda a vida.O fato é que a orientação sexual não-heterossexual foi removida da lista de doenças mentais nos EUA em 1973 e do CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) editado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1993. Os transtornos de identidade de gênero, que englobam travestis e transexuais permanecem classificados na CID-10. Nestes casos, terapias hormonais e/ou cirurgia de sexo são, algumas vezes, indicadas pela medicina. E aí, ex gay existe?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Maria Purpurina


A televisão – mais especificamente a Rede Globo – tem colocado em cena a figura da chamada “Maria Purpurina”. A mulher que sente atração por gays.
O caso mais recente e notório é o da personagem Léa, vivida pela atriz Maria Zilda na novela “Caras & Bocas”. Ela é apaixonada pelo gay Cássio, vivido por Marco Pigossi.
No entanto, o caso não é único. Eu diria que tem crescido vertiginosamente. E assusta desconhecer os motivos e os efeitos dessa recorrência. Já em “A Favorita”, outra novela da Globo e em horário nobre, as personagens Céu (Deborah Secco) e Sharon (Giovanna Ewbank), uma das meninas da casa de Cilene (Elisângela), chegaram a brigar por Orlandinho (Iran Malfitano).
O que preocupa não são as tais Marias Purpurinas, mas os gays em dúvida de sua própria sexualidade. A série (outra vez Globo) “Som & Fúria” trouxe o ator Leonardo Miggiorin na pele de um gay que se encantou por uma mulher (Débora Falabella) e confundiu seus sentimentos.
Não que gays em dúvida de sua sexualidade não existam. É justamente isso o que a coerência defende: mostrar a diversidade de manifestações do sexo – em definições e graus. Deixar os rótulos de lado e olhar as pessoas em sua individualidade e subjetividade.
Só que parece cedo esse passo quando outros ainda não foram dados. Parece querer correr antes de aprender a andar. Na cabeça da maioria das pessoas, a homossexualidade ainda é uma condição confusa, que se mistura facilmente com a bissexualidade e a transexualidade. Mais que isso: ainda não temos uma resposta convincente (se é que ela um dia existirá) de como a orientação sexual se define.
Atualmente, quase todas as novelas têm um personagem homossexual. Uns assumidos, outros nem tanto. Sem falar em papéis secundários como o cabeleireiro da madame. Mas esses personagens quase nunca namoram outro homossexual. O tal “Beijo Gay” virou mito. Se não estamos preparados para assistir as manifestações homoafetivas, será que é interessante confundir nossa percepção com personagens que justamente vão em sentido contrário ao que a princípio desejam sexualmente, seja por um momento de incerteza ou característica pessoal? Me erra! Me deixa!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Mães lésbicas


Maternidade e homossexualidade são duas práticas incompatíveis? Adriana e Munira tentam provar que não e lutam para ter este direito legalmente reconhecido em nossa sociedade. São duas paulistanas que deram luz a um casal de gêmeos este ano. Adriana recebeu os óvulos de Munira, que se submeteu a uma inseminação artificial.
Elas querem registrar os filhos em seus nomes. Um caso inédito no Brasil que foi parar no programa da Ana Maria Braga. No mundo todo, também é raridade.
Pesquisa apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp aponta que as mulheres que articulam a maternidade com a homossexualidade tornam-se socialmente vulneráveis, visto que a sociedade considera as duas práticas como incompatíveis. Não raro, elas enfrentam uma série de pressões e se vêem forçadas até mesmo a renunciar à sexualidade ou à profissão para poder exercer o direito de educar seus filhos.
O trabalho foi apresentado pela cientista social Érica Renata de Souza. De acordo com ela, os movimentos homossexuais têm demonstrado cada vez mais organização em todo o mundo. Entre as reivindicações mais frequentes aparecem questões relativas à família, ao casamento e à filiação. Dessa forma, novas práticas sociais surgem à medida que ocorre a associação entre a maternidade e a homossexualidade.
Foram identificados dois perfis de família no estudo. O primeiro – mais comum no Brasil – refere-se a mulheres com um passado heterossexual, mas que se envolveram em relações lésbicas e trouxeram seus filhos para essas relações. O segundo diz respeito àquelas que optaram pela maternidade por meio de tecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial.
A pesquisa cita a experiência de uma mulher, Roberta, mãe de dois filhos, que acabara de sair de um casamento heterossexual conflituoso. O marido, usuário de drogas, era muito violento. Posteriormente, ela foi morar com uma mulher. O ex-marido de Roberta tentou obter a guarda das crianças. O juiz concedeu a guarda dos filhos para a mãe, mas condicionou a decisão à saída da sua companheira da casa.
Bastante conservadora, a postura deixa clara que – no entender do magistrado – para exercer o direito de conviver com os filhos, a mãe tinha de renunciar à sua sexualidade e à formação de uma família alternativa. Que meda!

O polêmico “Brüno”

O filme “Brüno”, que retrata um jornalista gay no mundo da moda, liderou a bilheteria dos cinemas norte-americanos no primeiro final de semana de exibição. As críticas e polêmicas em torno dele parecem aguçar a curiosidade do público.
A película arrecadou US$ 30,4 milhões (cerca de R$ 61,24 milhões). O segundo lugar em bilheteria da temporada ficou com “A Era do Gelo 3” ao arrecadar US$ 28,5 milhões (cerca de R$ 57,41 milhões).
O falso documentário satírico ganhou classificação máxima nos EUA. O personagem Brüno é vivido pelo comediante Sacha Baron Cohen e tem desagradado várias pessoas que supostamente aparecem no filme sem seus consentimentos. É aí que a polêmica começa.
O tal personagem homossexual percorre a paisagem norte-americana pegando pessoas que contracenam com ele de surpresa e constrangendo muita gente. Os grupos de defesa dos direitos dos gays se dividem em suas reações.
O filme explora sem piedade a homofobia que nasce do desconforto gerado por uma homossexualidade agressiva. A preocupação é que certos espectadores não percebam a piada e saiam dos cinemas com a ideia de que a homofobia é legítima.
No entanto, “Bruno” também é uma mensagem sobre o que é pertencer a uma minoria na América em 2009.
Centrando-se no personagem Brüno, não há qualquer ambiguidade: trata-se de um gay louco e afeminado. Nos materiais promocionais, surge vestido com cuecas sensuais, roupa íntima de leopardo ou nu montado num unicórnio. Numa cena, aparece num talk-show com uma criança no colo, vestida com uma T-shirt onde se lê "Gayby" (gay por perto). A sequência mostra um flashback com Brüno fazendo sexo numa jacuzzi e o bebê sentado ao lado. Em seguida, ele gaba-se de o bebê ser um ímã para atrair homens.
Em outra cena, determinado a tornar-se heterossexual, recorre a um instrutor de artes marciais para aprender a proteger-se dos homossexuais. O instrutor avisa que os homossexuais são traiçoeiros: “Alguns se vestem da mesma forma que eu ou você."
A Universal Pictures declara que “Bruno” utiliza a comédia provocadora para trazer à tona o absurdo de muitas formas de intolerância e ignorância, incluindo a homofobia. As situações extremas põem as pessoas frente a frente com seus estereótipos e preconceitos.
Defensores dos direitos dos homossexuais, no entanto, querem que Sacha Baron Cohen e a Universal Pictures recordem ao público que a intenção é expor a homofobia. Abafa o caso!

sábado, 18 de julho de 2009

As barbies e a fragilidade


Nos últimos dias muito se ouviu falar de “Neverland” por causa de Michael Jackson. A tal “Terra do Nunca”, promessa de juventude eterna, seduz nossa sociedade atual muito mais do que em qualquer outra época. Recusamo-nos a crescer e envelhecer.
Entre os gays, muitos são suscetíveis a esta cultura. Há uma busca incessante pelo belo. Uma turma bem definida neste aspecto é o das chamadas “barbies”, que levam o culto ao corpo ao extremo da perfeição. São os musculosos, sarados e bronzeados.
Mas – como sempre – tem muito mais coisa envolvida nisso. Os descamisados formam um grupo e fazer parte dele ou ser rejeitado e ficar de fora é a questão. É um mundo de grife e de festas.
O imaginário gay é povoado por homens fortes e másculos há muito tempo. Os meios de comunicação alimentam este ideal de beleza. Sentir-se desejado é bom para mulheres, homens e gays enquanto jovens, adultos ou idosos. O perigo é sacrificar-se por isso, algumas vezes arriscando a própria vida com excessos.
Por trás desta busca, são possíveis algumas leituras interessantes. Fazer parte do grupo é uma maneira de se inserir na sociedade. Adotar determinado modelo de corpo pode ser uma forma de mostrar para a sociedade o quanto se é bom e bonito, apesar de toda a perseguição e preconceito? Os músculos podem querer substituir uma magreza exposta na história recente marcada pelo estigma de que homossexualidade e Aids eram sinônimos. Masculinidade no lugar da fragilidade? Um cuidado próprio que quase dói. Como se tantos músculos pudessem proteger.
Não se iluda, todos nós estamos de certa forma cultuando o mesmo deus. Nossa sociedade adora a imagem. É o lugar do momento, a roupa da moda ... Todos queremos nos mostrar dignos de admiração. No fundo é como se estivéssemos dizendo: "Veja eu tenho um belo peitoral, um belo carro, ... você pode me amar, eu mereço!". O engodo é tornar o meio um fim em si mesmo, fazer de um traço de valor a coisa mais importante de nossas vidas. Cultivar o traço menos por prazer e mais por uma necessidade desesperada e inconsciente de ter que atingir a perfeição. Me erra! Me deixa!

sábado, 11 de julho de 2009

Gaytilha

Conheci recentemente através da indicação de um amigo uma espécie de cartilha (gaytilha) em forma de blog sobre como agir para ajudar a causa LGBT. Trata-se do 30ideias.blogspot.com, que é escrito por um grupo de amigos blogueiros, entre jornalistas, advogados, arquiteto, escritor, cientista social e antropóloga.
O blog se dirige a “pessoas que nunca se interessaram pelo movimento LGBT, não pretendem se aproximar dele, mas têm boas intenções e até gostariam de fazer algo – só não sabem por onde começar”. Contém 30 ideias divididas em cinco grupos de assunto. Destaco aqui alguns itens que considerei mais interessantes.
O primeiro grupo é o “Assuma-se (autoestima, orgulho e aceitação)”. Destaco a ideia de número 6: Não semeie o preconceito interno. Você pode preferir alguns estilos, tribos ou grupos, com quem tem mais afinidade. Mas isso não lhe torna melhor do que os “afeminados” (ou as “masculinizadas”), pobres, nordestinos, negros ou gordos, nem lhe dá o direito de desprezá-los ou humilhá-los. Não faz sentido gays falarem mal de travestis, travestis falarem mal de lésbicas, lésbicas falarem mal de gays...
Em “Defenda-se (consumo, preconceito e justiça)”, o número 7 diz: Exerça seu poder de consumidor. Boicote produtos e serviços oferecidos por empresas com posturas homofóbicas ou propagandas preconceituosas. O mesmo vale para programas de TV que ridicularizam homossexuais. Por outro lado, prestigie estabelecimentos que simpatizem com a causa – mas tente diferenciar os que são genuinamente friendly daqueles que não passam de oportunistas de plantão.
O número 12, em “Oriente-se (informação e política), recomenda: Leia jornais e/ou assista ao noticiário na TV. Mantenha-se informado sobre o que acontece na sua cidade, no seu país, no mundo - e não apenas no meio gay.
No grupo “Engaje-se (participação social e voluntariado)”, vale ressaltar o número 17: Manifeste suas convicções para o mundo. Pode ser abrindo um blog, com temas de interesse político de LGBT, ou mesmo escrevendo uma carta a uma revista de grande circulação ou ao jornal da sua cidade. Opiniões favoráveis aos nossos direitos precisam ser ouvidas pela sociedade.
Por último, no grupo “Cuide-se (sexo, drogas e outras travessuras)”, o destaque fica para o número 26: Sexo seguro é uma opção pessoal, cuja responsabilidade é de cada um. Não se baseie em aparências ou presunções – elas enganam. A decisão de abrir mão do preservativo em um relacionamento precisa ser muito bem pensada pelos dois parceiros, e nenhum deles deve pressionar o outro na negociação. Se você fez esse pacto e depois se expôs a uma situação de risco, não deixe tudo como está: reintroduza o sexo seguro na relação, faça os exames e repita-os após 3 meses e 6 meses. Não exponha o parceiro que confiou a saúde a você. Tá meu bem!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Questões de saúde


Quero compartilhar um conteúdo que encontrei na Internet, mais precisamente no site Mix Brasil, que aborda alguns problemas de saúde comuns aos homens, mas que os gays acabam ficando mais vulneráveis. Seja pelo sexo, noite, drogas, depressão ou outros fatores. Apesar do material estar dirigido ao sexo masculino, penso que se encaixa na maioria dos casos ao feminino também.
O primeiro deles é o HIV/AIDS. Nos últimos anos, observa-se o retorno de práticas inseguras de sexo, como o barebacking. Mas também em casos bem mais corriqueiros, como o sexo oral sem proteção, por exemplo. É válido lembrar que o coquetel não cura e nem podemos ter a ilusão de que é confortável.
As Drogas são outro problema. Pesquisas indicam que gays usam mais drogas que a maioria da população. As principais são maconha, ecstasy e anfetaminas, sem contar as lícitas, como álcool e tabaco. Não existem estudos que mostrem os efeitos a longo prazo de muitas dessas substâncias.
A Depressão e a Ansiedade parecem afetar gays em uma taxa mais elevada do que na população geral. Talvez pela opressão da sociedade, os problemas na família e, muitas vezes, a necessidade de se esconder.
A Hepatite, transmitida pela via sexual, causa sérios danos ao fígado e pode evoluir para uma cirrose ou câncer. Mais uma vez, sexo seguro é importante, e para evitar a hepatite também o sexo oral deve ser protegido.
Quanto mais alguém fizer sexo com um número maior de parceiros, maiores serão as chances de contrair uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). Gonorréia, sífilis, chato, hpv ... Neste caso, ao contrair uma dessas doenças, também é comum o indivíduo não procurar ajuda médica por ter vergonha em assumir que fez sexo com outro homem. A saída costuma ser a auto-medicação, que pode ter conseqüências ainda mais sérias.
Existe uma lenda de que gays têm menos chances de desenvolver Câncer de Próstata ou nos Testículos por "usarem" bastante. Isso afasta gays do consultório para a realização do exame recomendável a partir dos 35 anos.
Por fim, o Câncer Anal: o vírus HPV, transmitido pelo pênis, também pode infectar o ânus em homens. Alguns profissionais de saúde recomendam exames para gays com a mesma periodicidade que nas mulheres: todo ano.
Se cuida, gente!!!

Parada Explosiva

A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo chegou a sua décima terceira edição com questões bombásticas. Segundo a Associação da Parada do Orgulho LGBT (APOGLBT), entidade organizadora, reuniu este ano 3,1 milhões de pessoas. O número é ligeiramente menor do que o registrado em 2008, quando 3,4 milhões teriam participado.
A variação é normal a qualquer evento ou indica o início de esvaziamento? Não é de hoje que as paradas são criticadas por pessoas da própria comunidade gay e têm seus propósitos questionados. Nos últimos anos, principalmente a de São Paulo atrai muitos indivíduos (heteros) atrás apenas de “folia”. A realização é válida para dar visibilidade aos homossexuais, comprovando sua existência. Também serve como forma de pressionar por direitos.
Outra questão foram os casos de violência registrados. Para os organizadores, os fatos deixam clara a necessidade da aprovação de leis que coibam gangues e atitudes homofóbicas. Os fatos ganham destaque no dia da Parada, mas acontecem todo dia.
A explosão de uma bomba caseira no Largo do Arouche feriu mais de 20 pessoas na Avenida Vieira de Carvalho. Foi o primeiro episódio do gênero nos 13 anos de Parada em São Paulo. O local é um point gay tradicional da capital paulista.
O preconceito é uma das motivações investigadas pela polícia. No entanto, nenhuma das pessoas feridas quis ser registrada na delegacia como vítima da explosão. As investigações e as punições são prejudicadas pelo anonimato.
E o caso de espancamento teve o pior desfecho. Morreu no último dia 17 Marcelo Campos Barros, de 35 anos, que sofreu traumatismo craniano em agressão ocorrida na rua Araújo, na República, onde terminou a Parada. O rapaz estava internado na Santa Casa desde o dia da agressão. Ele chegou a passar por uma cirurgia e estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde a operação. Informação relevante: além de homossexual, era negro.
Serão estes ataques indicativos de uma intolerância represada prestes a explodir? Estaria nossa sociedade até disposta a falar a respeito de homossexualidade, mas não de vê-la se expressar de determinadas maneiras?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Virgindade


Os Jonas Brothers, banda americana que é a maior sensação teen do momento, acabaram ressuscitando um assunto que já foi bastante polêmico e andava criando teia de aranha: a virgindade. É que eles protagonizam um discurso de celibato. Os jovens evangélicos prometem fazer sexo apenas depois do casamento.
Paira uma desconfiança, já que os irmãos são popstars tão próximos da luxúria que a fama proporciona. Ao lado, estão as fãs ávidas por um beijo, um abraço ou qualquer tipo de contato com seus ídolos. Jogada de marketing? É a primeira pergunta que surge. Mas não acredito em algo tão óbvio e simples assim. O discurso brota de outras fontes. Não se limita aos anéis de pureza dos Jonas Brothers, passa por várias outras mãos.
Entendo a sociedade de maneira cíclica. Após um período de maior permissividade, ela volta para uma fase mais proibitiva. Se hoje não fazer sexo soa como “estar por fora”, amanhã a virgindade volta a ser valorizada.
Os atuais adolescentes têm pais que vêm de uma geração mais tolerante e menos moralista e, assim, a bandeira da virgindade não deixa de ser um protesto. Muitos jovens têm hoje um discurso mais fechado e conservador do que os próprios pais.
Ainda sobre o anel de pureza, fatos curiosos: ele surgiu nos Estados Unidos, no início da década de 90, no programa educacional True Love Waits (O verdadeiro amor espera), que prega a abstinência sexual até o casamento. Antes do anel, já existiam uma pulseira de plástico, que logo depois foi substituída por um pingente de prata e, finalmente, pelo anel, que ganhou popularidade por poder ser usado por meninas e meninos.
O anel não tem nada de diferente que o identifique. Geralmente apenas uma inscrição (em português ou inglês) que faz alusão à dita pureza, como, por exemplo, "One Life - One Love" (Uma Vida - Um Amor). O valor varia bastante, mas o preço médio é de R$ 50. Tá meu bem.
Enquanto isso, o Brasil aparece liderando o ranking dos países em que a população perde a virgindade mais cedo. Em média com 17,4 anos. O país fica atrás apenas da Áustria, onde a primeira relação sexual acontece com aproximadamente 17,3 anos. Os resultados fazem parte do estudo "A Face Global do Sexo - Primeira relação sexual: uma oportunidade para toda a vida", realizado pela Durex, fabricante européia de preservativos. A pesquisa foi realizada com 26 mil entrevistados, em 26 países. Me erra! Me deixa!

Retrocesso ou amadurecimento?


Mês do Orgulho Gay e surge uma possível saída para a aprovação do Projeto de Lei Complementar que criminaliza a homofobia no Brasil, o 122/2006. A senadora Fátima Cleide, relatora do projeto, pretende apresentar modificações em alguns pontos que atravancam o apoio de parlamentares à ideia.
As alterações se darão em pontos considerados polêmicos, como a proibição da manifestação de líderes religiosos. O projeto atual pune manifestações de pastores e padres. A proposta é excluir esse tema.
O PLC 122/06 tramitou cinco anos na Câmara Federal até ser aprovado, seguindo para a análise do Senado. No total, já são oito anos de discussão no Congresso sem nenhuma decisão efetiva. Caso a senadora leve a ideia para frente, o novo texto precisa ser novamente analisado pelas comissões da Câmara e aprovado em plenário.
Parcela da comunidade gay não está considerando o fato um retrocesso. A iniciativa também tem sido vista como um amadurecimento, afinal, os próprios parlamentares que hoje votariam contra já se posicionaram a favor de um texto que não proíba as manifestações religiosas. É como se finalmente tivessem encontrado um caminho do meio entre a religião e os direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).
Enquanto isso, campanha de apoio ao projeto tem baixa adesão. O grupo carioca Arco-Íris lançou a campanha Não Homofobia! para coletar 1 milhão de assinaturas, durante um ano. A Parada Gay do Rio foi realizada em 12 de outubro do ano passado e deu início ao movimento. Passados sete meses, porém, apenas 42 mil assinaturas foram registradas no site da campanha (http://www.naohomofobia.com.br/).
A meta de assinaturas apenas seria alcançada caso 2,7 mil pessoas acessassem o site por dia. De outubro para cá, a campanha virtual ganhou a adesão média diária de 185 assinaturas. Para reverter esse quadro, o site precisa receber 7,2 mil assinaturas diariamente até 11 de outubro, quando será realizada a 14ª parada carioca.
Há quem não considere o resultado negativo. A campanha tem sua importância porque dá visibilidade ao tema. O Congresso, de algum modo, vê que existe mobilização. O discurso político da parada paulistana, no próximo dia 14, será mais uma vez pela aprovação do projeto. Quem sabe ajuda... Acorda né gente?!

O cinema está bombando

Além do polêmico “Do Começo Ao Fim”, com Julia Lemmertz e Fábio Assunção no elenco, filme que já foi comentado nesta coluna, outras produções nacionais abordam temáticas gays. O assunto parece ter ganhado de vez a simpatia dos cineastas. Recentemente, Carolina Ferraz teria se disfarçado de travesti e circulado pela noite de São Paulo em laboratório para uma personagem.
Murilo Rosa e Ana Paula Arósio também estão entre os globais que vão encarnar homossexuais na telona. Ele em seu primeiro personagem gay. Ela vivendo uma professora universitária lésbica. Os dois estarão em “Como Esquecer”, da cineasta Malu de Martino, que contará histórias de pessoas comuns que enfrentam os mesmos desafios para superar dores do passado. Trata-se de adaptação do livro “Como Esquecer: Anotações Quase Inglesas”, de Myriam Campello, e deve estrear no primeiro semestre do próximo ano.
Para continuar no assunto cinema: no último dia 24 de maio, o filme chinês “Spring fever” recebeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes. Dirigido por Lou Ye, o longa foi rodado clandestinamente na cidade de Nanjing, pois a homossexualidade é assunto proibido na China.
“Spring fever” é um retrato das dificuldades ainda enfrentadas por homossexuais do país. A história gira em torno de um homem flagrado com o amante por um detetive contratado por sua mulher. Depois do divórcio, o tal detetive acaba se apaixonando pelo homem a quem seguiu e é aí que um atribulado triângulo amoroso começa a tomar forma e caminhar em direção a um final trágico.
O filme é considerado uma resposta ao banimento de 5 anos imposto pela Administração de Rádio, Filme e Televisão da China ao cineasta Lou Ye. O castigo veio depois que Lou Ye exibiu no Festival de Cannes de 2006 o filme "Summer Palace", também de temática gay, sem autorização do governo.
E para finalizar: o filme “De repente, Califórnia”, do escritor e diretor Jonah Markowitz, estreou em quatro capitais brasileiras neste mês: dia 5 em São Paulo e hoje (19) em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Ele foi eleito o melhor filme do Festival Mix Brasil 2007 pelo público e recebeu o Prêmio Especial para Diretor Estreante no Festival Internacional de Cinema Gay e Lésbico da Filadélfia. A iniciativa é do selo de distribuição de Suzy Capó, umas das organizadoras e curadoras do festival Mix Brasil. O nome da nova distribuidora focado no público GLS é Filmes do Mix. Ta meu bem?!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Palestra "A visibilidade da comunidade gay nos espaços midiáticos"

No próximo sábado, dia 06, a Oficina Cultural Regional Silvio Russo promove a palestra "A visibilidade da comunidade gay nos espaços midiáticos". O evento acontece a partir das 15h, na sede da entidade, junto à Secretaria Municipal de Cultura (Rua Anita Garibaldi, 75, Centro de Araçatuba-SP). Terei a honra de ser o palestrante e me sentirei mais honrado ainda de ter a sua presença para um bate-papo sobre o assunto. Até lá!

PS: O evento é gratuito! Alôca.

domingo, 31 de maio de 2009

Novas e boas possibilidades


Alguns fatos renovam as esperanças de dias melhores. Mais livres de preconceito. Um deles aconteceu aqui mesmo em Araçatuba. Foi a realização da “I Semana das Consciências” na Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, que discutiu de maneira franca a homossexualidade, entre outros assuntos de relevância social. O outro fato vem do estado do Espírito Santo, onde um defensor público quer garantir aos homossexuais o direito de se casar.
A “I Semana das Consciências” aconteceu de 11 a 16 de maio na própria faculdade. Organizada pelos alunos, através do Centro Acadêmico Fábio Luís Bonello, o evento abordou também outros temas como a “Formação da sociedade”, “Diferenças sociais”, “O negro na sociedade araçatubense e a questão das cotas universitárias” e “Ética e moral com relação ao bem-estar animal”.
Tive oportunidade de participar das discussões sobre “Homossexualidade” como colunista da Folha da Região e estou ressaltando o fato pois considerei importante ver pessoas jovens demonstrando respeito e interesse pelo tema. Os jovens participaram com vários tipos de perguntas. Entendi como um indício de que as novas gerações trazem para mais perto a possibilidade do mundo mais igualitário e tolerante.
A atitude do defensor público no Espírito Santo reforça a constatação de que o Poder Judiciário brasileiro está muito mais aliado com os Direitos Humanos que os poderes Legislativo e Executivo. O defensor público Carlos Eduardo Rios do Amaral quer garantir aos casais homossexuais o direito de se casar e obter certidão de casamento. A ação tramita na 2ª Vara da Fazenda Pública de Vitória.Amaral defende: homossexuais possuem o mesmo direito à união legal que os heterossexuais. "Não há na legislação brasileira nada que proíba a união civil de pessoas do mesmo sexo", afirma. "Os casais homossexuais, através da constituição de família, devem buscar pela felicidade." Me erra! Me deixa!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Com máscara e sem sela


O medo de contaminação pelo vírus H1N1, responsável pela vulgarmente conhecida gripe suína, suscitou um fato curioso. Houve uma corrida atrás de máscaras para proteção. Interessante é que a doença até o momento vitimou dezenas de indivíduos enquanto a Aids, velha conhecida nossa, que já matou milhares, cada vez menos leva as pessoas a procurarem se proteger. Muito pelo contrário. Há quem corra atrás da contaminação.
Você já ouviu falar em “bareback”? É a prática intencional do sexo sem camisinha. Nele, os indivíduos – de maneira consciente mesmo e planejada – assumem os riscos de contrair o HIV ou outro vírus sexualmente transmissível. Em tradução livre algo como “cavalgar sem sela”. O sexo desprotegido passa a ser um desafio, uma forma de flertar com o proibido ou uma maneira de desafiar o estabelecido.
O bareback nem é uma prática nova. Explicações de especialistas giram em torno da negação da camisinha por parte de jovens que estão cansados de ouvir falar em prevenção. Há quem fale, no caso dos homossexuais, em baixa estima própria por serem tratados como degenerados e condenados a morrer com Aids.
No Brasil, a ideia parece não ter muita receptividade. Encontra-se algumas comunidades sobre o assunto no Orkut, mas ao passear pelos tópicos e usuários fica claro que em 90% dos casos há mais a vontade da prática do que o ato em si. Nos Estados Unidos e Europa, a prática do bareback se estabeleceu no mercado. Existem sites, produtoras de filmes pornôs e selos de festas voltados ao bareback. Livre arbítrio?
Hoje (17.05) é o Dia Internacional contra a Homofobia. A data foi escolhida em razão de a Homossexualidade ter sido retirada da Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 17 de maio de 1990. O fato marcou o fim do ciclo de 2000 anos em que a homossexualidade era encarada primeiro como pecado, depois como crime e, por último, como doença.
Várias movimentações estão programadas em todo o país (e no mundo, claro) para lembrar a data. Importante que ela não passe sem ser refletida. De shows a audiências públicas, as manifestações têm também um cunho político e cobram, entre outros direitos, a aprovação do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que criminaliza a homofobia. A matéria está atualmente no Senado andando muuuuiiiito devagar. Desaquenda gente!

domingo, 10 de maio de 2009

Votação adiada


No último dia 6 foi adiada a reunião da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal onde seria votado o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que criminaliza a homofobia em âmbito nacional.
O projeto está tramitando no Senado há mais de dois anos. De autoria da então deputada federal Iara Bernardi, é aquele que altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, definindo os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Atualmente o PLC está sob os cuidados da relatora, a senadora Fátima Cleide (PT/RO). Ele ainda tem que enfrentar um longo trajeto dentro do Senado até obter a aprovação final. Por não ser terminativo dentro da CAS, o projeto precisa ainda passar pela Comissão de Direitos Humanos – onde já estava em 2008 e por manobras do senador Gim Argello (PTB-DF) foi transferido para a CAS – e pela Comissão de Constituição e Justiça, antes de ir a plenário.A expectativa é que o projeto possa ser votado nesta próxima semana, também na quarta-feira (13), caso não seja adiado novamente. É importante acompanhar o assunto e se manifestar (caso possível). Defendo a relevância do projeto e acredito que se possa chegar a uma lei que atenda a todos os envolvidos em razoável consenso, desde que o assunto seja tratado com seriedade. Enquanto isso, a Suécia tornou-se o quinto país europeu a dar direitos iguais a uniões heterossexuais e homossexuais. O Parlamento aprovou a lei por 261 votos contra 22. Os outros países que reconhecem os direitos são Holanda, Noruega, Bélgica e Espanha.
A lei aprovada, que entrou em vigor no último dia 1º, altera uma anterior, de 1994, que permitia o registro de uniões civis homossexuais, mas não casamentos formais. O texto, porém, reserva às igrejas o direito de decidir se irão realizar as cerimônias.
A Igreja Luterana Sueca já se manifestou, afirmando sua disposição de celebrar os casamentos, porém que quer manter o termo matrimônio exclusivo dos casamentos heterossexuais. Penso que o termo “casamento” acaba envolto a muita fantasia e que as pessoas se prendem a uma nomenclatura. Defendo que a comunidade gay pode – e talvez até deva – criar maneiras diferentes de vivenciar seus relacionamentos.
Os países escandinavos estão entre os primeiros da Europa a admitir as uniões gays. Na Suécia, casais gays podem firmar sociedade desde os anos 90 e podem adotar desde 2002. Ta meu bem. Me deixa! Me erra!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sonho possível


Você deve ter ouvido falar de Susan Boyle. Um fenômeno mundial que – apesar de análises em contrário – na minha opinião atingiu um sucesso que durou muito pouco. Os “15 minutos de fama” de Andy Wahrol há muito deve estar em 15 segundos... Mas a solteira de 47 anos, fora de todos os padrões de beleza e desempregada Susan Boyle provocou a gente. Pode até ser mais uma jogada de marketing, mas fez pensar em quanto somos cada vez mais feios por sermos preconceituosos.
Personificação do patinho feio, ela foi participar de um dos programas de calouro mais populares da TV britânica. Entrou no palco tímida e desajeitada. Foi recebida pelos risos de escárnio da plateia e pela ironia dos jurados. Ao começar a cantar “I dreamed a dream”, do musical “Os Miseráveis”, revelou a voz de um anjo e deu uma lição ao mundo: ressaltou como fazemos julgamentos apressados e damos valor ao superficial.
É bem provável que a maioria das pessoas se identifique com Susan Boyle em algum momento. Ela concretiza a "grande virada". Ao entrar no palco, é uma derrotada. Todos a desprezam e estão contra ela. Ao abrir a boca, seus “defeitos” se derretem diante de nossos olhos. Temos vontade de pedir perdão pela avaliação precipitada. A emoção é forte, pois há uma Susan Boyle dentro de nós querendo provar sua beleza até então invisível. Por alguns segundos parece possível o sonho de um mundo mais igualitário e tolerante.
Mudando de assunto – e de certa forma descontraindo um pouco – recentemente uma amapô (mulher) transformou um assaltante em escravo sexual. O fato aconteceu na Rússia. Cabeleireira, ela teve seu salão invadido pelo criminoso, mas conseguiu rendê-lo, pois é treinada em artes marciais. Levou o bofe para uma sala reservada e o prendeu, mas não chamou a polícia. Obrigou o cara a tomar um estimulante sexual (Viagra) e abusou dele por diversas vezes durante dois dias.
Após libertado, quem foi registrar queixa na polícia foi o bofe. Não sem antes ter ido a um hospital curar seu órgão sexual “contundido”. Gente, as amapôs não estão para brincadeira! Bobagem, o fato pode ser considerado por muitos como popularesco, mas achei interessante trazer para a coluna, pois é no mínimo inusitado, impensável antes da liberdade social e sexual conquistada pelas mulheres e – porque não – pelos homens, em tempos pré-viagra. Abafa o caso.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Incesto e índios


Gosto de trazer temas inusitados e polêmicos para este espaço para provocar a reflexão. Hoje trato de dois assuntos destacados (ou nem tanto) recentemente pela mídia. A produção de um filme nacional que fala sobre incesto e o preconceito entre índios.
O filme é "Do Começo Ao Fim", que tem direção de Aluisio Abranches. Vai mostrar uma relação de paixão que nasce entre dois irmãos ainda na infância. O longa, que começou a ser gravado, mostrará os sentimentos que unem Thomás e Francisco, filhos do casal interpretado por Julia Lemmertz e Fábio Assunção.
Quem primeiro começa a enxergar o irmão com outros olhos é Thomás, vivido na primeira fase pelo ator mirim global Gabriel Kaufmann. Sem ter muita consciência do que sente, o personagem desenvolve uma admiração incomum com relação ao irmão pré-adolescente. Quando Thomaz está com 21 anos e Francisco com 27, o romance entre os dois se consuma.
Confira a sinopse do filme: "Um dia, sem mais nem menos, Thomás abre os olhos e olha direto para Francisco, seu irmão de seis anos. Durante a infância, os irmãos são muito próximos, talvez próximos demais. Mais tarde, quando Francisco tem 27 anos e Thomás 21, os dois se tornam amantes e vivem uma extraordinária história de amor".
O incesto é o grande tabu da humanidade. Difícil falar dele. Muito mais vivê-lo. Mas como tudo na vida, melhor encarar e conhecer do que desviar o olhar e desconhecer. Os problemas se avolumam e a gente se perde. Vale, no mínimo, pensar um pouquinho a respeito. Por que este desejo existe? O que fazemos com ele? E por quê/pra quê?
Sobre preconceito entre índios, foi divulgada pesquisa feita no Amazonas pela Funai (Fundação Nacional dos Índios). Na aldeia de Umariaçu 2, por exemplo, existem aproximadamente 3.500 índios da etnia Tikuna, sendo que 40% têm menos de 25 anos e, dentre eles, 20% são homossexuais assumidos, os “tibiras”.Segundo especialistas, a aproximação das tribos com a cultura ocidental está fazendo com que a homofobia cresça no mesmo compasso do número de indígenas assumidos. Quando eles saem do armário (ou da oca), passam a realizar tarefas como cuidar das crianças e realizar serviços domésticos. Além disso, muitos passam a pintar as unhas e a cuidar melhor do cabelo. Essa mudança nem sempre é bem vista pelos outros membros da tribo, gerando críticas e até violência. Abafa o caso.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Encontro de Blogueiros em Araçatuba

Meu amigo José Marcos, jornalista grande incentivador deste espaço, convida para o 1º Encontro de Blogueiros de Araçatuba e região. Vai ser no dia 2 de maio, no Pub Rock Beer, rua Aguapeí, 1.884. Aí Zé, vamos arrasar!!!!!!

Dia Internacional contra a Homofobia


No próximo dia 17 de maio será comemorado o Dia Internacional contra a Homofobia. Entidades de defesa dos direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) de todo o Brasil estão se mobilizando. Um total de 27 cidades em 22 estados já têm alguma atividade programada e vão lembrar a importância de se lutar contra a homofobia e o preconceito.
O dia 17 de maio foi escolhido como a data de luta contra a homofobia porque, em 1990, a assembléia geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) aprovou a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. A nova classificação entrou em vigor entre os países-membro das Nações Unidas em 1993.
A homofobia é definida como a intolerância e o desprezo contra aqueles e aquelas que têm orientação e identidades diferentes da heterossexual. Trata-se da aversão, ódio, medo, preconceito ou discriminação contra homossexuais, bissexuais e transgêneros.
A homofobia confere à heterossexualidade o monopólio da normalidade, gerando e incentivando o menosprezo contra aqueles que divergem do modelo de referência.
A palavra foi utilizada pela primeira vez em 1971 pelo psicólogo norte-americano George Weinberg. Combina a palavra grega “fobia” (medo) com o prefixo “homo” (igual). O significado corrente do termo é fobia à homossexualidade.
A homofobia ocorre em vários cenários: na própria família, no trabalho, nos serviços de saúde, nos serviços públicos, na política, na educação, em atividades sociais e esportivas. Se consolida em um conjunto agressivo de referências identificando lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros como pessoas perigosas, viciosas, ridículas, anormais e doentes, que cimenta ações de violência social (exclusão e escárnio público), política (desigualdade legal) e física (ataques e assassinatos).
No Brasil, de acordo com os registros do Grupo Gay da Bahia, documentaram-se 1.960 assassinatos no período entre 1980-2000 (69% de gays, 29% de travestis e 2% de lésbicas). Uma média de um homicídio a cada dois dias.
A comemoração do Dia Internacional contra a Homofobia é importante porque expõe um tema que deve ser trabalhado em conjunto por toda a sociedade. O conhecimento e a educação são a melhor solução contra o preconceito. A discriminação somente diminuirá se a sociedade trabalhar contra ela. Me deixa! Me erra!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Desejos assumidos


É só navegar um pouco por algum chat ou msn para dar de cara com alguém procurando por sexo, seja virtual ou real. A Internet permite que as pessoas vivam mais assumidamente seus desejos. A princípio não há comprometimento na rede mundial. O anonimato parece seguro e a proteção próxima das mãos – mais precisamente na ponta dos dedos. É só sair da sala ou bloquear quem não está agradando.
Encontra-se o casado que busca aventuras extraconjugais e até mesmo os tão famosos pedófilos da atualidade. Mas também verifica-se indivíduos que vivem intensamente sua homofobia. Conversas se iniciam com perguntas do tipo “Vc é afeminado?”. Às vezes se seguem de pseudojustificativas “Não tenho nada contra, mas ...”.
Há ainda quem vá para os encontros reais com pactos de sigilo. Vivem profundamente sua sexualidade (se é que se pode dizer isso) e, no entanto, continuam a acreditar no anonimato de sua existência. A rede de relacionamento aumenta e elas continuam achando que são anônimas. Independente disso, estes sujeitos parecem acreditar que apenas o dito publicamente fala sobre nós mesmos. Ledo engano.
Seria interessante que a gente pudesse ser mais verdadeiro com os próprios desejos. Que eles não ficassem escondidos em frente à tela do computador. É certo que a sexualidade é vivida entre quatro paredes e diz respeito só a quem está envolvido. Mas é péssimo que se tenha que esconder qualquer coisa.
A Oficina Cultural Regional Silvio Russo, com sede em Araçatuba-SP, abriu espaços este semestre para discussões sobre a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). São dois momentos: o ciclo de estudos “Homofobia e Violência contra Homossexuais” e a palestra “A Visibilidade da Comunidade Gay nos Espaços Midiáticos”. Os dois eventos são gratuitos, como todas as atividades promovidas pela Oficina Cultural, órgão do governo estadual.
O ciclo de estudos acontece de 16/04 a 28/05 na sede da Oficina Cultural, que fica no prédio da Secretaria Municipal de Cultura. Quem coordena é a psicóloga Heloísa Maria Martins Juncal. A palestra sobre a visibilidade da comunidade gay será coordenada por mim e está programada para o dia 06/06 na Secretaria Municipal de Pereira Barreto-SP.
São iniciativas como esta que possibilitam um olhar mais direto sobre a realidade. E “força no picumã”. Vá em frente, coragem!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Beijos gays


Marc Jacobs, estilista norte-americano em férias no Brasil, foi flagrado aos beijos no Rio de Janeiro, mais precisamente em Ipanema, com o namorado brasileiro Lorenzo Martone. Ele vestia uma saia plissada e trocou carinhos em dia ensolarado ao chegar em um restaurante. Jacobs pode!
Personalidade do mundo da moda, o estilista veio ao país inaugurar sua loja em São Paulo. Aproveitou para oficializar seu relacionamento com Martone, celebrando o noivado. Foi recebido com festa que reuniu celebridades como Carolina Ferraz e Larissa Maciel (protagonista da minissérie Maysa – Rede Globo) no tradicional Largo do Arouche, centro da capital paulista.
A boate gay Cantho foi fechada para os pobres mortais. O estilista contratou mais de 50 seguranças para circular na casa e nas redondezas. O staff da casa foi substituído por uma equipe trazida por Jacobs e os habitués foram barrados. Para beber, champanhe Veuve Clicquot, que não costuma ser servida na boate.
O fato corrobora a idéia que defendo de que a aceitação da comunidade gay está intimamente ligada ao seu poder econômico. Jacobs tem status, tem money. Não é preciso ser Zoraide (metido a clarividente) para enxergar isso.
Na última semana, Jim Carrey ficou sem uma distribuidora nos EUA para seu filme “I Love You Philip Morris” porque a produção tem uma cena de sexo gay. Pasmem. Em terras hollywoodianas, parece que o preconceito ainda impera. Mesmo Hollywood sendo acusada de defender a “causa gay”. Incompetente esta indústria cinematográfica, hein?
E olha que nos últimos tempos, não faltaram filmes explorando a temática homossexual. Vale ressaltar “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee, indicado a oito Oscars e que foi visto por mais de 150 milhões de espectadores no mundo. Mais recentemente, “Milk – A Voz da Igualdade”, filme que rendeu o Oscar de melhor ator a Sean Penn este ano. O preconceito brota dos cantos mais inusitados. Termino lembrando do beijo repreendido na Universidade de São Paulo (USP), em outubro, quando dois jovens – um de 25 e outro de 18 – foram discriminados, sendo expulsos do local. Um deles se surpreendeu: “Venho do interior, nunca passei por isso lá. Aí sou discriminado na USP e em uma cidade como São Paulo, que aparentemente é uma cidade aberta à diversidade”. Uzê (pior que uó) demais.

Percepções


Em capítulo recente da novela “Caminho das Índias”, o personagem Opash (vivido pelo ator Tony Ramos), cheio de superstições, encontrou “aravanis” na saída de casa e tomou isso como fato de bom agouro. Aravani é o nome dado na Índia ao transexual. E o bom agouro veria da alegria que ele transmite. Por isso, o personagem deu dinheiro aos aravanis e saiu satisfeito para mais um dia de negócios.
Todos os anos, os transexuais se reúnem na região de Tamil Nadu, no sul da Índia, para o maior festival do gênero no mundo. Eles prestam homenagem ao seu deus protetor Koothandavar, que se casou com Vishnu depois de adotar a forma de mulher.
O Festival de Koovagan recebe gente de várias partes do mundo e a imprensa internacional. O governo indiano oferece uma linha especial de ônibus para o evento. Comerciantes vendem braceletes, especiarias, cocos e flores.
É claro que a parte comercial não poderia estar de fora. Mas quero destacar as nuances e contradições das tolerâncias e intolerâncias. Permanecendo na Índia, – nem há necessidade de percorrer o mundo – verificamos no mesmo país que os “hijras” (eunucos) são excluídos do mercado de trabalho. Este grupo inclui desde homens que decidiram se castrar e agir como mulheres a hermafroditas, incluindo casos convencionais de transexualismo. Outro fato curioso: o passaporte indiano oferece legalmente a possibilidade de um hijra escolher entre os tradicionais “feminino” e “masculino” no campo “sexo”.
As relações homossexuais na Índia são consideradas crime e podem ser punidas com até 10 anos de prisão. Muitos gays têm medo de sair do armário por causa da possível reação da família. A instituição mais importante na Índia é o casamento, por isso, muitos se casam e têm filhos. A homossexualidade é vivida na escuridão.
Chupa essa manga. Mudando de assunto, mas permanecendo no campo das percepções: pesquisa recente da Universidade de Wisconsin (EUA) mostrou que corpos sarados de homens nas propagandas diminuem a auto-estima dos próprios homens. O estudo apontou que as imagens do tal “corpo perfeito” reduzem a confiança dos homens em relação ao seu corpo.
Apesar de muitos interpretarem como um recado para começar a se exercitar, vários outros acabam se sentindo atraídos ao uso de esteróides e outros mecanismos para aumentar a massa muscular. Olha os interesses econômicos aí de novo. Me erra! Me deixa!

99% de preconceito


Esta é pra ficar lesado. O preconceito é muito maior do que parece. Segundo pesquisa das fundações Perseu Abramo e Rosa Luxemburg (alemã), o absurdo percentual de 99% da população brasileira tem preconceito contra homossexuais.
O número é altíssimo, mas condizente com nossa época de preconceito velado. Vista de longe, nossa sociedade parece estar se livrando deste mal, mas de perto...
Vamos tentar sair do superficial. A pesquisa vem sendo divulgada pela advogada Sylvia Maria Mendonça do Amaral, autora do livro “Manual Prático dos Direitos Homossexuais e Transexuais” e editora do site “Amor Legal”. Segundo ela, o levantamento apurou aqueles que são assumidamente preconceituosos, aqueles que disfarçam seu preconceito e uma categoria denominada “outros”.
Os assumidamente preconceituosos são 16% dos entrevistados. Eles afirmaram ter forte preconceito, considerando os homossexuais “doentes”, “safados” ou “sem caráter”. Os pesquisados que disfarçam seu preconceito, a princípio negaram esse sentimento, mas ao longo de uma hora de entrevistas fizeram afirmações homofóbicas.
Respostas revelaram homofobia em 99% dos 2.014 entrevistados selecionados entre os maiores de 16 anos, com diversos graus de escolaridade e de várias regiões do país. A maior parte das respostas indicava que a homossexualidade é recriminável, pois “Deus criou o homem e a mulher, com sexos diferentes, para que tenham filhos”. Muitos outros a consideraram como “pecado” e que “a homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada”. Apenas 1% dos milhares de entrevistados disseram não ter preconceito.
Geram apreensão os números da pesquisa. Principalmente ser relacionarmos às atitudes discriminatórias que resultam deste preconceito e levam à intolerância traduzida em crimes contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. São necessárias ações das autoridades para reverter tal situação.
Em maio, o governo federal lançará o Plano Nacional de Promoção da Cidadania LGBT. Serão várias ações, centradas principalmente em saúde, educação e justiça. Além disso, ainda neste semestre, o Brasil participará, com mais dez países latinos, de uma campanha de combate à homofobia em rádio e TV.
O Projeto de Lei n° 122, que criminaliza a homofobia, está em tramitação no Senado. O importante é continuar lutando por igualdade e dignidade. Me deixa!!!

Espaços gays?


Notícia publicada pela Folha da Região (Araçatuba/SP) no último dia 4 de fevereiro intitulada “Banheiros viram espaço de encontro” apontou o fato de usuários de banheiros públicos usarem os locais para marcar ou mesmo realizar encontros sexuais. Assinada por Sérgio Teixeira, a matéria destacou que as relações são procuradas tanto por heterossexuais como por homossexuais, mas que acontecem principalmente em banheiros masculinos.
No dia 14 de dezembro, abordei neste espaço o assunto pegação (prática sexual anônima entre gays) ao falar da atuação do chamado Maníaco do Arco-íris em Carapicuíba-SP. Questionei a utilização dos locais públicos, a criação de espaços específicos e a falta de discussão sobre lugares dignos. Aproveito a notícia para voltar ao assunto e tentar ampliar um pouco mais os questionamentos.
Estes banheiros são locais utilizados por gays? Sim, alguns homossexuais masculinos usam estes lugares para marcar encontros ou transar. Mas o fato é bem mais complexo. No mesmo espaço estão heterossexuais, bissexuais e mais o quê?!
É preciso sair do superficial. Estes locais são frequentados também por indivíduos que não querem comprometer sua imagem na sociedade. Neles, o cara casado que quer ter uma “aventura” com outro homem pode dar vazão à sua fantasia sem se expor em locais conhecidos como espaços gays.
Mais que isso, lugares como este mostram que hétero, homo ou bissexualidade acabam sendo apenas rótulos mesmo.
Local semelhante são os chamados “cinemões”. Cinemas geralmente antigos em grandes centros urbanos que exibem filmes pornôs e são utilizados para a prática sexual anônima.
Por que estes espaços existem? É possível acabar com eles? Eles atendem às necessidades de um público bastante heterogêneo (de várias classes sociais e níveis culturais) e não menos populoso (desconheço números oficiais). A ocorrência dos cinemões, por exemplo, é verificada ao redor do mundo: Nova York, Paris, Londres... Bauru. E cobrar entrada no banheiro do Metrô em São Paulo serviu apenas para tirar da parada quem não pode pagar.
Fato curioso é que estes espaços teoricamente de marginalidade e transgressão são discriminados pela “cultura gay”, burguesa e elitista. Não dá para defender a destruição pública refletida nos banheiros quebrados, mas também não dá para ignorar o desrespeito pessoal na falta de aceitação de nossas vontades.

Em extinção




Recentemente, um amazonense lançou um livro curioso e, até bem pouco tempo, inusitado. Com o nome de “Alô, Doçura – Os protocolos secretos da AMOAL”, o autor afirma que o “homem heterossexual está em extinção”. Politicamente incorreto, ele clama a resistência masculina para se defender dos “homossexuais, dos tribufus e das mocréias”.
Ocó (homem) deste tipo, preconceituoso e chauvinista, é melhor se extinguir mesmo. Chupa essa manga. A sigla AMOAL do subtítulo tem um sugestivo significado: Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebres. O tal Simão Pessoa também é autor do “Manual do Canalha” e do “Manual do Espada”. E de antigo não quer ter nada, atualizando a figura do machista.
O cara diz que homossexuais, lésbicas e feministas – “todas estas coisas que tentam atrapalhar a relação homem-mulher” – são inimigos. O livro seria um protesto contra a sociedade “comum de dois gêneros” que a mídia faz com que todos acreditem.
A idéia parece absurda, mas se há quem a defenda, deve haver outros que concordam.
A humanidade tem sido cíclica na aceitação de alguns temas e a homossexualidade é um deles. Não é preciso voltar na antiguidade para constatar avanços e recuos nesta área. Acredito que o momento atual tem sido um dos mais propícios para discussão franca desta e de outras formas de expressão da sexualidade.
O que me preocupa é que haja uma movimentação retrógrada. Entendo que a luta das mulheres por espaço digno em nossa sociedade esteja intimamente ligada a dos homossexuais. E as movimentações antiquadas nascem assim, pelas bordas. O preconceito hoje tem este caráter velado.
É uma fala inocente numa novela sobre o fato de que o homem está em extinção e quem “tem” o seu que cuide dele. São mulheres que se autodenominam modernas e independentes, mas – confusas no papel que desempenham – buscam ainda o provedor.
O homem prepotente e egoísta. Aquele que não é cavalheiro, sem educação e cultura. O que não vive os próprios sentimentos e emoções. Este sim deve ser extinto.
O olhar masculino diante da vida. A garra, a força, a praticidade e a energia voltada para a ação, características relacionadas historicamente ao homem, continuam bem-vindas. Assim como o heterossexual, ou seja, o homem que verdadeiramente respeita e ama uma mulher.
Pessoal, deixa de ser Alice (homossexual tolo)!

Educação


Livros didáticos distribuídos em escolas públicas ignoram a homossexualidade ou se referem incorretamente ao tema, segundo pesquisa finalizada recentemente pela Ong Anis (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero) e a Universidade de Brasília (UnB). Foram reunidos, nos últimos dois anos, 61 livros distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC) para o Ensino Fundamental e Médio. Um dicionário analisado usa as expressões “veado” e “pederasta” para definir o verbete gay.
Projeto de lei que tramita na Assembléia Legislativa de São Paulo prevê educação sexual no ensino público. A votação está programada para o início do ano legislativo. Experiência adotada em escola estadual da zona sul da capital trouxe bons resultados. Depois que o tema "contracepção" foi inserido na unidade, os casos de gestação precoce caíram em 80%.O tema envolve vários tópicos discutíveis. Desde o próprio termo “educação sexual”, passando pela idade ideal para se iniciar a abordagem do assunto, até quem estaria habilitado para isso. Mas acima de tudo, o importante é esclarecer, informar, pois o desconhecimento, o não dito ou o mal dito, gera fantasias, angústias e distorções como as dos livros didáticos citados acima.
A expressão "educação sexual" já teria caído em desuso. O termo aceito agora seria “orientação sexual”. Esta última, envolve o fornecimento de informações sobre sexualidade e a organização de um espaço de reflexões e questionamentos sobre posturas, tabus, crenças e valores a respeito de relacionamentos e comportamentos sexuais.
Abrange o desenvolvimento sexual compreendido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, auto-estima e relações de gênero. Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais da sexualidade.
É instrumento preventivo da gravidez precoce, da Aids, do aborto e das DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).
Idade ideal para a orientação sexual? Segundo profissionais da Psicologia e Biologia, desde sempre. A idade ideal é aquela que tem a chamada demanda, quando a criança solicita. Classe, recreio, educação física. Todos são espaços de intervenção. Em casa também, desde que a criança solicite e restringindo-se ao que ela está questionando. A escola complementa o que é iniciado no lar, supre lacunas, combate preconceitos e revê conceitos destorcidos.
O profissional mais indicado é, sem dúvida, o psicólogo com sólida formação na área biológica. Por ser um tema complexo e exigir sobretudo confiança, pode ser também um professor que tenha preparo teórico e desperte vínculos e confiança em seus alunos.
O importante é promover o bem-estar sexual, a partir de valores baseados nos direitos humanos e relacionamentos de igualdade e respeito entre as pessoas. Liga o pisca alerta, pessoal. Acorda!

Apresentando o parceiro

Se alguém chegou a ponto de se preocupar com a apresentação de seu parceiro (ou parceira) numa relação homossexual para família e amigos, é porque provavelmente muita coisa já tenha rolado, tanto na própria relação quanto individualmente.
A apresentação neste caso geralmente envolve um certo amadurecimento da vida do casal. Senão pode ser loucura expor algo que não é forte o bastante para enfrentar possíveis ações contrárias.
Também envolve um certo amadurecimento pessoal. Apresentar alguém é concretizar aquela homossexualidade que até então pode estar apenas nas palavras. Oportunidade de mostrar que a sua sexualidade é vivida de maneira séria.
O fato pode ser fonte de dissabores ou de muitas alegrias, como em qualquer relação – hétero, por exemplo. Sua mãe ou pai pode não se dar bem com ele (ou ela) e a vida de todos pode se tornar um inferno. Ou então seus pais vão se afeiçoar tanto a ele (ou ela) que, se um dia você vier a terminar o relacionamento, eles vão recriminar você o resto dos dias.
Uma das principais preocupações dos pais é que seus filhos encontrem felicidade no relacionamento amoroso. No caso de pais de homossexuais, esta esperança às vezes parece remota, especialmente para aqueles que tenham tido acesso apenas a mitos e informações deturpadas a respeito da vida gay. Os pais se sentem bem com boas notícias nesta área. Querem que seus filhos experimentem os benefícios emocionais de um compromisso firme e maduro. E isso acontece. Homens e mulheres homossexuais se apaixonam e vivem felizes da mesma forma que casais tradicionais.
É possível encontrar alguém que preencha as necessidades de companhia, de apoio, carinho e compreensão. Muitas relações homossexuais duram uma vida inteira; outras têm seu propósito durante um período, os dois crescem de forma independente e – depois de um tempo – decidem romper.
Como tudo na vida, espaço nesta área também exige conquista. A família e os amigos vão conhecendo a pessoa e, aos poucos, adquirem confiança e passam a amá-la. Pais que estão bem ambientados com o estilo de vida dos filhos, frequentemente entendem os benefícios de partilhar suas vidas com uma outra pessoa e abençoam o relacionamento, aceitando o companheiro (a). E esta benção, por sua vez, ajuda na estabilidade da relação. Tá meu bem?!

domingo, 18 de janeiro de 2009

O estigma das drogas

São dois os principais estigmas – sinais, marcas – a que a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) está submetida. O da promiscuidade e o do uso de drogas. Sobre a promiscuidade já tivemos a oportunidade de falar um pouco. Hoje, gostaria de abordar a relação entre gays e drogas.
Pesquisa recente desenvolvida pela Universidade de Pittsburg sobre esta relação aponta números alarmantes. Jovens gays, lésbicas e bissexuais estão 190% mais propensos a usarem substâncias ilícitas do que os jovens heterossexuais da mesma idade. Entre os bissexuais, o número sobe para 340%, e entre as jovens lésbicas, para 400%.
Um atenuante é o fato de drogas lícitas, como tabaco e álcool, terem sido consideradas no estudo. Mas, mesmo assim, os números são de deixar qualquer um “bege” ou chocado (sem ignorar os que defendem o uso de drogas).
A homofobia e a discriminação são apontadas como responsáveis pelo uso das substâncias pelos jovens estudados. Além de tabaco e álcool, estão incluídas maconha, cocaína, anfetamina e drogas injetáveis. Os responsáveis pela pesquisa entendem que, historicamente, grupos marginalizados ou oprimidos, sem as mesmas oportunidades ou direitos, sofrem intensamente.
Os números apresentados na pesquisa foram obtidos através do cruzamento de 18 estudos realizados entre 1994 e 2006 com organizações de apoio a jovens gays e usuários de drogas.
Quase tudo que envolve os gays parece questionável. Talvez porque realmente o mundo seja visto de várias formas por diferentes pessoas. Nada é definitivo e alguns assuntos polêmicos são escancarados neste meio. Vejamos.
As raves e clubes eletrônicos parecem tomados de gays cheios de bala na cabeça, mas muitos homossexuais não usam nenhum tipo de droga, nem as lícitas.
Um fato importante para tentar esclarecer tudo isso é que no surgimento da Aids, os os grupos em que o vírus HIV se disseminou mais rapidamente foram os gays e os viciados em drogas injetáveis. Com o tempo, este quadro mudou, mas novamente as estatísticas mostram que os gays e os usuários de drogas apresentam um crescimento vertiginoso de novas infecções.
As drogas muitas vezes fazem parte de um ritual de auto-afirmação, que compensa limitações e potencializa prazeres. Sob o fascínio das luzes e das sirenes nas boates, gays se jogam em fantasias e se arriscam em cena. Deixe de ser “lesado”. Se liga!

Turismo gay: destinos e cuidados


Janeiro é mês de férias para muita gente. Nada melhor do que falarmos a respeito de alguns destinos e de alguns cuidados a serem tomados nas viagens.
Se for viajar pelo Brasil, três são os destinos mais solicitados pelo público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) gastar seu “pink money”: São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.
Conhecer São Paulo é ter a oportunidade de desfrutar de uma vida noturna fervidíssima e agregar a isso arte, culinária e compras. São casas noturnas, bares e cinemas, entre outros estabelecimentos voltados para o público gay. Para quem esta sozinho ou acompanhado, prefere o dia ou a noite.
O Rio de Janeiro, “Cidade Maravilhosa”, continua sendo a alegria de turistas do mundo todo, em especial do turista LGBT. Praias deslumbrantes, arquitetura, rico acervo cultural e histórico e uma infinidade de estabelecimentos gays, entre saunas, bares e boates. O principal point continua sendo Ipanema, para ver e ser visto.
Floripa é o destino certo para encontrar as “bonitas”. Cercada por praias, dunas, fortes e palácios, a capital catarinense oferece uma variedade de opções para se divertir, também tanto de dia quanto de noite. Destaque para as praias Mole (a mais freqüentada por gays) e ao seu lado Galhetas (praia de nudismo).
Este ano, acontece o primeiro cruzeiro gay brasileiro. Será em fevereiro e irá de Santos a Florianópolis. Uma festa em alto mar para quase 2 mil pessoas.
Aqueles que optarem pelo exterior, têm ótimos destinos tanto mais longe, inclusive em outros continentes, quanto aqui perto, na América do Sul mesmo.
Buenos Aires (Argentina) é uma cidade de padrão europeu que oferece cultura, lazer e muita ferveção. Temos também Santiago (Chile) e Punta del Este (Uruguai).
Na América do Norte, a dica é São Francisco (EUA), centro do movimento pelos direitos homossexuais. Animadíssima cidade da Califórnia, conhecida por sua vida cultural intensa, é destino livre de preconceitos.
E no Velho Continente, a “Cidade Luz” Paris, com boa cozinha, muita cultura e moda. O bairro de Marais, no centro, tem a maior concentração de estabelecimentos voltados para o público LGBT.
Seja qual for a escolha, o importante é sempre procurar se certificar de fatos e de eventos. Confirmar cada informação pelo menos três vezes. É comum alguém dizer que um lugar “X” fica a um quilômetro para a direita, quando na verdade está a uma quadra à esquerda. Ao aventurar-se, tome cuidado. Preste muita atenção nos comportamentos dos habitantes locais. Cautela não faz mal a ninguém. E se joga, gente!
* Foto da cidade do Rio de Janeiro.

Um breve balanço

2008 chega ao fim e o momento é propício para refletirmos sobre os fatos do ano. Prefiro destacar os bons acontecimentos. Não que seja fácil, nem que dê certo todas as vezes.
Principalmente neste espaço, que vejo como extremamente positivo, quero salientar as coisas legais. Já são quatro meses de coluna “G, L e o quê?!”, este cantinho pioneiro na região que tem a pretensão de falar mais diretamente aos integrantes da comunidade gay, mas não se contenta só com isso e quer envolver todo mundo nas reflexões.
Mas vamos a alguns fatos que abalaram a cena, seja nas capitais ou aqui mais pertinho da gente. Há quem fale em momento histórico para o movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) no Brasil. Durante conferência em Brasília, no mês de junho, um presidente pela primeira vez levantou a bandeira do arco-íris. No caso Lula, abrindo a 1ª Conferência Nacional GLBT e defendendo o combate ao preconceito.
No país com mais paradas gays (cerca de 100) e com o maior destes eventos no mundo (se São Paulo não for a maior, está entre as maiores), este é um capítulo à parte. A Parada Gay paulistana reuniu em maio deste ano 3,5 milhões de pessoas, que gritaram “Homofobia Mata – Por um Estado laico de fato!”, pedindo a aprovação do projeto de lei que criminaliza qualquer tipo de discriminação quanto à orientação sexual dos indivíduos.
Próximo à nossa região, Rio Preto sediou em julho o “I Fórum do Noroeste Paulista para Homossexuais Masculinos e Femininos”, com a presença de aproximadamente 200 pessoas, discutindo Direitos Humanos e Homossexualidade. O evento integrou-se à 8ª Parada GLSBT de Rio Preto “Um mundo, um sonho: sem fronteiras, sem discriminação e sem homofobia”, que reuniu 13 mil, com diversas caravanas de cidades vizinhas.
É o arco-íris além das grandes cidades, que também brilhou em Bauru e sua primeira “Parada pela Diversidade”, em setembro, com aproximadamente 5 mil pessoas.
Na área jurídica, a decisão de maior importância foi a proferida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), reconhecendo, em votação apertada, que as uniões homoafetivas devem ser julgadas em varas de família. Alguns companheiros conseguiram o direito de receber pensão decorrente de falecimento. Casais puderam partilhar seus bens em razão de rompimento da relação.
No Estado de São Paulo, a Lei nº. 10948/2001 vem sendo cada vez mais utilizada, aplicando-se penas àqueles que praticam atos homofóbicos. Nossos julgadores estão mais habituados a proferir decisões favoráveis ao segmento, na medida em que recebem mais e mais processos envolvendo a busca pelos direitos à dignidade e igualdade.
Para finalizar, gostaria de destacar também a abordagem do tema preconceito contra homossexuais na novela A Favorita (Rede Globo). A força da novela brasileira a favor da mudança de comportamento. Uma exposição respeitosa e responsável do assunto pelo autor João Emanuel Carneiro.
É isso aí pessoal. Que em 2009 tenhamos muito mais a comemorar. Xô urucas. Que o próximo ano seja tudo de bom, seja de arrasar para todos nós: G, L, B, T, S e tantos mais!

* Material escrito em 23.12.08.

Gays e mercado de trabalho


Mais difícil que assumir a homossexualidade para os pais talvez seja sair do armário no trabalho. Afinal, é neste ambiente que garantimos nossa subsistência e ninguém quer correr riscos de perder o emprego ou perder oportunidades de crescimento dentro da empresa.
Mas homossexualidade é motivo para demissão? Já foi bem mais, mas ainda é, infelizmente. Mesmo com toda a cultura do politicamente incorreto estabelecida em nossa sociedade. O que diferencia um profissional homossexual de um heterossexual? Não há diferença.
É claro que cada caso é um caso, como quase tudo na vida. Entre as diversas profissões, existem as mais conservadoras e as mais liberais. Existem aquelas que são taxadas de profissões de gays (e coitados dos héteros que as escolhem também). Outras são insuspeitas, mas estão cheias de gays praticando.
O governo desenvolve políticas e apóia ações que promovam a igualdade de direitos e combatam a discriminação contra segmentos historicamente vulneráveis como mulheres, negros, portadores de deficiência, idosos e homossexuais, entre outros. Mas as dificuldades continuam.
Algumas notícias no mundo corporativo são bastante positivas. Cada vez mais, grandes empresas investem na diversidade como estratégia de negócios. Apenas para citar uma importante, a IBM teve seu primeiro grupo voltado para o segmento criado em 1995. A companhia vende por ano US$ 500 milhões no mundo em produtos e serviços para mulheres, minorias e clientes LGBT. A opção sexual, em casos como este, pode até se tornar um ativo na hora de pleitear um cargo.
Quando uma empresa aceita as pessoas como elas são, quem está confortável dentro da companhia trabalha melhor e a fuga de talentos é menor.
Mas mais importante que isso é verificar o quanto a sexualidade pode interferir na escolha da profissão direta ou indiretamente e pode afetar a realização no trabalho. Alguém pode ter escolhido ser médico porque só assim conseguiu o reconhecimento e o respeito que julgava não ter em razão de sua orientação sexual. É preciso resgatar a auto-estima e usá-la da melhor maneira tanto fora quanto dentro do trabalho.
Mesmo com todas as dificuldades e obstáculos, é importante que os gays tenham o direito de viver suas vidas livremente e a liberdade de escolher sua profissão. E que ninguém seja gongado (derrubado)!